Tribuna – A volta da ameaça nuclear iraniana

“A volta da ameaça nuclear iraniana
Floriano Pesaro, sociólogo.


Enquanto os olhos do mundo continuam voltados à recuperação econômica e às preocupações com novas variantes do coronavírus, há um perigo à espreita que tem chamado atenção, especialmente, da nossa comunidade israelense, sempre atenta à segurança nacional.


O acordo – feito entre o Irã, os EUA e as grandes potências europeias – que visava a contenção do altamente suspeito programa nuclear iraniano fez água com a saída norte-americana do contento em 2015 e, desde então, o Irã vem aproveitando o hiato diplomático para avançar na tecnologia que ameaça Israel e o mundo.


O alerta veio em uma entrevista do ex-chefe do setor de inteligência da IDF (Israel Defense Forces, ou Forças Israelenses de Defesa), Amos Yadlin, que apontou que, no meio tempo diplomático – desde que os EUA deixaram o acordo nuclear em 2015 sob a administração Trump, o governo iraniano tornou a produção nuclear em suas plantas mais eficiente, de modo que o retorno às condições postas pelas potências europeias e pelos americanos anteriormente já não seriam suficientes. Yadlin foi mais à diante e afirmou que talvez não seja mais possível conter o desenvolvimento nuclear iraniano, já que “conhecimento não se destrói”.


O alerta do antigo responsável por um dos setores de inteligência militar mais capacitados do mundo fez coro a relatos públicos das últimas semanas de diplomatas europeus e americanos sobre a postura do Irã nas negociações para a retomada do acordo e o alívio, especialmente, das sanções americanas sobre o governo iraniano.


O que tem se percebido no ambiente diplomático é que o Irã emerge com uma postura demasiadamente inflexível exigindo que os americanos levantem todas as sanções antes que os iranianos atendam a quaisquer pedidos de revisão de seu programa nuclear – sobre o qual continuam a alegar ter fins pacíficos, da mesma forma que alegam não apoiar grupos terroristas contrários à existência de Israel. Ambas alegações sabidamente falsas pelos militares da inteligência israelense.


Essa postura, ainda de acordo com Yadlin, é fruto do processo de aprendizado e melhoria da efetividade da produção nuclear iraniana que pode, inclusive, já ter chegado a um nível de tecnologia capaz de fabricar uma bomba nuclear em suas centrífugas nucleares mesmo sob as condições de operação impostas no acordo nuclear que se findou em 2015.


As preocupações são reais e, pelo menos por enquanto, não ganharam a atenção devida na mídia internacional, mas devem acontecer já que, apesar das pesadas sanções da comunidade internacional, o Irã parece arredio sobre qualquer revisão em seu programa nuclear. O que pode ser um blefe, pode também ser uma sinalização de que o Irã já não pretende mais negociar nesse campo.


Nesse sentido, o atual ministro da Defesa israelense, Benny Gantz, disse que pode estar chegando o momento em que Israel não tenha outra alternativa senão agir – por óbvio, o comandante da IDF se refere à atuação militar. Não seria estranho se a extremamente capacitada e moderna inteligência de Israel já soubesse a localização das plantas nucleares estratégicas iranianas e pudessem neutralizá-las, mas sabe-se que a pressão internacional sobre uma ação unilateral sempre é pesada e tende à reprovação, ainda mais quando preventiva.


Ocorre que, assim como ponderou o ministro Gantz na mídia recentemente, o Estado de Israel não é obrigado a coordenar sua autodefesa com nenhuma parte do mundo.

Até porque, sabemos nós todos, que, no final do dia, quem faz fronteira com plantas nucleares potencialmente ativas e capazes de um potencial destrutivo avassalador é Israel e que, provavelmente, nenhuma das grandes potências envolvidas nas negociações teria a paciência e o zelo pela diplomacia que os israelenses estão tendo nos últimos anos, caso fossem eles a estarem sentados num barril de pólvora ameaçando seus territórios e suas sociedades.
Torcemos, portanto, pela saída diplomática o quanto antes que, sempre foi e sempre será, o melhor caminho para a paz.”


Chanucá e a esperança – Hebraica

Floriano Pesaro, sociólogo

Essa edição da Revista do Clube Hebraica vem repleta de referências ao Chanucá e não poderia haver momento mais propício para lembrarmos os significados dessa época do ano do que agora – momento em que a retomada de nossas vidas demanda muita coragem, luz e esperança.

É preciso, antes de tudo, rememorarmos brevemente a história de Chanucá e porque esse marco no calendário judaico é tão fundamental na renovação de nossas esperanças. Quando viviam como um povo autônomo na terra de Israel, os judeus praticavam livremente sua religião e sua cultura em torno do Templo Sagrado de Jerusalém e, a partir da contribuição em impostos ao reino Selêucida, mantinham suas terras afastadas do domínio de raízes gregas.

No entanto, o tiranismo – que nunca tarda a aparecer – se mostrou na pessoa do rei Antíoco, que viu na comunidade judaica um povo que oferecia resistência ao seu pretendido domínio absoluto na região. Desse modo, com um poderoso exército, o rei selêucida invadiu a Judeia e profanou o Templo Sagrado com sacrifícios impuros e com a proibição da leitura da Torá. Apesar de haver registros de judeus, à época, que se converteram perante à ameaça – conhecidos como “helenizantes”, houve um grupo que lutou bravamente e derrotou o exército selêucida. Judeus camponeses, despidos de riquezas, mas cheios de fé e coragem, foram liderados por Yehudá e seus quatro irmãos e libertaram a terra sagrada.

Yehudá, então, ficou conhecido como Macabeu, de martelo, que denotou o nome pelo qual esse grupo de judeus guerreiros ficou conhecido, os Macabeus. Após a vitória sobre a tentativa de apagamento da nossa cultura e da nossa religião pelos selêucidas, o Templo Sagrado foi reconquistado e purificado com o acendimento da Chanukia – o nosso candelabro de nove braços, onde oito deles são acesos com as luzes de Chanucá.

A luz de Chanucá pode significar, portanto, coragem, sabedoria, fé e, ainda mais, esperança frente à tirania. Nada pode segurar ou retardar a presença da luz sobre a escuridão, a ignorância e a violência. Nossa história como povo é testemunha disso.

Há, também, o aspecto fundamental da fé na história de Chanucá que nunca nos deve passar desapercebido: lembremo-nos que, no Templo Sagrado, os Macabeus não dispunham de óleo suficiente para os oito dias de acendimento das velas, no entanto, assim elas se fizeram. Aquele óleo envolto de fé e esperança fez com que as luzes ali perdurassem pelo tempo necessário para a purificação do Templo.

A luz de Chanucá, como todos os aprendizados da Torá, tem, como obra de D’us, seu significado contemporâneo: a luz da ciência, da solidariedade, da racionalidade e da esperança sobre todas e todos. O quão importante foram essas qualidades nesses últimos anos de provações e desafios que tivemos – e ainda teremos que enfrentar.

Em épocas desafiadoras, nossos rabinos sempre nos orientam a buscarmos inspiração e luz nas palavras da Torá, nos ensinamentos de D’us e na história do nosso povo, no caso de Chanucá, não poderia ser diferente.

Que a luz da Chanukia, em cada canto de nossa cidade e aqui em nosso amado clube,  possa iluminar cada um dos lares de nossos associados e seus familiares, levando esperança e bondade às mentes e aos corações afastando a ignorância e a escuridão que, certamente, serão parte de um passado deixado para trás com coragem e fé.

Tribuna – A luz dos milagres de Chanucá

Floriano Pesaro, sociólogo.

Chegamos à época que celebramos os milagres de Chanucá onde acendemos luzes e lembramos que Macabeus fizeram o mesmo no Templo Sagrado, mas temerosos se haveria suficiente óleo para os oito dias sagrados. Fez-se, então, o milagre, aquilo que nosso povo tanto acredita. Passados tempos desafiadores, as luzes de Chanucá se mostram, como sempre fizeram, resilientes e nos acompanham até esse milagre que é estarmos vivos e em união em mais uma oportunidade.

Tempos desafiadores sempre foram costumeiros ao nosso povo. Nunca fugimos a eles e nem eles nunca se fizeram ausentes, mas nunca nos dispusemos da incerteza e do medo perante os inimigos de nossa história, dos nossos costumes e da nossa crença.

Essa data do nosso calendário nos lembra que a coragem e a audácia que nos fizeram resistir e vencer provações babilônicas, romanas, gregas, egípcias e soviéticas se baseiam na crença que temos nos milagres de D’us. Baruch HaShem. Na crença de que nunca devemos abandonar nossos costumes, nossa religião e nosso D’us, mesmo quando os desafios parecerem impossíveis, desamparados não seremos.

É nesse momento de dificuldade que aquela quantidade ínfima de óleo que, a olhos nus, mal seria suficiente para um dia de luz, ao se deparar com tamanha devoção aos ditos da Torá, faz gerar a luz da esperança e da transformação por longos oito dias dando força para a vitória do nosso povo sobre todas as opressões.

Esses dias de Chanucá para muitos de nós, que vivemos no Brasil, terão um significado especial ao se fazerem como a primeira oportunidade, desde que o afastamento nos colocou distante dos nossos entes amados, para que acendamos as velas e tragamos luz ao lado, principalmente, daqueles mais idosos que tanto venceram com suas crenças milagrosas.

Nesses oito dias, assim como os Macabeus, nós celebraremos a vitória sobre as forças que tentaram nos impedir de celebrar nossa fé e nossa cultura em sua totalidade ao lado de quem amamos.

Isso porque, na época da retomada e da purificação do Templo Sagrado, tem-se que os oito dias dedicados a acender a chanukiyá são, na verdade, em alusão aos oito dias de Sucot que os macabeus não puderam celebrar em virtude da guerra pela sua liberdade.

Nós também estamos vencendo a guerra contra esse inimigo que tentou nos dizimar e nos separar. Como todos os outros, ele não foi bem sucedido e nosso povo continua com sua altivez pronto para acender as luzes da esperança que abrem caminhos para os milagres com os quais nossas vidas são agraciadas de tantas e diversas formas.

Que não nos esqueçamos nesse momento tão especial da importância dos atos individuais e coletivos, por menores que possam parecer, ainda mais em momentos de turbulência e incertezas como os que vivemos.

A vitória sobre os gregos que marcou o milagre de Chanucá, devemos lembrar, não teve início a partir de uma grande mobilização, mas a partir do inconformismo de Matatias e de seus cinco filhos – João, Simão, Eliézer, Jonatas e Judas (Yehudá) – com a tentativa de se “helenizar” nossa cultura, violar o Templo Sagrado e proibir a Torá.

O milagre se faz, portanto, com a crença absoluta em D’us, mas, também, calçado na dimensionalidade dos efeitos da vontade e da disposição individuais e coletivas que, por menores que pareçam ser, tem impactos transformadores e surpreendentes como a resiliência das luzes de Chanucá.”

Hadera e o protagonismo das crianças – Hebraica

Floriano Pesaro, sociólogo.

“Na última edição da revista da Hebraica, falamos nesse espaço sobre a importância da primeira infância e do pleno desenvolvimento da criança junto à comunidade e à família.

Felizmente, o Brasil tomou para si essa agenda desde a sanção do Marco Legal da Primeira Infância e vem se aprimorando, apesar da desafiadora e crescente pobreza, com políticas públicas e com a mobilização da sociedade civil pelo desenvolvimento integral das crianças em seus primeiros anos de vida.

Nesse sentido, um dos mais importantes aspectos é a relação da criança com sua comunidade e uma escola israelense tem o que nos ensinar sobre isso.

Já se sabe hoje, a partir de uma série de estudos concentrados no Center on the Devolping Child da Harvard University sob direção do professor M.D. Jack P. Shonkoff, que a ativação das atividades neurais a partir de impulsos positivos em crianças nos primeiros anos tem como resultado a pavimentação de caminhos cerebrais que podem levar ao desenvolvimento de características positivas por toda a vida, como a empatia e a melhor cognição.

Uma vez que estamos à frente desse avanço tecnológico e das ferramentas que possibilitam, a partir da cultura do cuidado e dos estímulos que pavimentam a arquitetura cerebral, mudar o rumo de vida de milhões de crianças, seria natural pensarmos que o desenvolvimento infantil nas escolas seria encarado para além da educação formal, mas essa ainda não é a realidade.

Hoje a vasta maioria das escolas brasileiras enfrentam a mais ampla diversidade de desafios, ainda mais quando são estabelecimentos públicos, que vão desde a falta de relacionamento com a comunidade do entorno escolar, passando pela baixa qualificação e remuneração dos professores e chegando, até, na falha ao proporcionar segurança física e alimentar para os estudantes.

Dentre elas, está, também, a percepção do aluno apenas como receptáculo do aprendizado formal sem vê-lo como um jovem ator social com desejos, experiências pessoais e poder de decisão, tal qual sua família e comunidade, que está ávido para, a partir de estímulos, desenhar novos caminhos neurais que lhe renderão habilidades positivas que o acompanharão por toda a vida.

É pensando nisso que trago o exemplo da Escola Democrática de Hadera, que fica na gloriosa Haifa, em Israel. Constituída a partir do conceito da liberdade enquanto elemento pedagógico estruturante de todo o processo educacional, a escola fundada por Yaacov Hecht concebe a educação enquanto um processo em que o aluno se sinta capaz e se veja no alcance de seus objetivos.

Tudo isso com ampla participação democrática dos alunos, da família e da comunidade nas decisões escolares.

Criada em 1987 e tendo sido posteriormente incorporada ao sistema escolar oficial de Israel, a Escola de Hadera nasceu antes dos estudos sobre a importância dos estímulos neurais que baseia a teoria da Primeira Infância, no entanto, visionária, possui uma série de sinergias com o desenvolvimento pleno infantil ao permitir que as crianças se vejam em situações em que suas opiniões são levadas em consideração e seus desejos e aptidões moldam seu processo de aprendizagem.

Cada vez mais, educadores têm convergido para a defesa de uma educação formal que seja flexível e moldável a partir das escolhas e da vivência dos estudantes – o que atingiu o ápice com a aprovação da nova Base Nacional Comum Curricular (BNCC) – mas, que ainda não é comum quando se trata da educação infantil.

É verdade que temos bons exemplos no Brasil de instituições de ensino que encaram seus alunos como atores sociais e, assim, lhes proporcionam experiências transformadoras para toda uma vida. Um desses exemplos ocorre aqui mesmo na Escola Alef Peretz, que, no nono ano, leva os alunos para conhecerem diferentes lugares pelo país que despertam experiências únicas.

Lembro que em 2019, os alunos visitaram Brasília e tomaram conhecimento da dimensão do impacto prático das políticas sociais do Ministério da Cidadania – responsável pelo tema da Assistência Social e, também, da Primeira Infância.

Portanto, imbuídos do espírito da Escola Democrática de Hadera, estabelecida na terra do conhecimento israelense, Haifa, é primordial que coloquemos na agenda pública nacional com cada vez mais ênfase a busca por políticas públicas educacionais que mirem o desenvolvimento humano, tão necessário quanto o conhecimento formal para que nossas crianças sejam bem sucedidas nas novas e complexas relações que se formam no mundo atual.”

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Hebraica – O futuro no presente

“O futuro no presente
Floriano Pesaro, sociólogo.

Neste mês comemoramos uma das datas mais divertidas e regozijantes de todo o ano, ainda mais para quem tem uma pequena ou pequeno em casa: o dia das crianças. Em meio às brincadeiras e aos momentos prazerosos que só elas podem nos propiciar, sempre nos vem à cabeça o que podemos fazer para que tenham um futuro tão bom, ou melhor, do que o nosso, não é mesmo? Pensamos em muita coisa, mas é incomum percebermos que o futuro começa no presente.

Pensamos na escola que pode propiciar o melhor ensino, nos cursos que podem prepará-los e qualificá-los para um ambiente cada vez mais competitivo e, também, em prestar-lhes a melhor estrutura para que se desenvolvam e sejam felizes com segurança. Mas, afinal, se tanto preparo para o futuro começa agora, é verdade também que a criança não está aguardando o final do ensino regular para se tornar a pessoa que tanto desejamos.

A evolução cognitiva e emocional da criança é um processo e se inicia desde seus primeiros dias no que chamamos de primeira infância. Esse é um ramo de estudo da ciência, muito desenvolvido nos Estados Unidos, que se dedica a avaliar os efeitos do ambiente no desenvolvimento cognitivo e emocional das crianças entre os 0 e 6 anos.

Hoje um dos maiores centros de estudo desse tema é a Universidade de Harvard, que presta um curso de liderança executiva em primeira infância, em parceria com a Fundação Maria Cecília Souto Vidigal, o qual tive a honra de participar e escrever um livro como conclusão dos meus estudos. O que os cientistas descobriram durante décadas de estudos é que os primeiros seis anos de vida de uma criança são os mais importantes para o desenvolvimento dela enquanto cidadã e indivíduo parte de uma comunidade.

Há, inclusive, aqueles que vão além – sempre ancorados nos estudos sobre os quais sugiro à leitora e ao leitor buscarem na rede mundial de computadores com referência ao professor Jack Shonkoff e aos Center for Developing Child/David Rockefeller Center da Universidade de Harvard – e dizem que as experiências, boas e ruins, vividas pelas crianças nessa etapa da vida são delineadoras de como elas desenvolverão suas habilidades cognitivas, características emocionais e seu modo de lidar com o mundo a sua volta.

Cada uma dessas experiências gera um impulso elétrico no cérebro das crianças de modo que, nessa faixa etária, acabam delineando as reações emocionais e os processos cognitivos que tendem a nos acompanhar no restante da vida. E quando falamos de experiências, estamos nos referindo a todas elas: um abraço, os diversos estímulos gerados a partir de brincadeiras, o sorriso e até o “olho no olho”.

Faça você mesmo o teste: olhe bem no olho de alguém, mesmo que seja próximo a você. Te traz algumas sensações? Desconforto ou calma? Tudo isso traduz, segundo essa linha de estudos, como nos relacionamos com o mundo a nossa volta a partir de nossas primeiras experiências.

Há experiências, no entanto, que são mais complexas e recebem pouca, ou nenhuma atenção, dos governos e da sociedade civil, mas que tem um impacto relevante no desenvolvimento das crianças, como a estrutura urbanística das nossas cidades, dos nossos prédios e – por que não? – do nosso clube.

Nesse sentido, a Fundação Bernard Van Leer, criada para desenvolver a política da primeira infância em vários países do mundo, teve uma experiência inspiradora com a Prefeitura de Tel Aviv no âmbito do projeto “Urban95”. A ideia, como toda boa ideia, é simples: tornar as cidades, e o modo de pensar os espaços urbanos, adequados para pessoas de até 0,95 cm de altura – que sejam nossas crianças na média dos seus 3 anos de idade.

A partir de viagens e do compartilhamento da expertise da Van Leer e da Universidade de Harvard, os gestores públicos de Tel Aviv puderem reconhecer que nos detalhes da arquitetura urbana estavam oportunidades únicas para propiciarem o desenvolvimento infantil.

Veja: se parques urbanos tivessem um espaço, como os de pique nique, mas pensados para que pais e filhos pudessem compartilhar momentos de proximidade e desenvolverem atividades divertidas em segurança, essa seria uma boa opção aos finais de semana para as famílias, o que desencadearia num hábito positivo para o desenvolvimento cognitivo e emocional daquelas crianças – que outrora, poderiam estar passeando nos impávidos corredores de centros comerciais.

Isso que foi feito em Tel Aviv e que pode ser feito em qualquer outra cidade, como São Paulo, ou em qualquer espaço público e privado. Como faz nossa Hebraica com seus recentes espaços voltados à interação social, como o Mitzpé, e ao desenvolvimento cognitivo e emocional infantil, como o Espaço Bebê e a brinquedoteca.

Neste dia das crianças, vamos lembrar que o futuro está no presente. Cuidar bem dos nossos filhos é dar-lhes todas as condições para que cresçam com segurança, saúde e felicidade, mas, também, incentivarmos que vivam, desde já, experiências transformadoras que instiguem sua curiosidade, sua cognição e seu amor e respeito pelo próximo.

Tribuna – A velha inovação que pode envolver Assistência Social e Educação

“A velha inovação que pode envolver Assistência Social e Educação
Floriano Pesaro, sociólogo.

Recentemente, fui convidado a falar sobre inovação em políticas públicas com especial enfoque na Assistência Social e Educação para um grupo de prefeitos e gestores municipais. Haja vista o “apagão” que vivemos hoje em termos de gestão, mas também de financiamento público, soa até estranho abordar o tema da inovação na gestão pública, mas não há que se inventar a roda. Parte da solução é uma antiga inovação, já foi posta em prática no Brasil e é realidade em Israel: integralidade na oferta de serviços públicos.

Quando falamos na mazela da pobreza, normalmente o encaminhamento associado é ora trabalho, ora distribuição de renda. Ocorre que nenhum deles é uma solução em si mesmo para um problema tão complexo, ainda mais na realidade brasileira que ainda perpassa por uma problemática lógica tributária que penaliza os mais pobres na sua renda e no seu consumo.

A pobreza se apresenta como uma miríade de múltiplas vulnerabilidades sociais – e também econômicas, claro – que perpassam os diferentes membros de uma família e se apresentam, também, de forma distinta. É, portanto, de se esperar que não exista uma única fórmula ou política pública que seja eficaz para a redução da pobreza – tão agravada perante nos olhos após a pandemia da Covid-19.E quando, naquele evento, me questionaram sobre alguma inovação que fosse capaz de fazer essa transformação no combate à pobreza, lembrei-me do passado ao invés de colocar-me a inventar novos caminhos. Lembrei-me do Programa “Ação Família: Viver em Comunidade”, que desenvolvi quando estava secretário municipal de Assistência e Desenvolvimento Social da Cidade de São Paulo, e introduzimos no país a ideia da construção de uma agenda da família multidisciplinar que envolvesse as necessidades nas diferentes áreas da vida daquelas pessoas.

Era um esforço das equipes de Assistência Social, mas em constante contato com a equipe local da escola dos estudantes daquelas famílias que reportavam qualquer incidente aparente dentro ou fora dos muros da escola ou, ainda, uma persistente ausência daquele estudante sem razão justificada. Havia não só o cuidado e a proximidade do agente público com aquelas famílias, mas, também, a customização das políticas públicas para as necessidades daqueles cidadãos que os mantinham no ciclo da pobreza. Nesse sentido, a renda e o trabalho eram fundamentais, é claro, mas não resolviam a infinidade de obstáculos interpostos historicamente aqueles cidadãos.

Lembrei-me, também, de um exemplo mais distante, de Israel, mas que merece ser compartilhado pela efetividade com a qual políticas públicas são pensadas de forma inovadora por lá. É o Programa Nacional para Adolescentes e Crianças em Risco do Ministério de Serviços e Assuntos Sociais que consiste na cooperação entre equipes das pastas da Assistência Social, da Educação, da Saúde, da Segurança Pública e da Economia, além do envolvimento do que seriam as prefeituras na organização federativa brasileira.

Essa cooperação almeja a alimentação de um sistema chamado “Town Information Infrastructure” (TMI, em hebraico), que concentra informações sociais, de saúde e de educação das famílias em vulnerabilidade, ou risco, social e compartilha com as demais equipes locais das políticas públicas nos territórios onde vivem.

A ideia é que, por meio de comitês locais e integrados, encontrem-se soluções e ações públicas e privadas que almejam a quebra do ciclo vicioso da pobreza e a superação das condições.

Encerrei minha participação no referido evento lembrando que a sociedade civil tem a obrigação de cobrar políticas públicas inovadoras e eficientes de seus representantes, seja do Executivo ou do Legislativo. Precisamos de uma oxigenação nas cabeças dos políticos e dos gestores públicos responsáveis do nosso país e isso só pode ocorrer com pressão social e distante de ideologizações e extremismos.”

Hebraica – As paraolimpíadas, os judeus e a Hebraica

“As paraolimpíadas, os judeus e a Hebraica
Floriano Pesaro, sociólogo.

No último mês tiveram início os Jogos Paraolímpicos de 2020 no Japão, na cidade do Tóquio, logo após se findarem os Jogos Olímpicos, como é de costume. O esporte é uma das melhores ferramentas de melhoria da saúde, da autoestima e de inclusão social que existem – especificamente.

Quando da sua primeira edição, as paraolimpíadas nem eram reconhecidas por esse nome e nem reuniam diferentes países. Era o ano de 1948 e o evento chamava-se “Jogos Stoke Mandeville” realizado em Londres, na Inglaterra. Aliás, o nome “paraolimpíadas” veio, posteriormente, justamente, porque desde esse momento, a competição voltada às pessoas com deficiência foi realizada paralelamente aos Jogos Olímpicos.

Stoke Mandeville foi estrelada, em seus primeiros anos, por veteranos de guerra ingleses com mobilidade comprometida, competindo no “arco e flecha”. A inciativa – pioneira historicamente ao envolver pessoas com deficiência numa competição esportiva – passou a ocorrer anualmente até que, em 1960, “Stoke Mandeville” ocorreu em Roma, na Itália, sob a alcunha de “Jogos Internacionais Stoke Mandeville”, hoje esta edição é reconhecida pelo Comitê Paralímpico Internacional como a primeira edição dos Jogos Paraolímpicos na História.

E essa ideia inovadora e extraordinária de, através do esporte, proporcionar bem-estar e qualidade de vida às pessoas com deficiência – que à época sofriam ainda mais preconceito e ficavam totalmente às margens da sociedade – foi de um médico judeu que se viu perseguido na Alemanha nazista. Ludwig Guttmann, judeu alemão, nascido no que hoje é a Polônia, foi um neurocirurgião formado em medicina pela Universidade de Friburgo em 1924 e teve uma carreira notável enquanto médico e professor universitário sendo uma das referências nacionais em sua área até que o nazismo começou a ascender na Alemanha.

Perseguido, deixou as atividades de licenciatura e estava com seu emprego e sua segurança e de sua família seriamente ameaçados. Contudo, as capacidades médicas de Guttman eram tão notáveis que os nazistas possibilitaram que viajasse a Portugal para tratar um amigo do Reich. Foi nessa oportunidade que Guttman, com o apoio de uma organização de apoio a acadêmicos perseguidos, pôde estabelecer refúgio na Inglaterra.

Ali, o brilhante neurocirurgião se aproximou de uma missão que acompanhara por toda a vida: tratar das pessoas com deficiência e fazer da vida delas melhor e mais longa. Foi dirigindo o Centro de Lesões Espinhais no Hospital Stoke Mandeville – dai o nome dos primeiros jogos para pessoas com deficiência – que Guttman teve uma ideia que mudaria a vida de tantas pessoas: por que não possibilitar que as pessoas com deficiência de todo o mundo pudessem ter acesso ao esporte enquanto de reabilitação? Guttman foi de perseguido, a acolhido e, finalmente, a acolhedor mudando o rumo da vida de milhões de pessoas com deficiência até hoje.

Mas, a história da comunidade judaica no cuidado e na ampliação dos horizontes das pessoas com deficiência não parou por aí: em 2014, a piscina da nossa Hebraica recebeu atletas de uma competição internacional promovida pelo Comitê Paralímpico Brasileiro (CPB), chamada “Open Paralímpico de Natação”. Foi nessa oportunidade que assistimos o nadador paralímpico Daniel Dias conquistar sua medalha de ouro nos 50 metros costas e Francisco Avelino, também brasileiro, conquistar o bronze.

E essa preocupação da nossa comunidade, em especial da Hebraica, com a inclusão e com a igualdade de oportunidades continuou e teve efeito nos competidores dessa Paraolimpíada de Tóquio.

Samuel Oliveira, de quinze anos, atleta da natação paralímpica, venceu toda sorte de adversidades com a perda de seus braços e se tornou um fenômeno nas piscinas. Contudo, quando se preparava para alcançar a marca necessária que o classificaria para as Paraolimpíadas de Tóquio, a pandemia paralisou as atividades no Centro de Treinamento Paralímpico causando grande apreensão para o preparo do jovem atleta.

Foi, então, que a nossa Hebraica estendeu as mãos e abriu suas piscinas para o brasileiro de alto rendimento durante toda a fase aguda da pandemia e o resultado nos enche de orgulho: Samuel obteve a pontuação necessária para classifica-lo a representar nosso país em Tóquio.

Infelizmente, dessa vez, não nos representou nas Paraolimpíadas em razão de um entrave burocrático, mas tem um futuro brilhante que nos trará muitas alegrias. Por fim, ainda ficamos aqui torcendo pelo Israel Stroh, atleta paralímpico do nosso clube e medalhista de ouro nas Macabíadas Mundiais de 2017, que nos está representando em Tóquio na categoria tênis de mesa.

Só há um caminho para uma sociedade mais justa, humana e fraterna: a inclusão e a igualdade de oportunidades, onde todos possam se ver como sujeitos de direito e realizadores de sonhos. E a comunidade judaica, historicamente, pode se orgulhar de ajudar a tornar essa uma realidade.”

Tribuna – A resiliência das Grandes Festas

É chegada a época das Grandes Festas, dias particularmente especiais para nossa comunidade e fundamentais para a reflexão sobre nossos próprios atos. Teremos um mês repleto de festividades precedidas por muita autoanálise e introspecção.

Rosh Hashaná, Yom Kipur, Sucot e Simchat Torá ocorrerão em 30 dias. Contudo, neste artigo, vou abordar o período de dez dias entre o Rosh Hashaná e o Yom Kipur, no qual devemos realizar nossas reflexões, avaliar nossos atos, nos observar e pedir, verdadeiramente, perdão pelos pecados que por nós foram praticados.

Esse período tão simbólico e cheio de significados que espelham nossos valores é marcado por nossos encontros nas sinagogas, tanto para comemorarmos o sopro da vida no barro de Adão e Eva como também para rezarmos em conjunto, com o nosso povo, para nos redimirmos dos nossos pecados. Nossa reza em conjunto (betzibur) chega aos portões celestiais com muito mais força, pois demonstra a importância de as pessoas estarem verdadeiramente unidas em prol do bem.

Neste ano, contudo, nos depararemos com uma realidade bastante diferente. Distantes fisicamente, ainda estaremos juntos em alma, pensamento e oração, numa mudança significativa para nossa comunidade. Não obstante, essa não foi a primeira vez que as Grandes Festas tiveram que se adaptar aos tempos.

Iniciaremos com a celebração do Rosh Hashaná, a solenidade do início da vida ou o nascimento e a criação do mundo. Esse momento, conhecido como, literalmente, “a cabeça do ano” ou “ano novo judaico” tem início no dia primeiro Tishrei seguido por dez dias de reflexão e redenção até que, em Yom Kipur, rezamos para sermos inscritos no Livro da Vida. O calendário judaico segue o ciclo da lua.

Humildade, altivez e correção.

Esse momento de paz, concentração e profunda conexão com D’us é também um ato de humildade, altivez e correção. Enquanto seres imperfeitos que somos, revisitamos nossos atos e condutas em busca do perdão e da melhora. Trata-se de uma ação que nos coloca mais próximos da pureza da alma e da bondade. Quando somos inscritos no Livro da Vida, temos a oportunidade de sermos pessoas mais evoluídas no ano vindouro que, com base em nossos preceitos, tornaremos nosso entorno e, consequentemente, o mundo, muito melhores.

A simbologia da festividade é importante e marca todo o seu significado. A maçã com mel, nas refeições de Rosh Hashaná, simboliza a doçura desejada para o ano que tem início. O pão de chalá redonda simboliza o ciclo de eternidade da vida. Há também o tashlich, onde há o costume de se jogar farelos de pães em água corrente, de preferência com peixes, simbolizando a “limpeza” dos pecados.

Apesar das diferenças nas celebrações das Grandes Festas entre judeus ortodoxos e reformistas, ashkenazim e sefaradim, em tipo de reza, vestimentas, entre outras, o fim é o mesmo, o propósito é comum: elevar-se, preparar-se para uma nova jornada sendo uma pessoa melhor, mais próxima a D´us e a seus semelhantes.

Estamos passando por um novo momento que nos exige, e ainda nos exigirá, resiliência. Os efeitos da pandemia do novo coronavirus alcançaram, mais uma vez, o marco temporal das nossas Grandes Festas e, nem por isso, deixaremos de celebrar o milagre da vida e desejar nossa inscrição no livro sagrado.

Respeitando as regras de distanciamento social e os cuidados com a higiene, tenho certeza de que cada um de nós, principalmente aqueles que possuem a sorte de estar com a família e os entes queridos, poderão regozijar-se das bênçãos divinas do sopro da vida e, também, desfrutar da paz de seus lares e sinagogas para refletir sobre as condutas e as ações no ano que passou. Que todos tenhamos a humildade e a altivez de pedirmos perdão àqueles com quem nos faltaram compaixão e correção para que sejamos todos inscritos e selados no Livro da Vida.Shanah Tová Umetuká. Feliz 5782 e Boa Saúde!

Floriano Pesaro, sociólogo.”

Estadão – A democracia liberal ainda funciona e é fundamental

Estamos enfrentando o período mais tenso na sociedade brasileira desde a redemocratização no Brasil: uma população castigada historicamente por uma estrutura tributária regressiva, e sub-representada politicamente viu-se, mais uma vez, decepcionada com a piora na qualidade de vida logo após as eleições. Em meio a uma pandemia do vírus da Covid-19 e de informações falsas, junto de um caldo requentado de populismo, temos o terreno fértil para que a democracia comece a ser questionada, como está sendo.

No ano passado, o maior banco de dados sobre democracia no mundo, o Instituto V-Dem, deixou de considerar o Brasil uma democracia liberal e passou a vê-lo como uma democracia “eleitoral”, ou seja, que realiza eleições livres com determinada frequência, mas que tem enfrentado dificuldades para a manutenção das liberdades individuais e de imprensa.

Verdade que esse fenômeno não ocorre só aqui. Devastada, em vários países do mundo, por governos irresponsáveis, corruptos e distantes do povo, a população busca por líderes que se digam seus porta-vozes legítimos, mas, como a sociedade é diversa e complexa, a legitimidade está com a maioria. Nada mais democrático, não?

Não, é aí que está o veneno para a democracia. Líderes populistas consideram a democracia como uma estrutura para estabelecer e executar a vontade do povo, por meio de eleições que refletem, portanto, a opinião da maioria, ainda que essa “maioria” não seja necessariamente numérica dependendo do sistema eleitoral de cada país.

Vamos às razões da problemática: primeiramente, qualquer sistema inteiramente baseado nas preferências da maioria corre o risco de levar à tirania da maioria ou à ditadura das massas, à violação, perseguição e, em casos extremos, à execução de grupos minoritários.

Embora formalmente, esse sistema ainda possa ser considerado democrático, afinal responde à vontade da maioria do povo, é uma forma injusta de democracia que não pode ser sustentada por muito tempo sem apelar à violência estatal. É por isso que os países democráticos adotam constituições e outros meios políticos, sociais e jurídicos, com duas casas de representantes ou um veto presidencial, ou supremas cortes destinadas a restringir o poder da maioria de violar ou atentar contra a existência de grupos minoritários ou visões de mundo diferentes.

Ainda é importante frisar que existem preocupações reais sobre as maneiras pelas quais políticos populistas tentam explorar as falhas estruturais nos processos de tomada de decisão do cidadão comum, que não possuem o conhecimento necessário para relacionar muitas das questões da agenda pública, seus efeitos práticos nos diferentes setores do País e interesses escusos que podem estar influenciando essas decisões.

Esses políticos tendem a apresentar soluções simplistas e rápidas para problemas complexos e baseiam suas propostas em informações parciais, intuição, emoção e, até as chamadas “Fake News”, em vez da rigorosa análise baseada em evidências que, muitas vezes, pode desagradar a maioria, mas, a longo prazo, é a melhor decisão para o País.

Esta é a razão pela qual quase nenhum país democrático do mundo opera um sistema de democracia representativa direta, onde o cidadão possa decidir temas por meio de voto direto, ou de enquetes.

Assim, desinibidos de paixões e preferências partidárias, ideológicas, temos que a democracia liberal com suas instituições formalmente legais e reconhecidas perante a Constituição Federal não só ainda funciona, como é fundamental, para que, tenhamos nossos direitos garantidos, mesmo que os ventos, subitamente, passem a soprar contrários as nossas preferências.

A defesa do Estado de Direito, das instituições e da imprensa não é um “cale-se” na opinião do povo, mas, justamente, a defesa de que essa opinião nunca seja oprimida por lado algum.”

Link para o artigo: https://politica.estadao.com.br/blogs/fausto-macedo/a-democracia-liberal-ainda-funciona-e-e-fundamental/?fbclid=IwAR3EhrsoYpT363vHXfnoXxrA4hV5lqI5sGP3cJgjgv6D0L88g-8-U2EhgKk

*Floriano Pesaro, sociólogo”

Hebraica – O “papo de ambientalista” está virando realidade

O “papo de ambientalista” está virando realidade
Floriano Pesaro, sociólogo.

Este último mês foi particularmente preocupante quanto aos sinais que os céus nos têm dado. Onde há verão, as temperaturas estão batendo recordes e enchentes ocorrem onde nunca antes se fizeram presentes. Por aqui, o costumeiro frio está se tornando uma sucessão de camadas polares inéditas causando secas que ameaças nossas torneiras. Afinal, terá chegado o tempo sobre o qual aquele nosso amigo – que por vezes era tido como desagradável – tanto alertava? O que, afinal, está acontecendo com nosso clima por todo o globo?

Durante a Conferência das Nações Unidas sobre o Meio Ambiente realizada no Rio de Janeiro de 1992 (Eco 92), a adolescente canadense, Severn Suzuki, fez um forte discurso chamando atenção para a responsabilidade coletiva dos humanos sobre o meio ambiente e sobre sua irreversibilidade.

Naquele momento, os alertas quanto às consequências de um crescimento desordenado da economia que ameaçava os biomas e o equilíbrio químico na atmosfera ainda pareciam alarmantes demais. Os vídeos das camadas polares se desprendendo mais pareciam obra de Hollywood.

Ocorre que hoje, governos, cientistas e cidadãos de todo o mundo estão receosos que o tempo que não demos atenção aos alertas podem já nos ter levado a um ponto de não retorno. No Canadá, foram registradas temperaturas recordes na casa dos 50º. Na Alemanha e na Bélgica, cidadãos estão chocados e os governos não sabem como reagir ao enfrentar enchentes numa proporção nunca antes vista. Nos EUA e no Reino Unido, ondas de calor têm se tornado frequentes demais causando prejuízos humanitários e financeiros.

Em Israel não é diferente: Tami Ganot Rosenstreich, vice-diretora da organização ‘Adam Teva V’Din-Israel Union for Environmental Defense’, defendeu recentemente que o país se prepare para consequências das mudanças climáticas que vem sendo registradas em todo o globo.

Devido à pequena extensão territorial, Israel acaba muito dependente do clima local que, com bruscas alterações ou elevações do nível do mar, pode acarretar sérios prejuízos econômicos ao país. Segundo o ganhador do Prêmio Nobel da Paz e professor neozelandês, James Jim Salinger, os israelenses precisam se preparar para ondas de calor que atingirão 50º nas suas de suas cidades.

Não se trata mais, portanto, sobre acreditar, ou não, em aquecimento global ou abordá-lo sob um ponto de vista ideológico. As mudanças climáticas estão acontecendo apesar da crença, ou não, nelas. Tanto é verdade, que diversos países do mundo – mesmo aqueles que instrumentalizam politicamente a pauta ambiental – reforçaram seus compromissos em conter a emissão de gases estufa e o desmatamento em recente cúpula internacional convocada pelos Estados Unidos.

Segundo cientistas esse movimento, que primeiro toma força internacional com a assinatura do Acordo de Paris, talvez esteja no limite do possível para que nós e nossa imediata próxima geração não passemos por eventos de clima extremo cada vez mais constantes.

Isso porque cientistas têm alertado, como um último sinal, de que estamos próximos do que chamam de “ponto de não retorno”, onde tanto se desmatou, queimou e emitiu-se em termos de gases na atmosfera que a natureza deve, ela própria, agir na biosfera sob as novas condições – desfavoráveis a nós.

Apesar de todo esse cenário preocupante e palpável, ainda assistimos recordes de desmatamento: só na Amazônia, abril deste ano, apesar da pandemia e dos constantes alertas, foi o mês com o maior desmatamento registrado pelo Governo Federal desde 2015. Foram 580 mil km² de matas desmatadas.

Isso significa que, só em abril deste ano, a Floresta Amazônica perdeu o equivalente a mais de dez mil vezes a área da nossa amada Hebraica. A floresta fica longe daqui, mas os efeitos, não tem jeito, vão chegar.

É hora de agir. As grandes empresas e o capitalismo internacional já se movimentam para neutralizar a emissão de gases de suas atividades. Há muito nossos irmãos do KKL Brasil nos chamam atenção. É tempo de acordar. Antes que não haja mais tempo.”