Tribuna – A luz dos milagres de Chanucá

Floriano Pesaro, sociólogo.

Chegamos à época que celebramos os milagres de Chanucá onde acendemos luzes e lembramos que Macabeus fizeram o mesmo no Templo Sagrado, mas temerosos se haveria suficiente óleo para os oito dias sagrados. Fez-se, então, o milagre, aquilo que nosso povo tanto acredita. Passados tempos desafiadores, as luzes de Chanucá se mostram, como sempre fizeram, resilientes e nos acompanham até esse milagre que é estarmos vivos e em união em mais uma oportunidade.

Tempos desafiadores sempre foram costumeiros ao nosso povo. Nunca fugimos a eles e nem eles nunca se fizeram ausentes, mas nunca nos dispusemos da incerteza e do medo perante os inimigos de nossa história, dos nossos costumes e da nossa crença.

Essa data do nosso calendário nos lembra que a coragem e a audácia que nos fizeram resistir e vencer provações babilônicas, romanas, gregas, egípcias e soviéticas se baseiam na crença que temos nos milagres de D’us. Baruch HaShem. Na crença de que nunca devemos abandonar nossos costumes, nossa religião e nosso D’us, mesmo quando os desafios parecerem impossíveis, desamparados não seremos.

É nesse momento de dificuldade que aquela quantidade ínfima de óleo que, a olhos nus, mal seria suficiente para um dia de luz, ao se deparar com tamanha devoção aos ditos da Torá, faz gerar a luz da esperança e da transformação por longos oito dias dando força para a vitória do nosso povo sobre todas as opressões.

Esses dias de Chanucá para muitos de nós, que vivemos no Brasil, terão um significado especial ao se fazerem como a primeira oportunidade, desde que o afastamento nos colocou distante dos nossos entes amados, para que acendamos as velas e tragamos luz ao lado, principalmente, daqueles mais idosos que tanto venceram com suas crenças milagrosas.

Nesses oito dias, assim como os Macabeus, nós celebraremos a vitória sobre as forças que tentaram nos impedir de celebrar nossa fé e nossa cultura em sua totalidade ao lado de quem amamos.

Isso porque, na época da retomada e da purificação do Templo Sagrado, tem-se que os oito dias dedicados a acender a chanukiyá são, na verdade, em alusão aos oito dias de Sucot que os macabeus não puderam celebrar em virtude da guerra pela sua liberdade.

Nós também estamos vencendo a guerra contra esse inimigo que tentou nos dizimar e nos separar. Como todos os outros, ele não foi bem sucedido e nosso povo continua com sua altivez pronto para acender as luzes da esperança que abrem caminhos para os milagres com os quais nossas vidas são agraciadas de tantas e diversas formas.

Que não nos esqueçamos nesse momento tão especial da importância dos atos individuais e coletivos, por menores que possam parecer, ainda mais em momentos de turbulência e incertezas como os que vivemos.

A vitória sobre os gregos que marcou o milagre de Chanucá, devemos lembrar, não teve início a partir de uma grande mobilização, mas a partir do inconformismo de Matatias e de seus cinco filhos – João, Simão, Eliézer, Jonatas e Judas (Yehudá) – com a tentativa de se “helenizar” nossa cultura, violar o Templo Sagrado e proibir a Torá.

O milagre se faz, portanto, com a crença absoluta em D’us, mas, também, calçado na dimensionalidade dos efeitos da vontade e da disposição individuais e coletivas que, por menores que pareçam ser, tem impactos transformadores e surpreendentes como a resiliência das luzes de Chanucá.”