Tribuna – A volta da ameaça nuclear iraniana

“A volta da ameaça nuclear iraniana
Floriano Pesaro, sociólogo.


Enquanto os olhos do mundo continuam voltados à recuperação econômica e às preocupações com novas variantes do coronavírus, há um perigo à espreita que tem chamado atenção, especialmente, da nossa comunidade israelense, sempre atenta à segurança nacional.


O acordo – feito entre o Irã, os EUA e as grandes potências europeias – que visava a contenção do altamente suspeito programa nuclear iraniano fez água com a saída norte-americana do contento em 2015 e, desde então, o Irã vem aproveitando o hiato diplomático para avançar na tecnologia que ameaça Israel e o mundo.


O alerta veio em uma entrevista do ex-chefe do setor de inteligência da IDF (Israel Defense Forces, ou Forças Israelenses de Defesa), Amos Yadlin, que apontou que, no meio tempo diplomático – desde que os EUA deixaram o acordo nuclear em 2015 sob a administração Trump, o governo iraniano tornou a produção nuclear em suas plantas mais eficiente, de modo que o retorno às condições postas pelas potências europeias e pelos americanos anteriormente já não seriam suficientes. Yadlin foi mais à diante e afirmou que talvez não seja mais possível conter o desenvolvimento nuclear iraniano, já que “conhecimento não se destrói”.


O alerta do antigo responsável por um dos setores de inteligência militar mais capacitados do mundo fez coro a relatos públicos das últimas semanas de diplomatas europeus e americanos sobre a postura do Irã nas negociações para a retomada do acordo e o alívio, especialmente, das sanções americanas sobre o governo iraniano.


O que tem se percebido no ambiente diplomático é que o Irã emerge com uma postura demasiadamente inflexível exigindo que os americanos levantem todas as sanções antes que os iranianos atendam a quaisquer pedidos de revisão de seu programa nuclear – sobre o qual continuam a alegar ter fins pacíficos, da mesma forma que alegam não apoiar grupos terroristas contrários à existência de Israel. Ambas alegações sabidamente falsas pelos militares da inteligência israelense.


Essa postura, ainda de acordo com Yadlin, é fruto do processo de aprendizado e melhoria da efetividade da produção nuclear iraniana que pode, inclusive, já ter chegado a um nível de tecnologia capaz de fabricar uma bomba nuclear em suas centrífugas nucleares mesmo sob as condições de operação impostas no acordo nuclear que se findou em 2015.


As preocupações são reais e, pelo menos por enquanto, não ganharam a atenção devida na mídia internacional, mas devem acontecer já que, apesar das pesadas sanções da comunidade internacional, o Irã parece arredio sobre qualquer revisão em seu programa nuclear. O que pode ser um blefe, pode também ser uma sinalização de que o Irã já não pretende mais negociar nesse campo.


Nesse sentido, o atual ministro da Defesa israelense, Benny Gantz, disse que pode estar chegando o momento em que Israel não tenha outra alternativa senão agir – por óbvio, o comandante da IDF se refere à atuação militar. Não seria estranho se a extremamente capacitada e moderna inteligência de Israel já soubesse a localização das plantas nucleares estratégicas iranianas e pudessem neutralizá-las, mas sabe-se que a pressão internacional sobre uma ação unilateral sempre é pesada e tende à reprovação, ainda mais quando preventiva.


Ocorre que, assim como ponderou o ministro Gantz na mídia recentemente, o Estado de Israel não é obrigado a coordenar sua autodefesa com nenhuma parte do mundo.

Até porque, sabemos nós todos, que, no final do dia, quem faz fronteira com plantas nucleares potencialmente ativas e capazes de um potencial destrutivo avassalador é Israel e que, provavelmente, nenhuma das grandes potências envolvidas nas negociações teria a paciência e o zelo pela diplomacia que os israelenses estão tendo nos últimos anos, caso fossem eles a estarem sentados num barril de pólvora ameaçando seus territórios e suas sociedades.
Torcemos, portanto, pela saída diplomática o quanto antes que, sempre foi e sempre será, o melhor caminho para a paz.”