Brasil e Israel em parceria inédita no comércio exterior

Floriano Pesaro

Ao assumirmos a direção da ApexBrasil, a agência de promoção de exportações e atração de investimentos supervisionada pelo Ministério do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços (MDIC), o presidente Jorge Viana, a diretora de Negócios, Ana Repezza, e eu, como diretor de Gestão Corporativa, recebemos também missões para impulsionar o comércio exterior brasileiro como a diversificação de destinos, a ampliação da participação do Norte e Nordeste nas exportações, os preceitos de sustentabilidade e a recuperação da imagem do Brasil no exterior. Hoje, recebemos mais um resultado importante desta missão.

Neste mês de setembro, o Brasil se tornou o primeiro país do mundo autorizado a exportar carne de frango para Israel comprovando sua tecnologia agrícola, que é referência mundial, além de alto padrão kosher em sua produção. Recebi, ao lado do ministro do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços, vice-presidente da República, Geraldo Alckmin, o embaixador de Israel, Daniel Zonshine, para comemorar essa boa notícia.

Em termos absolutos, trata-se da abertura aos produtores brasileiros de um mercado consumidor pujante e crescente que consome mais de 600 mil toneladas de frango anualmente, com uma taxa de 42 quilos anuais por pessoa, uma das maiores do mundo.

É claro que este não é resultado do trabalho de uma só instituição ligada ao governo, como é a ApexBrasil, mas de todo o esforço governamental em estabilizar e retomar as relações comerciais com a comunidade internacional pautada nos preceitos clássicos da diplomacia brasileira e buscando as melhores oportunidades comerciais para as empresas brasileiras.

Essa reconstrução toma forma nas missões presidenciais no exterior, retomadas pelo presidente Lula, que funcionam como verdadeiras catalisadoras da presença do Brasil no exterior. Reforçam-se laços culturais, desfazem-se mal estares diplomáticos e políticos, abrem-se e reabrem-se oportunidades de negócios que se traduzem em mais emprego e melhor renda para brasileiros por aqui,

A partir daí, cabem aos ministérios, especialmente das Relações Exteriores, da Agricultura e do Desenvolvimento, a pavimentação e a transformação dessas oportunidades e sinergias em bons negócios para as empresas brasileiras, seja no que se refere à exportação ou à atração de investimentos.

Nesse sentido, a ApexBrasil é o braço operador da política pública de comércio exterior do governo federal, que busca capacitar, facilitar e impulsionar a jornada da exportação e de atração de investimentos de empresas e projetos no Brasil.

E ainda há muito mais por vir: um governo coeso, experiente e com missões claras dadas, como aquelas outorgadas a nós na ApexBrasil, resulta em mais exportação – haja vista o recorde de US$ 32 bi em exportações brasileiras apenas no mês de agosto, mesmo com a queda nos preços internacionais; mais crescimento econômico – caminhamos para, ainda neste ano, voltarmos a ser a décima maior economia do mundo; e, finalmente, tem como produto a melhora de vida da população e a justiça social para os brasileiros.

Israel é um país judeu e democrático

Floriano Pesaro, sociólogo

Israel é um país judeu e democrático. Essas sempre foram as duas premissas que melhor definiram este pedaço sagrado de terra bem no meio do Oriente Médio. No entanto, a polarização política e a ascensão de governos com viés autoritário não escaparam à realidade israelense e, hoje, na disputa sobre o sistema judicial do país, mostram sua mais evidente presença e colocam um dos maiores desafios da história de Israel diante de nossos olhos.

Já não é novidade, mas percebeu-se aumento, no número de reservistas israelenses que deixam o IDF, Israeli Defense Forces, ou o exército israelense, desde que as discussões acaloradas sobre as propostas do atual governo, liderado por Benjamin Netanyahu numa coalizão de verniz bastante conservador, de reforma no sistema judiciário do país. Ocorre que, após a aprovação da primeira parte desta lei no parlamento, segundo relatos não oficiais, cerca de 700 aviadores teriam deixado seus postos, de acordo com o jornal The New York Times.

Para que compreendamos esse processo com mais clareza, é preciso entender qual é o papel do cidadão reservista em Israel, a significância do IDF para a sociedade e o que se pretende com a reforma judicial proposta pelo governo.

Salvo alguns casos relacionados ao exercício da religião e algumas minorias árabes, o serviço militar em Israel é obrigatório e, em grande parte dos casos, é realizado por dois anos, logo após que os jovens, tanto homens como mulheres, cumprem sua formação escolar. Alistar-se é, no entanto, motivo de orgulho e materializa uma preocupação muito vívida no cotidiano de qualquer israelense: a defesa do próprio território que é constantemente ameaçada.

Diferente, por exemplo, do que temos no Brasil, prestar serviço nas Forças Armadas significa defender, não metaforicamente, mas de maneira bastante palpável sua nação, seu território, sua comunidade, sua família e seus amigos. Por isso, mesmo após o período obrigatório, os reservistas, aqui mais um ponto de diferença com a realidade brasileira, cumprem papel fundamental no desenvolvimento dos trabalhos do IDF, uma vez que, por terem mais experiência, são constantemente chamados para, por algum período, apoiar na formação dos novos soldados.

Já sobre a proposta de reforma judicial, antes de entender a primeira parte aprovada no último mês no Knesset, é preciso compreender o todo proposto pelo vice-primeiro ministro e ministro da Justiça, Yariv Levin: o pacote que levou milhares de israelenses às ruas das cidades do país em protesto pressupõe a possibilidade de invalidar decisões tomadas pela Suprema Corte do país com maioria simples de votos do Congresso; ampliação do Comitê de Seleção Judicial de nove para onze membros, sendo dois deles indicados pelo presidente da Suprema Corte sob possibilidade de veto do ministro da Justiça; o cancelamento do princípio da “razoabilidade”, sobre o qual o governo israelense alega que a Suprema Corte acaba interferindo nas decisões do Executivo; dentre outros pontos.

Qualquer paralelo com críticas feitas recentemente à atuação do Judiciário brasileiro, não é mera coincidência: governos de perfil mais autoritário, ainda que em sistemas democráticos, tem tido parte de suas ações bloqueadas pelos sistemas judiciais mundo afora em razão do princípio de “pesos e contrapesos”, ou seja, do equilíbrio entre os poderes de uma República, quais sejam, Executivo, Legislativo e Judiciário.

Lá e aqui suscitam propostas que visam coibir ou fustigar a legitimidade e os ferramentais sobre os quais as mais altas cortes do país se utilizam para garantir a constitucionalidade das medidas do governo, em um paralelo, o que chamam de “princípio da razoabilidade” em Israel.

Nesse sentido, o governo israelense teve sucesso recentemente, como dito no início do artigo, ao aprovar, justamente, a primeira parte desse pacote de reforma: a extinção da “razoabilidade”, ou seja, da possibilidade de que o Judiciário intervenha e interrompa ou suspenda alguma ação do Executivo. Fica aberto o caminho presente e futuro para que decisões públicas de cunho autoritário não sejam mais questionadas.

A polarização, mais uma vez manifestada neste caso, ganha corpo com as redes sociais e se materializam com governos autoritários com propostas inflamatórias a ponto de fustigarem a união mesmo em torno de símbolos nacionais, tais como o serviço militar israelense, ou, deste lado do mundo, até mesmo a folia do carnaval brasileiro.

Brasil e Israel: o agro e a tecnologia de ponta

Floriano Pesaro

O Brasil e Israel são dois países com economias fortes e diversificadas, com grandes oportunidades de cooperação comercial. No setor agrícola, o Brasil é um dos maiores produtores e exportadores de commodities do mundo, enquanto Israel é um líder global em tecnologias agrícolas inovadoras. Essa complementaridade de competências faz dos dois países parceiros naturais no desenvolvimento de novas tecnologias e produtos agrícolas.

Um exemplo de cooperação bem-sucedida entre Brasil e Israel é o projeto “AgriTech”, que visa desenvolver novas tecnologias para aumentar a produtividade agrícola e reduzir o impacto ambiental. O projeto é financiado pelo governo brasileiro e pelo governo israelense, e envolve a participação de empresas e instituições de pesquisa de ambos os países.

Como parte desta iniciativa, a ApexBrasil, a agência brasileira de promoção da exportação e de investimentos supervisionada pelo Ministério do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços (MDIC), liderado pelo vice-presidente da República, ministro Geraldo Alckmin, realiza a “Missão Agritech Israel”, voltada para empresas de tecnologia brasileiras, especialmente startups, que desejam escalar suas soluções no mercado israelense. O objetivo é fazer um mergulho com as empresas brasileiras no ambiente de inovação em tecnologias aplicada ao clima, alimentos e agronegócio israelense.

A ApexBrasil oferecerá ainda a experiência fundamental de contato direto com investidores-anjo no país, chamadas de reuniões de “Venture Capital”, onde vultuosos recursos são direcionados para soluções promissoras e escaláveis, no caso, para o agronegócio. Para este objetivo, a agência selecionou vinte empresas de agritech, climatech e foodech, que operam com soluções também para a promoção da sustentabilidade e da preservação ambiental, princípios transversais e fundamentais da gestão do presidente Jorge Viana à frente da ApexBrasil.

Esta é, portanto, uma outra forma de cooperação entre Brasil e Israel, menos óbvia: quando o Brasil, que também possui uma ampla gama de soluções tecnológicas, leva a Israel soluções baseadas na experiência de uma das maiores operações agropecuárias do globo.  O potencial de cooperação comercial entre Brasil e Israel é enorme. Os dois países têm muito a oferecer um ao outro, e a cooperação em áreas como agricultura e tecnologia pode trazer benefícios para ambos.

A cooperação entre Brasil e Israel na área de Agritech tem o potencial de revolucionar a agricultura nos dois países. Ao trabalhar juntos, os dois países podem desenvolver novas tecnologias que ajudem a aumentar a produtividade agrícola, reduzir o impacto ambiental e melhorar a segurança alimentar.

O avanço das autocracias no mundo

Floriano Pesaro

O mundo passa por uma confluência de crises que abrange desde uma recém terminada crise sanitária, passando por um forte processo inflacionário e concentrador de renda e culminando num desafiador cenário de deslegitimação de democracias liberais pelo mundo. Estudos recentes evidenciam que esta crise democrática se materializa a partir do funcionamento das redes sociais enquanto “bolhas sociais” e se capilarizam através de um forte movimento de críticas políticas que, apesar das justas motivações, vêm, em certa medida, carregadas de um desejo de deslegitimação da política. A radicalização experimentada em vários países do mundo, inclusive Brasil e Israel, é prova disso.

O ranking global produzido anualmente pelo instituto sueco “V-Dem” classifica os regimes políticos de diferentes países com base em uma série de critérios que dialogam com a saúde da democracia, como, por exemplo, liberdade de expressão, liberdade de imprensa, eleições livres, funcionamento dos parlamentos e atuação do Judiciário, dentre outros. Estes elementos são utilizados para classificar em quatro tipos, os regimes políticos atuais: democracias plenas, democracias falhas, autocracias eleitorais e ditaduras.

Democracias plenas são aquelas em que as liberdades civis e políticas fundamentais são amplamente respeitadas e encorajadas, como Noruega e Uruguai. As falhas têm eleições com resultados reconhecíveis e de ampla participação, no entanto, as liberdades civis são parciais, há exercício errático de direitos e violações à liberdade de imprensa, como Brasil e Israel. Já as autocracias eleitorais, são regimes em que os pleitos têm ocorrência sistemática de fraudes, as liberdades e direitos civis e políticos são outorgados sem o devido republicanismo e há denúncias sistêmicas de corrupção, como Peru e Nigéria. Por fim, as ditaduras são o exemplo clássico de regime fechado sem eleições livres, direitos civis ou poderes independentes, como Coreia do Norte e Cuba.

Em Israel, a dificuldade na composição de um governo após a “era Bibi” é o reflexo na política representativa dessa radicalização e consequente deslegitimação das forças políticas. Seja lá ou aqui, esse processo não gera, no entanto, a ascensão de uma alternativa à política. Ela não existe. Gera, sim, personagens autocráticos que vocalizam os descontentamentos sociais ao mesmo tempo que se locupletam do poder e se perpetuam em seus cargos.

O que chamou atenção na última versão da publicação “V-Dem” foi que, pela primeira vez desde o auge das democracias em 1995, existem no mundo mais autocracias do que democracias plenas. Esse dado certamente dá conta de uma seara de motivações e renderia um livro, como já existem publicados – vide “Como as Democracias Morrem”, de Steven Levitsky e Daniel Ziblatt, sobre as razões pelas quais as democracias no mundo enfrentam sua pior crise.

As motivações que vem sendo identificadas por estudiosos para esse cenário de degradação democrática são, portanto, variadas e vão desde baixo investimento em educação até altos níveis de desigualdade social. No entanto, atemo-nos aqui à questão do criticismo político fomentado pelo avanço das redes sociais e, particularmente, fruto da manipulação dos algoritmos que fomentam bolhas de opinião e favorecem radicalismos.

Esse processo fomentado notadamente por correntes políticas de extrema-direita geraram um forte movimento de deslegitimação das forças políticas em vários países do mundo levando à eleição de dirigentes que, em casos extremos, contribuíram para o aumento das autocracias assim percebidas no levantamento da “V-Dem”.

É direito, é preciso e é positivo que se critique e se levante, sem nunca condenar todo um poder, seja ele político ou judiciário, ou sucumbir à negação da política ou da democracia. Se há dificuldades no regime democrático, certamente existem maiores delas em regimes autocráticos, a diferença é a cortina que impede que sejam vistas.

Diferentes táticas, diferentes alvos

Floriano Pesaro, sociólogo

Nas últimas semanas, a tensão tem aumentado na Faixa de Gaza ao passo que a operação “Shield and Arrow”, ou Escudo e Flecha em português, tem sido empregada pelo Exército de Israel como resposta a centenas de foguetes que vinham sendo disparados da Faixa de Gaza indiscriminadamente contra comunidades israelenses ferindo civis inocentes. Com isso, Israel assume sua defesa e faz ataques pontuais a alvos específicos de grupos terroristas que perpetuam na região o caos e a violência.

Em cinco dias de combates, 34 palestinos foram mortos e um israelense foi tombado em virtude dos foguetes disparados pelos terroristas, número este que não foi maior graças ao Iron Dome, ou Domo de Ferro, sistema antimísseis que protege o território israelenses de foguetes terroristas, chegando próximo da total eficácia.

Das armas, nenhuma solução de paz e estabilidade será fruto. Isto é sabido e difundido largamente, apenas o diálogo e a concertação são capazes de fazer retroceder feridas tão profundas quanto às que perturbam a paz em Israel há décadas. No entanto, é preciso separarmos bem as diferentes táticas e os diferentes alvos dos ataques recentes que acabam por delinear regularmente o conflito entre a Jihad Islâmica e Israel.

Um exemplo disso foi trazido pelo diretor da organização StandWithUs Brazil, André Lajst, em recente post nas redes sociais em que mostrou imagens de um ataque israelense na Faixa de Gaza que teria provocado a fúria de líderes terroristas: tratou-se de uma explosão feita milimetricamente no apartamento de um dos líderes terroristas não atingindo nem mesmo os apartamentos vizinhos.

Podemos compreender que do ponto de vista dos terroristas, esse é um ataque com alto potencial destrutivo já que atinge um de seus líderes, no entanto, é de mínimo impacto para a população de Gaza. Há método, tecnologia e alvo certo com o intuito de desmobilizar ataques terroristas que pregam o fim do Estado de Israel, o que é ilegal.

Já do lado dos mais de 970 foguetes disparados contra Israel nestes últimos dias, não há nenhum dos três fatores: com baixa tecnologia, eles são mortais para civis e não tem alvos certos. Escolas, hospitais, residências ou estradas. Tudo e todos podem ser alvos do lado israelense da fronteira. Civis ou militares, sem distinção. Um verdadeiro ode à barbárie.

É preciso fazer mais uma distinção: este conflito não é entre israelenses e árabes, ou mesmo palestinos. Este conflito se dá a partir de atividades terroristas da Jihad Islâmica que tem uma única pauta: o fim do Estado de Israel em qualquer proporção e formato. Não se pretende reiniciar negociações para paz ou dar seguimento a qualquer entendimento.

A existência de Israel representa hoje não só o respeito à lei internacional e ao direito dos judeus, como povo nativo daquela região, de terem direito ao seu território de forma compartilhada e pacífica, mas também a única democracia pujante da região com liberdade de expressão, de convivência e de vivências diversas. O caminho para paz é o diálogo e sobre isso não existem dúvidas. O conflito na região de Gaza não é novo e se de fácil resolução fosse, certamente já não existiria. É nesse diapasão que sempre que um novo conflito emerge se faz urgente resgatarmos a veracidade dos fatos e diferenciarmos aqueles que estão dispostos a defenderem seus territórios e promoverem a paz daqueles agentes do caos guiados pelo extremismo e pela violência

A reforma judiciária de Israel e o risco à marca-país

Floriano Pesaro, sociólogo.

Apesar dos constantes esforços de boicote, Israel possui um dos melhores cases de nation branding – processo de criação da imagem de um país – do mundo com sua marca-país ligada, profundamente, às inovações tecnológicas, ao processo produtivo disruptivo, ao desenvolvimento científico e educacional e à democracia numa região em que esse fator é escasso. No entanto, recentemente, o intento do governo central de promover uma reforma judiciária com intensões totalitárias ameaçou solapar este trabalho de anos.

Em dez anos, Israel passou, no “FutureBrand Index”, responsável por avaliar e monitorar a qualidade da imagem dos países no mundo, da 45ª posição para o 28º lugar entre os países com as melhores percepções do mundo. Esse não foi um resultado proveniente do acaso.

Em 2005, foi criada a Brand Israel Group, uma agência do governo israelense focada em comunicação e cuja missão era mudar como o país era visto no mundo, frequentemente vinculado aos conflitos com seus vizinhos. A agência tratou de investir em marketing e ativações, uma modalidade de incursão de comunicação inovadora até para os dias atuais com o objetivo de levar às massas a complexidade de Israel e as múltiplas vocações deste pequeno território no Oriente Médio.

A primeira ação foi disruptiva e polêmica, com a declarada intenção de chamar a atenção do mundo, fazendo um ensaio fotográfico das soldadas do Exército de Israel na revista masculina, Maxim, dos EUA. A ideia era desvincular a imagem das forças armadas israelenses dos conflitos com seus vizinhos.

A partir daí, foram várias ações que somaram, nos anos seguintes US$ 26 milhões, como a campanha sobre o desenvolvimento e a tecnologia em saúde feita no ano de 2008 em Toronto (Canadá) e como a ação “Out in Israel” de promoção da vida LGBT em Israel na cidade de São Francisco (EUA).

É verdade que os movimentos de boicote e a guerra de informação entorno do conflito árabe-israelense continuam e fustigam de maneira questionável até ações acadêmicas do governo de Israel, como uma feira que seria feita na Universidade de Campinas no mês passado.

No entanto, também se verifica uma mudança, como mostra o ranking da FutureBrand, com relação à percepção geral dos cidadãos do mundo com relação à Israel especialmente no que se refere à premência de temas como tecnologia, inovação, cuidado com o meio ambiente e respeito aos direitos humanos, notadamente da mulher e da população LGBT+ numa região hostil a ambos os grupos.

Apesar destes avanços consolidados, a reforma judicial defendida pelo primeiro-ministro de Israel, Benjamin Netanyahu, além da série de problemas intrínsecos que traz, pode, em sua extensão, provocar uma ruptura com o trabalho de décadas de reconstrução da imagem de Israel perante o mundo, especialmente, no que se refere o diferencial democrático.

Abrindo mão dos detalhes da tentativa de reforma judicial promovida por “Bibi”, sobre a qual recomendo a atenta leitura às produções textuais do André Lajst do StandWithUs Brazil, cabe aqui uma reflexão sobre o custo de imagem, que se traduzirá certamente na economia e na vida dos israelenses e judeus por todo o mundo, ao país com essa tentativa, por hora suspensa, de fragilizar o equilíbrio institucional construído a largo custo pelos fundadores de Eretz Israel.

Tribuna – Pessach, liberdade e esperança

Pessach, liberdade e esperança
Floriano Pesaro, sociólogo.


“Pessach é uma das celebrações judaicas com o mais amplo significado em nosso calendário. Se Pessach é liberdade, uma vez que marca a saída do povo judeu do Egito escravocrata, é também passagem pelo Mar Vermelho, devoção à fé na passagem pelo Mar Vermelho e inconformismo diante de injustiças, tiranias e arbitrariedades. Nossa história é toda cheia de mensagens e orientações para uma vida plena.


Habitando há mais de quatrocentos anos no Egito, os judeus viram o caminho para a Terra Prometida se abrir com Moisés, hebreu que, adotado pela filha do faraó – e, portanto, gozador de todos os privilégios que lhe podiam ser servidos, recebera de Deus uma missão de liderar seu povo para a liberdade rompendo com o sofrimento da escravidão a que lhe era submetido.

Moisés, no entanto, nunca defendera o conflito para cumprir a determinação que recebera. Cheio de coragem, escolheu questionar o então faraó, que lhe provia condições favoráveis de vida, pela vida de desconhecidos do seu convívio, mas não de sua alma e de sua fé.

Ao perceber que seus questionamentos encontravam o silêncio da ignorância do líder egípcio, Moisés passara a apontar sinais que davam conta de que seu bravo ato em prol de seu povo, que naquele momento era o mais oprimido, não era apenas dele, mas sim de D’us. E assim começaram aquelas que ficaram conhecidas como “pragas do Egito”: sangue, rãs, insetos, piolhos, morte do gado, úlceras, granizo, gafanhotos, trevas e, finalmente, a morte dos primogênitos do faraó.

Para proteger seu povo desta última praga, Moisés ordenou que os hebreus sacrificassem cordeiros e marcassem suas portas com seu sangue para que D’us poupasse seus primogênitos. Então, daí temos o nome de Pessach: “passar por cima”, que é um de seus significados.

Assustado com a última e devastadora praga no seio de sua família, o faraó permitiu que os hebreus, liderados por Moisés, partissem do Egito, mas sem antes determinar também que, como costumeiramente na História, fossem perseguidos. Foi, então, que num ato que provou o compromisso de D’us com seu povo, que Moisés guiara os hebreus pelo Mar Vermelho em direção à terra prometida.

A celebração de Pessach é, portanto, a luta pela liberdade, a inquietude diante da injustiça, a renovação da fé e o renascimento da esperança. O sêder de Pessach deve representar para cada uma das nossas famílias a própria presença de D’us como guardião da nossa fé e da nossa liberdade. Da própria garantia de que estamos neste mundo para cumprir seus preceitos, especialmente, aqueles da justiça e da harmonia entre os povos: Tikunolam e Tsedaká – a concertação do mundo.

E nada, nem ninguém, nos impedirá, e nem conseguira impedir, de cumprir com esta vontade divina, nem que tenha que despertar dentre os mais poderosos tiranos, aquele enviado de D’us que se rebelará em prol da liberdade e da esperança.

Que tenhamos um sêder de Pessach de alegria, confraternização e fé junto de quem amamos da forma e da maneira que desejemos sob o manto da liberdade e da fraternidade.

Chag Pessach Sameach, Floriano Pesaro!”

Tribuna – O antissemitismo está presente e não tem ideologia

O antissemitismo está presente e não tem ideologia
Floriano Pesaro, sociólogo.


“Por diversas oportunidades, alertei aqui nesta TRIBUNA, que o antissemitismo já não é mais um risco, mas, sim, uma realidade crescente no exterior e mesmo no Brasil na esteira do extremismo político que tem emergido com mais força desde a década passada. Ao mesmo tempo, pela multiplicidade com que pode ser expressado, o antissemitismo é crime que busca tem por parte de seus autores a intencionalidade de confundir-se com opiniões políticas e ideológicas que, por vezes, encobrem o velho preconceito que atinge todas as populações minoritárias e, ou, vulneráveis no mundo.


Neste mês, a StandWithUs Brasil, braço nacional da organização nacional dedicada à profusão da cultura e da educação israelenses como ferramenta de combate ao antissemitismo, produziu um livro guia com exemplos de manifestações antissemitas do passado e do futuro protagonizadas por lideranças de todos os espectros políticos especialmente de seus polos extremistas.


É importante dizer, neste sentido, que não se trata de vedação à liberdade de expressão no exercício da crítica a determinadas políticas exercidas por eventuais governos israelenses de plantão, mas, sim, de um esforço desta organização em pontuar, através do esforço educacional, declarações que utilizam de informações falsas, correlações inexistentes e até de narrativas medievais fantasiosas para manifestar o preconceito contra o povo judeu e Israel como estado judeu.

E não o fazem despretensiosamente: o antissemitismo tem por objetivo a perseguição do povo judeu, como sempre buscou, mas, atualmente o faz através da deslegitimação de Israel como um estado sionista e legal, como é reconhecido pela comunidade internacional. E sendo assim, defender a extinção do estado de Israel ou opor-se à solução pactuada dos dois estados, é, ao fim do dia, cometer antissemitismo na extensão de que a existência de Israel é, senão, a legitimação do lugar do povo judeu no mundo.

Também faz-se uso da confusão em torno das políticas de estado e de governo em Israel: há judeus críticos da política expansionista praticada por governos israelenses, e sobre isso não há qualquer crime. Há também aqueles que defendem a solução de dois estados, que foi encaminhada pelas Nações Unidas – mas, que é rechaçada por grupos extremistas de ambos os lados. Nenhum deles, no entanto, se utilizam da origem judaica como base argumentativa para depreciar a legitimidade de Israel e do povo judeu.
Com a difusão das informações falsas e do extremismo político, foi identificado o aumento do antissemitismo em todo o mundo.

Ainda em referência à publicação do StandWithUs Brasil, enquanto na Alemanha e na França, em 2019, houve o aumento de 60% e 74% respectivamente no número de casos de antissemitismo, no Brasil se proliferam casos em que cidadãos são flagrados ostentando bandeiras e símbolos nazistas em ambientes públicos e privados, na maioria dos casos, sem serem questionadas – o que é ainda mais preocupante.


Por aqui, ainda acompanhamos e são objeto de implacável, imparcial e constante monitoramento por parte da Confederação Israelita do Brasil (Conib), casos em que lideranças políticas relativizam o nazismo o comparando equivocadamente a outros episódios políticos. Houve ainda casos extremos: no último governo federal, o então secretário especial de Cultura chegou a gravar um vídeo com diversas referências textuais e imagéticas ao propagandista nazista, Joseph Goebbels.


No Brasil, desde 2004, quando o Supremo Tribunal Federal (STF), em julgamento contra escritor acusado de difundir material antissemita, enquadrou a prática de antissemitismo como parte dos rol do crime de racismo e, portanto, tendo natureza imprescritível.


Assim como o racismo, a homofobia e a misoginia, o antissemitismo é crime condenável e crescente em todo o mundo, o que demanda identificação e responsabilização com especial atenção para que argumentos ideológicos e políticos, de qualquer parte, não sejam utilizados para acobertar o preconceito e a perseguição que, historicamente, se fizeram presentes na trajetória do povo judeu.

Brasil e Israel: uma avenida de oportunidades – Tribuna

Brasil e Israel, uma avenida de oportunidades.
Floriano Pesaro, sociólogo.

Com o novo ano, o Brasil vê ascender também um novo governo que traz consigo a defesa de um pacto pela reindustrialização do país e pelo impulsionamento da capacidade exportadora brasileira, especialmente no que se refere aos bens industriais com valor agregado. Neste sentido, há um país para o qual a atenção deve ser direcionada pela conveniência da pauta exportadora, das relações com o Brasil, com o Mercosul e do forte mercado consumidor. Este país é Israel.

Hoje, Brasil e Israel possuem uma balança comercial avaliada em US$ 1,7 bi, sendo historicamente deficitária do lado brasileiro, o que representa a exportação de soja, carne e milho, e a importação de fertilizantes e materiais de alta tecnologia – que, naturalmente, pelo valor agregado, possuem um custo maior resultando na balança deficitária.

Ocorre que há muito a avançar na relação comercial entre Brasil e Israel. Com uma população de renda média-alta e com padrão de consumo elevado, Israel representa uma oportunidade para que o Brasil exporte produtos de maior valor agregado, especialmente, industriais a um baixo custo e com a garantia de que o processo produtivo está em linha com os princípios do chamado “ESG” – em português, Meio Ambiente, Social e Governança – e com a transição energética necessária para uma economia de baixo carbono.

Além disso, assinado em 2010, Israel é o único país fora da América do Sul a possuir acordo de livre comércio com o Mercosul, aliança política e econômica da qual fazem parte como membros plenos Brasil, Argentina, Uruguai e Paraguai. Neste sentido, o governo brasileiro possui instrumentos que podem guiar indústrias, setores da agropecuária e mesmo pequenos e médios empresários que queiram exportar seus produtos para Israel, que, apesar das possibilidades elencadas acima, ainda carece de reconhecimento como um destino de oportunidade para as exportações brasileiras.

Tanto o Sebrae, Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas, quanto a Apex Brasil, Agência Brasileira de Promoção de Exportações e Investimentos, possuem serviços que podem auxiliar as empresas brasileiras nessa jornada rumo à exportação que gera divisas, emprego e renda ao país. Segundo o documento “Perfil Israel, de autoria da Apex Brasil, por exemplo, vê-se as oportunidades de exportação ao país tendo como destaques diferentes dos produtos já consolidados calçados, plástico, couro e maquinário de transporte.

Do ponto de vista geral, é claro, o processo de reindustrialização necessário ao país e de impulsionamento da capacidade exportadora passa por ações macro no campo da economia, como uma reforma tributária simplificadora, pela redução do chamado “Custo-Brasil” com a consequente e necessária melhoria da infraestrutura, especialmente no que se refere à capacidade de escoamento da produção. Também é fundamental uma agenda de competitividade que enderece questões regulatórias, por vezes contraditórias, que acabam por dificultar as exportações brasileiras até mesmo na América do Sul.

O Brasil tem hoje uma oportunidade de escapar da armadilha da estagnação econômica de renda média que captura países, com trajetórias socioeconômicas similares ao nosso, por décadas. O cenário internacional conturbado com a China abrindo espaços nas cadeias de produção com sua problemática doméstica quanto às políticas de contenção da COVID-19 e com a guerra na Ucrânia redesenhando os fluxos de produção globais apontam uma oportunidade para o Brasil se inserir em um novo local na cadeia de produção global.

É possível a partir das condições econômicas, tributárias e regulatórias, mas também da informação e apoio técnico, fazer com que as exportações brasileiras ganhem mais valor agregado e gerem uma vida mais próspera e justa para todos.”

Tribuna – Chanucá, luzes e reflexões

Floriano Pesaro, sociólogo.

Chegamos a mais um tempo de esperança sob as luzes do candelabro de Chanucá. É preciso, antes de tudo, rememorarmos brevemente a história desta celebração e as razões pelas quais este marco no calendário judaico é tão fundamental na renovação de nossas esperanças.

Quando viviam como um povo autônomo na terra de Israel, nosso povo vivia pacificamente em torno do Templo Sagrado de Jerusalém comungando dos costumes e valores judaicos. O direito à existência era mantido mediante a contribuição em impostos ao reino Selêucida, que mantinha os judeus em terras afastadas do centro do domínio helênico.

No entanto, o tiranismo – que nunca tarda a aparecer – se mostrou na pessoa do rei Antíoco que viu na comunidade judaica um povo resistente ao absoluto domínio na região. Com um poderoso exército, o rei selêucida invadiu a Judeia e profanou o Templo Sagrado com sacrifícios impuros e com a proibição da leitura da Torá.

Apesar de haver registros de judeus, à época, que se converteram diante da tirania helênica, houve um grupo que lutou bravamente e derrotou o exército selêucida. Eram judeus camponeses, despidos de riquezas, mas cheios de fé e coragem, liderados por Yehudá e seus quatro irmãos. Este bravo grupo reconquistou a liberdade para a comunidade judaica retomando a terra sagrada.

Yehudá, então, ficou conhecido como Macabeu, de martelo, que denotou o nome pelo qual esse grupo de judeus guerreiros ficou conhecido, os Macabeus. O Templo Sagrado foi reconquistado e purificado com o acendimento da Chanukia – o nosso candelabro de nove braços, onde oito deles são acesos com as luzes de Chanucá.

A luz de Chanucá pode significar coragem, sabedoria, fé e, ainda mais, esperança frente à tirania. Nada pode segurar ou retardar a presença da luz sobre a escuridão, a ignorância e a violência. Nossa história como povo é testemunha disso.

Há, também, o aspecto fundamental da fé na história de Chanucá que nunca nos deve passar desapercebido: lembremo-nos que, no Templo Sagrado, os Macabeus não dispunham de óleo suficiente para os oito dias de acendimento das velas, no entanto, assim elas se fizeram. Aquele óleo envolto de fé e esperança fez com que as luzes ali perdurassem pelo tempo necessário para a purificação do Templo.

Em épocas desafiadoras, nossos rabinos sempre nos orientam a buscarmos inspiração e luz nas palavras da Torá, nos ensinamentos de D’us e na história do nosso povo, no caso de Chanucá, não poderia ser diferente.

Que a luz da Chanukia possa iluminar cada um dos lares da nossa comunidade levando esperança e bondade às mentes e aos corações afastando a ignorância e a escuridão que, certamente, serão parte de um passado deixado para trás com coragem e fé.