Tribuna – Pessach, liberdade e esperança

Pessach, liberdade e esperança
Floriano Pesaro, sociólogo.


“Pessach é uma das celebrações judaicas com o mais amplo significado em nosso calendário. Se Pessach é liberdade, uma vez que marca a saída do povo judeu do Egito escravocrata, é também passagem pelo Mar Vermelho, devoção à fé na passagem pelo Mar Vermelho e inconformismo diante de injustiças, tiranias e arbitrariedades. Nossa história é toda cheia de mensagens e orientações para uma vida plena.


Habitando há mais de quatrocentos anos no Egito, os judeus viram o caminho para a Terra Prometida se abrir com Moisés, hebreu que, adotado pela filha do faraó – e, portanto, gozador de todos os privilégios que lhe podiam ser servidos, recebera de Deus uma missão de liderar seu povo para a liberdade rompendo com o sofrimento da escravidão a que lhe era submetido.

Moisés, no entanto, nunca defendera o conflito para cumprir a determinação que recebera. Cheio de coragem, escolheu questionar o então faraó, que lhe provia condições favoráveis de vida, pela vida de desconhecidos do seu convívio, mas não de sua alma e de sua fé.

Ao perceber que seus questionamentos encontravam o silêncio da ignorância do líder egípcio, Moisés passara a apontar sinais que davam conta de que seu bravo ato em prol de seu povo, que naquele momento era o mais oprimido, não era apenas dele, mas sim de D’us. E assim começaram aquelas que ficaram conhecidas como “pragas do Egito”: sangue, rãs, insetos, piolhos, morte do gado, úlceras, granizo, gafanhotos, trevas e, finalmente, a morte dos primogênitos do faraó.

Para proteger seu povo desta última praga, Moisés ordenou que os hebreus sacrificassem cordeiros e marcassem suas portas com seu sangue para que D’us poupasse seus primogênitos. Então, daí temos o nome de Pessach: “passar por cima”, que é um de seus significados.

Assustado com a última e devastadora praga no seio de sua família, o faraó permitiu que os hebreus, liderados por Moisés, partissem do Egito, mas sem antes determinar também que, como costumeiramente na História, fossem perseguidos. Foi, então, que num ato que provou o compromisso de D’us com seu povo, que Moisés guiara os hebreus pelo Mar Vermelho em direção à terra prometida.

A celebração de Pessach é, portanto, a luta pela liberdade, a inquietude diante da injustiça, a renovação da fé e o renascimento da esperança. O sêder de Pessach deve representar para cada uma das nossas famílias a própria presença de D’us como guardião da nossa fé e da nossa liberdade. Da própria garantia de que estamos neste mundo para cumprir seus preceitos, especialmente, aqueles da justiça e da harmonia entre os povos: Tikunolam e Tsedaká – a concertação do mundo.

E nada, nem ninguém, nos impedirá, e nem conseguira impedir, de cumprir com esta vontade divina, nem que tenha que despertar dentre os mais poderosos tiranos, aquele enviado de D’us que se rebelará em prol da liberdade e da esperança.

Que tenhamos um sêder de Pessach de alegria, confraternização e fé junto de quem amamos da forma e da maneira que desejemos sob o manto da liberdade e da fraternidade.

Chag Pessach Sameach, Floriano Pesaro!”