Hebraica – Há 102 anos, o mundo vivia partes do nosso “presente”

“Há 102 anos, o mundo vivia partes do nosso “presente”Floriano Pesaro, sociólogo.Na sociologia, logo nos primeiros anos do curso, deparamo-nos com uma célebre frase de Karl Marx na publicação “Dezoito Brumário de Louis Bonaparte, 1852”, que assim dizia: “A história se repete, a primeira vez como tragédia e a segunda como farsa”.

Embora em contexto bastante distinto da ascensão de Bonaparte ao comando francês, estamos diante de mais uma repetição da história ao vivermos a pandemia do novo coronavírus. Há pouco mais de um século, o Brasil – e o mundo – enfrentava outra pandemia conhecida por “gripe espanhola”, embora tenha tido seus primeiros casos detectados no interior dos Estados Unidos durante a Primeira Guerra Mundial. Naquele momento e agora, a sociedade teve acesso a uma realidade bastante diferente, mas se comportou de maneira parecida em uma série de aspectos.

Célebres nos livros de História são as capas dos jornais brasileiros à época da pandemia de gripe espanhola que mostravam o terror nas ruas do Rio de Janeiro. O vírus que infectou 500 milhões de pessoas encontrou à época uma realidade mundial bastante diferente da atual.

Havia pouca ou nenhuma informação sobre propagação de vírus e bactérias e, especificamente no Brasil, a rede de saúde pública não existia – diferentemente de ser precária. O único auxílio disponível a quem não pudesse pagar eram as, já superlotadas, santas casas.

A higiene, por sua vez, não era das mais profiláticas e a capacidade de orientar a população por parte dos órgãos públicos era muito limitada num momento em que não existiam as redes sociais e, nem mesmo, a comunicação móvel.

A ciência, por outro lado, encontrava também grau de desenvolvimento muito aquém do atual tornando inimaginável a invenção de vacinas em tão pouco tempo como vemos atualmente.

Fato é que, apesar dos governos tentarem, mesmo no Brasil, algumas medidas de restrição à época, a adesão foi baixa dado a falta de informação e conhecimento e o resultado desastroso. Numa época em que não existia o Sistema Único de Saúde (SUS), as ruas do Rio de Janeiro viram a morte nas calçadas e a paralisia de serviços públicos e privados pela falta de trabalhadores saudáveis.

A reação das pessoas às medidas de restrição tampouco era positiva, como atualmente, mas a gravidade da doença escancarada em suas frentes fazia com que, ao menos, a razão fosse compreendida. Assim como agora, surgiram movimentos que pregavam contra o uso da máscara de proteção alegando ser essa uma restrição de liberdade. Se hoje, com amplo acesso à informação científica, esses movimentos negacionistas levam ao aumento de casos e mortes, pode-se imaginar seus efeitos na época da gripe espanhola.

Outra similaridade que mostra pouco termos evoluído em termos de reação social às pandemias, são os anúncios de remédios milagrosos sem comprovação científica. À época, jornais eram cheios deles o que levava ao aumento de preços e ao sumiço de estoques de produtos como o limão. Aliás, alguns historiadores delegam a uma antiga “fake news” que dizia que cachaça com limão e mel curava a gripe espanhola, a criação da famosa “caipirinha”.

O fechamento de escolas, polêmica que, neste exato momento estamos vivenciando, também fora feito à época o que levou ao Governo Federal determinar a aprovação de todos os alunos independentemente de suas notas até que a situação se normalizasse.

Até mesmo denúncias vistas, agora, durante a crise de saúde em Manaus (AM) de que profissionais de saúde estariam praticando eutanásia para liberar leitos também já teve sua versão em 1918 com boatos do famoso “chá da meia-noite” dado aos doentes nas santas casas que, supostamente, os levavam à morte.

Vários estudos e teses são possíveis comparando a pandemia atual e aquela que afligiu o mundo durante a Primeira Guerra Mundial, dentre elas, acredito eu, está a de que – munidos de conhecimento e tecnologia – não precisamos repetir comportamentos sociais de mais de um século atrás.

Hoje sabemos que o uso de máscaras previne o contágio, que evitar aglomerações é fundamental para frear a transmissão do vírus e de que tratamentos sem comprovação científica custam caro aos cofres públicos e, no máximo, prejuízo à saúde dos pacientes. Não estamos em 1918, mas, infelizmente, você já deve ter visto uma dessas situações, ou todas, nos últimos meses. Aproveitemos as vantagens que nosso tempo nos dá e, juntos, sairemos desse pesadelo e retomaremos nossas vidas.”

Tribuna – As redes sociais e a legitimidade das instituições

Amigas e amigos, compartilho para especial leitura e comentários meu mais recente artigo na TRIBUNA JUDAICA sobre a relação entre nossa estrutura democrática e as redes sociais.

“As redes sociais e a legitimidade das instituições
Floriano Pesaro, sociólogo.

A ascensão das redes sociais como as conhecemos certamente se configurarão num marco histórico em uma variada sorte de ciências humanas, em especial, a História e a sociologia. Contudo, tal fenômeno já é reconhecidamente causador, integral ou parcialmente, dos recentes conflitos entre setores da sociedade civil e instituições democráticas.

Cá, no Brasil, nos Estados Unidos, ou mesmo em Israel, assistimos conflitos perigosos advindos, em grande parte, da falta de reconhecimento nas instituições e no regramento jurídico vigente por parte de setores da sociedade que, antes das redes sociais, não tinham voz para expressar sua discordância.

Eis uma sociedade que deteve largo acesso às redes sociais nos últimos anos, fator inexistente quando da formulação de uma série de seus regramentos jurídicos que lhes permitiram acesso a um mundo de informações – e desinformações – e, também, à voz.

Essa sociedade difusamente vocalizada se depara também com um grupo de juízes e políticos que criam e decidem sobre a constitucionalidade de leis, muitas vezes, abstratas que permitem diferentes interpretações. Adiciona-se a esse caldo um cenário bastante polarizado politicamente, de modo que, cada lado, difunde uma variedade de notícias falsas e informações imprecisas.

Qual país lhe vem à mente?
Alemanha, Brasil, Estados Unidos ou Israel?

Algum desses deve ter lhe passado, e com razão.

Ambas essas sociedades estão constantemente em “pé de guerra” com suas instituições democráticas e suas cláusulas pétreas no que parece ser o turbulento encontro entre a representação direta e confusa – proporcionada pelas redes sociais – e a democracia representativa pautada nas instituições do Estado Democrático de Direito.

Se no Brasil não nos faltam exemplos de conflitos entre decisões políticas e judiciais e a percepção de setores da sociedade, em Israel há, neste momento, um grave caso em curso.

Uma das leis básicas do país, semelhantes às constitucionais brasileiras, mas consideradas ainda mais sagradas no sentido de sua manutenção, está sendo questionado por grupos jurídicos há alguns anos que, agora, conseguiram os ouvidos da Suprema Corte israelense.

Trata-se da Lei do Estado-Nação que entende Israel como um estado do povo judeu. A iniciativa da Suprema Corte em realizar audiências públicas para ouvir os argumentos dos grupos que advogam pela ilegalidade da Lei gerou uma onda de revolta em grupos conservadores que alegaram que desrespeitarão a decisão dos juízes, caso decidam por ouvir os argumentos e revogar a lei básica em tela.

A despeito do mérito deste caso, em específico, o que nos resta é que, mesmo em sociedades relativamente coesas, como a israelense, o descolamento causado, em grande parte pelas redes sociais, entre a sociedade e as instituições democráticas é uma realidade que precisa ser enfrentada por ambos os lados.

É cada vez mais preciso e desejável que adotemos o conceito da radicalização da democracia no mundo. Me parece necessário compartilhar com todos como, e por quais razões, as instituições e os ordenamentos jurídicos dos países foram feitos da forma que são.

É preciso explicar para as populações porque a separação de Poderes é necessária e por qual razão o representante de um deles não pode se negar a reconhecer a legitimidade das decisões de outros.

A mesma tese se aplica aos sistemas eleitorais, eles foram forjados por um pequeno grupo de pessoas de alta intelectualidade que não dialogaram e compartilharam os seus porquês. Pode parecer óbvio para uma parcela da sociedade, mas a desinformação e os ataques ao sistema eleitoral só cessarão se as instituições compartilharem com a população, seja rica ou pobre, as razões de sê-lo da forma que é.

Se, por um lado, esse deve ser um caminho a ser percorrido pelas instituições democráticas e seus representantes – sejam juízes, promotores ou políticos –, por outro, é preciso que a população se reconheça enquanto membro de uma comunidade regrada e pactuada.

Estamos todos – alemães, brasileiros, estadunidenses e israelenses – sob a égide de um contrato social que nos rege enquanto sociedade, onde nossas liberdades não podem ser maiores que aquelas dos nossos compatriotas.

Da mesma forma, o exercício das nossas liberdades não pode incorrer no risco de vida dos outros. Em tudo na vida há direitos e deveres, não é diferente no convívio social.

Seja na Alemanha, no Brasil, nos EUA, em Israel, ou em qualquer outro país democrático do mundo, as redes sociais trouxeram a necessidade de uma repactuação do contrato social que nos rege enquanto sociedade.

Essa repactuação deve ser feita com base na ciência, no bom senso, na educação e, acima de tudo, no apego ao regramento jurídico e institucional. Nada fora dos caminhos institucionais pode levar a um bom resultado. É desse esforço, das instituições e dos povos por elas representados, que dependerá a sobrevivência da democracia no mundo.”

Hebraica – O povo que inova e muda os rumos do mundo

Amigas e amigos, com alegria compartilho para leitura e comentários meu mais recente artigo publicado na Revista do Clube Hebraica SP.

“O povo que inova e muda os rumos do mundo
Floriano Pesaro, sociólogo.

Neste novo ano que se inicia há, majoritariamente, um sentimento entre todos nós: o desejo pela vacina contra o vírus Sars-Cov-2, a Covid-19.

Independentemente de paixões políticas, sabemos que apenas o sucesso da ciência nos livrará dessa lamentável roleta russa – onde, até mesmo jovens com boa saúde, podem desenvolver quadros perigosos do coronavírus – e nos devolver aos braços e abraços de nossos amigos e famílias.

Enquanto os cientistas e as autoridades sanitárias trabalham para que essa realidade chegue ao nosso alcance, podemos explorar um pouco da história por trás da capacidade inovativa que leva ao desenvolvimento de maravilhas como a vacina contra a Covid-19 e como, em boa parte delas, os judeus imprimem suas digitais.

Iniciemos com a vacina desenvolvida pela farmacêutica estadunidense, Pfizer, em parceria com sua par alemã, BioNTech.

O homem por trás do senso de urgência que acelerou, a partir do início de 2020, a Pfizer em busca de um imunizante é o CEO da farmacêutica, Albert Bourla, um judeu nascido no nordeste da Grécia. Bourla viu na parceria com a alemã BioNTech a oportunidade para passar à frente da parceria AstraZeneca/Oxford na corrida pela vacina. E passou.

A parceria entre o executivo judeu e a companhia fundada pelo casal de turcos, Dr. Ugur Sahin e Dra. Ozlem Tureci, foi bem sucedida e, ainda no final do ano passado, passou a viabilizar as primeiras imunizações contra a Covid-19 no mundo com a venda do imunizante Pfizer/BioNTech para os Estados Unidos e para o Reino Unido.

Temos mais um exemplo bem-sucedido no desenvolvimento da vacina. O laboratório estadunidense Moderna, financiado em sua quase integralidade pelo Governo dos Estados Unidos, também iniciou, ainda no final do ano passado, a entrega de seu imunizante contra a Covid-19 aprovado pela agência de saúde norte-americana, Food and Drugs Administration.

À frente da chefia de medicamentos da Moderna está o israelense, Dr. Tal Zaks, formado pela Universidade Ben-Gurion do Neguev, no sul de Israel.
Esses dois exemplos mais recentes de invenções marcantes que tiveram a participação direta de judeus se juntam a um conjunto que representa quase a metade das inovações disruptivas entre a metade do século XIX e o XXI.

Desde inovações sociológicas e políticas, como o Manifesto Comunista e o trabalho vencedor do Nobel de Economia que codificou as explicou as escolhas econômicas humanas irracionais, passando pela invenção do pendrive, do aplicativo de geolocalização, Waze, e chegando até o tratamento da doença de Parkinson e da esclerose múltipla.

Trata-se de um povo que beira 2% da população mundial, mas que soma muito mais inovações e descobertas. Mas, afinal, quais podem ser as razões disso?

No livro “Genius and Anxiety: How Jews Changed the World, 1847-1947.”, o autor britânico Norman Lebrecht nos traz alguns elementos para essa resposta baseado, em especial, nos motivos que levam os judeus a estarem por trás de boa parte das invenções do entre século 1847-1947.

Lebrecht elenca duas principais razões: o estudo e a ansiedade.O hábito pelo estudo, segundo o autor, tem origem no intenso e forçoso zelo à educação.

Com a destruição do Segundo Templo, que visava conter a revolta da Judéia, o culto baseado nos rituais práticos fora, forçosamente, substituído pelo estudo dos textos da Torá. Fez-se, então, preciso e tornou-se hábito cultural o ensino da escrita e o culto à leitura entre os judeus.

O outro fator elencado pelo autor é a ansiedade. Ansiedade no sentido da inquietude que as perseguições aos judeus pela história causaram.

À comunidade não foi dada a oportunidade de um ambiente estável para nos desenvolvermos e nos atermos a determinado grupo de atividades. As diásporas fizeram dos judeus comerciantes, médicos, artistas, intelectuais, compradores e vendedores de terras, enfim, o que fosse possível ser onde estavam.

Por isso, embora não tenhamos as razões científicas pelas quais os judeus de todo o mundo estão envolvidos e cooperam em reflexões, invenções e descobrimentos que mudam a vida de todos, Lebrecht nos traz que elas estão onde mais valorizamos – e assim devemos continuar: nossa história enquanto povo unido e temente as nossas crenças.”

#jew #judaismo #spparatodos #historia #artigo

Floriano propõe caminhos para o social no pós-pandemia em estudo do ITV

“Além da economia, a crise trazida pelo coronavírus teve enorme impacto na área social.

No livro “Brasil pós-pandemia”, o deputado @FlorianoPesaro lidera a discussão e propõe caminhos para a recuperação do país no âmbito socioeconômico.”

🤜🤛 Confira em https://bit.ly/ebookPSDB

Reprodução: Twitter do Partido da Social Democracia Brasileira (PSDB)

Hebraica: Enfim, a alegria de Chanucá

Amigas e amigos, compartilho com alegria meu mais recente artigo publicado na Revista do Clube Hebraica com o título “Enfim, a alegria de Chanucá”.

“Enfim, a alegria de Chanucá
Floriano Pesaro, sociólogo.

Neste ano tão difícil todos nós, alguns mais e outros menos, mas todos, sofremos muito. Perdemos entes queridos, fomos privados dos encontros que nos faziam bem e tivemos nossos trabalhos e nossas rendas impactadas. Foi um ano desafiador que nos exigiu muita resiliência e espírito de corpo e quero começar esse artigo expressando meus mais sinceros sentimentos a quem teve entes queridos levados pela Covid-19.

Seguro de que estamos caminhando para o fim desse conturbado e triste episódio da história da humanidade, quero lembrar que estamos no mês da Festa de Chanucá e que alegria ela nos traz. Alegria porque ela traz o símbolo da libertação do povo judeu através, justamente, da união e da resiliência frente às adversidades.

Brevemente, vamos retomar à História: nosso povo vivia, há 2.000 anos, em Eretz Israel de modo autônomo e livre, ainda que nossa terra fosse controlada pelo rei selêucida da Síria. Trocávamos a nossa liberdade religiosa pelo pagamento de impostos ao tirano invasor, o que, apesar dos infundados preconceitos, mostra nossa elevação moral e religiosa enquanto povo.

Em determinado momento dessa dominação, o tirano Epifânio assumiu o trono do que restou do império grego e se deu por convencido de que a existência dos judeus praticando sua religião em suas terras não seria mais tolerada. O tirano ordenou que aqueles que insistissem em permanecer nas terras da Judéia deveriam seguir a cultura, os costumes e o culto às divindades gregas.

Ao notar que existia relevante resistência do povo de Moisés ao cumprimento da ordem imperial, principalmente em Jerusalém, Epifânio sufocou violentamente revoltas judias e construiu um altar para Zeus sobre o Templo Sagrado judaico. Buscando subjugar a alma dos judeus, o tirano ainda profanou o Templo com o sacrifício de animais não kasher e proibiu a leitura da Torá.

Muitos de nós foram mortos, outros escolheram tirar a própria vida a abandonar D’us e a Torá naquele momento. Contudo, os judeus conceberam o primeiro milagre de Chanucá, de ordem prática, derrotando – sob comando de Yehudá Macabeu, da família dos Hasmoneus – uma ofensiva militar dos greco-sírios sobre Modim, no sul de Jerusalém. Um pequeno exército de judeus camponeses venceu o temido exército imperial, libertou Jerusalém do domínio selêucida e purificou o Templo Sagrado.

Essa é a motivação pela qual celebramos a Festa de Chanucá. Somos livres e estamos livres pelo suor, pelo sangue e pelo esforço de nossas próprias mãos sempre guiadas por D’us e pela Torá. Depois desse primeiro milagre na Judéia, nosso povo foi agraciado com um segundo. Após a purificação do Templo, outrora profanado, deu-se conta de que havia apenas um jarro de azeite selado e intacto para que as luzes da Menorá fossem acessas. Nessa altura, sabia-se que as luzes permaneceriam por apenas um dia diante daquela quantidade escassa de azeite.

Contudo, como se para celebrar tal conquista desse povo de tanta História e devoção, a luz que emanou da Menorá perdurou por oito dias.

Por isso, sugiro que celebremos com alegria, apesar deste difícil episódio pelo qual passa a humanidade. Celebremos porque fomos resilientes, mais uma vez em nossa história, e porque levamos nos nossos corações infinita esperança que nos assegura D’us e a Torá.

Acendamos, então, cada vela da chanuquiá ao brilhar das estrelas e ao pôr do sol na véspera do Shabat com essa esperança de que a luz iluminará nosso caminho nos trazendo prosperidade e saúde no ano que virá.”

Tribuna – O terror e a injustiça social

Amigas e amigos, compartilho para leitura e comentários meu artigo mais recente publicado na TRIBUNA JUDAICA sobre o terrorismo, as ameaças às liberdades e os perigos da desigualdade social.

“O terror e a injustiça social
Floriano Pesaro, sociólogo, ex-Deputado Federal

Os mais sábios da nossa comunidade, nossos rabinos e líderes, sempre nos lembram que não podemos baixar nossa guarda frente ao antissemitismo. A segurança da nossa família e da nossa comunidade e o combate ao terrorismo devem ser nossas prioridades, mas – por vezes – em períodos de relativa paz, acabamos por não as prover da importância necessária. Os recentes ataques terroristas na Europa no último mês, mais marcadamente na França, contudo, nos lembraram de que o extremismo terrorista está, não só vivo, mas próximo e à espreita.
Foram três brutais atentados, dois na França e um na Áustria, este último reivindicado pelo grupo terrorista Estado Islâmico. Embora, até onde se tenha conhecimento, não se trataram de ataques antissemitas, esses três atos covardes atentaram contra as liberdades individuais, de escolha, de pensamento e, certamente, de crença.

Onde não há liberdade, nós, judeus, não estamos seguros e sabemos bem disso.

Para nossa comunidade, ataques terroristas, infelizmente, não são uma chaga recente, já que, considerando apenas a França, desde 1980, os judeus são alvo de atentados. Basta lembrarmos da bomba explodida em frente a União Liberal Judaica de Paris em 1980, ou ainda do ataque a Escola Ozar Hatorah no ano de 2012 em Toulouse. Ou ainda, do mais recente, atentado ao supermercado Hyper Casher, também em Paris, que deixou quatro mortos em 2015.

A França, em especial, tem um grande desafio pela frente e nós devemos acompanhar atentos como ela buscará solucioná-lo nos próximos anos. Há um conflito entre o princípio da laicidade francês e a crescente islamização de sua própria população que, outrora imigrantes, ainda não tomaram para si os valores franceses da liberdade, igualdade e da fraternidade encontrando na religião seu único laço de identificação social.

É sempre bom frisarmos que, por si só, esse fenômeno social não está ligado ao recrudescimento do terrorismo extremista e nem às ameaças a nossa comunidade ou a qualquer outro grupo que exerça sua liberdade em plenitude. Contudo, essa falta de identificação de valores junto da desesperança e de piores condições de vida criam terreno fértil para que os extremistas arregimentem pessoas e as transformem em terroristas que destroem vidas, sonhos e, em última instância, a própria ordem social.

Para quem gosta de referências audiovisuais, tomo a liberdade para recomendar a série de streaming, “Califado”, que, ambientada em Estocolmo e em Raqqa, mostra a estratégia dos terroristas no aliciamento de jovens suecas às organizações promotoras do medo e do ódio. Por meio da sedução e prometendo um “senso de pertencimento”, essas jovens são cooptados e, depois, se veem presas e obrigadas a operarem os atos mais nefastos.

Por isso, enquanto comunidade judaica, é nosso dever denunciar o antissemitismo e, também, as injustiças sociais e os preconceitos. Onde há pobreza e segregação no mundo, há campo fértil para que propagadores do ódio seduzam pessoas descrentes para o terror.

Nós devemos, portanto, sempre ouvir os mais sábios citados no início deste texto. Não baixemos nossas guardas em nenhum lugar do mundo, mas, também, não nos silenciemos diante de atentados de qualquer natureza à liberdade do próximo. Um professor silenciado por exercer livremente sua atividade profissional pode ser o judeu de amanhã atacado por exercer, igualmente livre, sua fé e sua crença.

O compromisso com as liberdades e a democracia é nosso dever enquanto promotores da concertação mundial, do tikun olam.”

Hebraica: “Ainda é fundamental discutirmos o machismo”

“Ainda é fundamental discutirmos o machismo
Floriano Pesaro, sociólogo.

Historicamente, todos os momentos em que grupos minorizados avançam na conquista de direitos e representação na sociedade, logo em seguida, vem um movimento de revés. Como uma reação em todo o mundo, estamos vendo no caso das mulheres, aumentarem as denúncias de violência, principalmente, doméstica nas suas mais variadas formas: física, mental, sexual e até financeira. São suspiros de um tempo passado que precisam ser apontados, denunciados e discutidos. Recentemente, Brasil e Israel tiveram, mais uma vez – infelizmente, “casos-exemplos” de como o machismo se traduz, no limite, numa terrível e incompatível violência.

O primeiro movimento organizado que buscou mudar o estatuto jurídico de inferioridade das mulheres – muito comum em quase todos os países ocidentais até o século IX – teve início na Revolução Francesa, onde mulheres não só eram alijadas do processo eleitoral, como de toda a participação ativa na sociedade. Até mesmo a violência física e sexual por parte dos maridos era tida como aceitável. Com idas e vindas, o movimento feminista iniciou uma série de vitórias – mais notadamente nos países ocidentais – a partir do fim da Segunda Guerra Mundial com a massiva adesão de países ao voto feminino. Foi, contudo, em 1857, no dia 8 de março, que o movimento feminista passaria a conquistar vitórias nas mais diversas áreas da sociedade com uma ação policial durante protesto de mulheres numa fábrica têxtil em Nova Iorque com 129 delas mortas.

No mês passado, dois casos exemplificaram duas distintas facetas do machismo, mas intrinsicamente conectadas. Em primeiro lugar, o caso do jogador de futebol, Robinho, que – após condenado pela justiça italiana em primeira instância – teve a investigação com áudios em que admitia participar da violência sexual publicada nos veículos de comunicação. Esse é um caso bastante típico de violência contra a mulher repudiado pela massiva parcela da sociedade e, cada vez mais, reprimido pelas leis em todo o mundo. Contudo, um aspecto desse caso nos chamou atenção. Robinho, num dos áudios publicados, expôs que não considerava ter participado do crime sexual. Há, ainda, na nossa sociedade a dificuldade em definir o que é um caso de violência sexual. Qualquer contato físico desautorizado ou numa situação em que a mulher não esteja na plenitude de suas faculdades mentais é uma violência e, portanto, é um crime.

O segundo caso aconteceu em Israel e foi protagonizado por alguns membros do Knesset – o Congresso israelense – durante as discussões para uma nova lei que combata o abuso financeiro contra a mulher. Essa é uma faceta do machismo ainda desconhecida, mas historicamente presente. A violência financeira se caracteriza quando a mulher é subjugada pelo homem em virtude do controle das finanças da família. No episódio israelense, a organização da sociedade civil, Politcally Corret, que luta pelos direitos das mulheres, veio à público denunciar que membros da Knesset tiveram reações machistas e se opuseram ao projeto de lei que previa medidas preventivas para mulheres vítimas de violência que foram, além de traumatizadas, endividadas pelos seus maridos dificultando sua reinserção social. A organização disse que a reação de alguns parlamentares lembrou vozes conservadoras que se levantaram quando a Knesset tornou proibida a prática do “estupro matrimonial” nos anos 80. Sim, até os anos 80, o estupro dentro do casamento não era considerado crime, não só em Israel, mas em diversos países ocidentais. Ainda hoje, é bastante comum nos países árabes.

Esses são dois casos que mostram a necessidade da contínua revisão dos padrões machistas que, ainda, regem nossa sociedade. Longe de querer uma outra forma de dominação, é missão de todos nós – homens e mulheres – garantir uma sociedade com igualdade de oportunidades e de respeito para todos os gêneros.

No episódio que envolveu o jogador de futebol, fica clara a necessidade da educação para o convívio social desde as escolas. Ensinar a respeitar os outros e seus espaços individuais – que deveriam ser invioláveis. No caso israelense, a maneira estrutural e ampla com a qual o machismo se traduz na sociedade fica latente. A independência financeira da mulher é, sim, mais que uma escolha individual, uma situação que deve ser perseguida pelas políticas públicas. No Brasil, tivemos o primeiro movimento nesse sentido com a construção da sistemática de pagamentos do Bolsa Escola – o qual tive participação enquanto criador e gestor ao lado do ex-Ministro da Educação do Governo FHC, Paulo Renato Souza. No âmbito do programa, as mulheres eram as titulares do benefício por meio de cartão eletrônico registrado em seus nomes, garantindo o papel da mulher no núcleo familiar.

Embora já tenhamos caminhado bastante, o machismo está intrínseco na sociedade. Ainda precisa ser objeto de ampla discussão ao notarmos – cada vez mais – seus efeitos diretos e indiretos para as mulheres, seja no âmbito financeiro – em especial na diferença salarial – ou na definição do que é compreendido, ou não, enquanto violência contra a mulher.”

Floriano recebe a Medalha Anchieta na Câmara Municipal de SP

Na última quinta-feira (29/10), o sociólogo, ex-Deputado Federal e ex-Secretário de Estado do Desenvolvimento Social de São Paulo, Floriano Pesaro, recebeu, das mãos do Vereador Daniel Annenberg (PSDB-SP), a Medalha Anchieta, a maior condecoração possível para um paulistano.

Estiveram presentes na mesa de autoridades, o ex-Governador do Estado de São Paulo, Geraldo Alckmin, o Prefeito de Barretos (SP), Guilherme Ávila, o Magnífico Reitor da Universidade Brasil, Felipe Sigollo, e a Diretora Executiva da Rede de Ação Política pela Sustentabilidade (RAPS), Mônica Sodré.

O evento seguiu as normas do Comitê Civil de Acompanhamento ao Coronavirus da Câmara Municipal de São Paulo.

Confira abaixo o discurso do homenageado, Floriano Pesaro, e clique aqui para conferir as fotos do evento:

“Boa noite a todas e a todos, é uma alegria imensa estar aqui nesta noite com vocês.

Quero agradecer a presença de todas e todos, presencialmente e virtualmente, e de todos aqueles que se dispuseram a compartilhar uma parte do seu tempo para participar deste que é um dos momentos mais importantes da minha vida – pessoal e pública.

Eu quero agradecer ao Presidente da Câmara Municipal de São Paulo, Vereador Eduardo Tuma, e ao meu Vereador Daniel Annenberg pelo carinho, pelo respeito e, especialmente, pela consideração. Isso não é pouca coisa.

É um reconhecimento que nem sei se mereço, mas que está sendo concedido a mim nesta noite por uma série de trabalhos, um conjunto de ações dos meus 30 anos de dedicação à vida pública, que fiz com amor, que fiz com disposição e com vontade de acertar. Por isso, talvez, considero que tenha feito muitas coisas boas.

Mas, ao me dedicar à vida pública, abri mão da minha vida privada, porque – apesar de compatíveis uma prevalece sobre a outra. A minha vida pública sempre prevaleceu sobre a minha vida privada. Dessa forma, eu quero aqui iniciar esse meu discurso agradecendo em primeiro lugar à minha família.

À minha esposa, Maria Eugenia, aos meus filhos, Rodrigo e Fernando, aos meus pais, Lucília e Giorgio, aos meus irmãos, Fabia e Eduardo, e aos meus primos.

A todos aqueles que me viram nascer e que conviveram comigo desde cedo. Estes, sim, sabem do meu caráter, da minha moral e o do meu profundo respeito pelas pessoas.

Todos aqui sabem porque eu decidi trabalhar e me dedicar à vida pública: é uma vocação no sentido mais Weberiano da palavra. Servir ao próximo, melhorar a vida da minha comunidade, da minha cidade e do meu país.

Quero agradecer também aos meus amigos, que sofreram também, ao longo desses anos pela minha ausência, o que se deu muitas vezes, pela falta de tempo e oportunidade de estarmos juntos, viajarmos, jantarmos ou, até mesmo, fazermos uma simples visita a casa um do outro. Por isso deixo aqui a todos eles o meu muito obrigado pela compreensão e por não terem desistido de mim!

Entre todos quero citar o Sandro Kuschnir, Rodrigo Kozma e Bruno Schurmann. Eles são os melhores exemplos dos meus amigos que sofreram com essa ausência, mas que nunca me abandonaram.

Agradecer, também, a todos aqueles que estiveram comigo ao longo dessa jornada de 30 anos. Eu realmente agradeço a todos os profissionais com quem eu tive a oportunidade de trabalhar. Pessoas incríveis que são, peço desculpas por muitas vezes não ter reconhecido a importância devida de cada um.

Tudo o que fizemos, fizemos juntos. Foi uma construção coletiva e de muitas cabeças. Por que não dizer também de muitas mãos? Afinal, muita gente se envolveu nos mais diversos programas públicos que criamos ao longo dessa longa jornada. E aqui estamos. Por isso, hoje quero transmitir a minha palavra de agradecimento, mais uma vez, a todas e todos que colaboraram pelo privilégio que tive de trabalhar com vocês, pessoas incríveis.

O início dessa jornada deu-se ao lado do presidente Fernando Henrique Cardoso em Brasília no ano de 1995 junto com o então ministro chefe da Casa Civil, Clóvis Carvalho, e com o sociólogo – com quem aprendi muito – Eduardo Graeff. Assim formamos um time que trabalhou no Congresso e aprendeu a respeitar os parlamentares. Esse foi um trabalho incrível pelo qual conseguimos aprovar as mais importantes reformas constitucionais da ordem econômica do Brasil.

Foram muitas, mas lembro bem da aprovação da quebra dos monopólios do petróleo, das telecomunicações, do gás canalizado, da navegação de cabotagem, da reforma administrativa, da reforma da previdência, e, por último, da emenda da reeleição. Esta última mudou a história do Brasil.

Foram quatro anos de profundo aprendizado. Eu era muito jovem, é verdade. Com 26 anos cheguei a Brasília para ser assessor parlamentar da Presidência da República, ao lado do presidente Fernando Henrique Cardoso. Depois, nos quatro anos seguintes, tive a oportunidade – entre 1998 e 2002 – de trabalhar com uma equipe das mais importantes que já conheci.

Foi na área de educação, trabalhando ao lado do saudoso ministro Paulo Renato Souza, como diretor do Financiamento Estudantil – o FIES. Trabalhei ao lado da Professora Maria Helena Guimarães Castro, da Professora Iara Prado. Fui também mentorado pela amiga querida – imprescindível em todo início dessa vida pública – Professora Gilda Portugal Gouvêa. E é em nome dela que quero cumprimentar todas as mulheres com quem tive a oportunidade de trabalhar ao longo dessa jornada.

Foram anos de muito aprendizado, mas também de muita efetividade na política pública. Nesse período, sob a orientação e a batuta do ministro Paulo Renato – na minha visão o melhor ministro da Educação da história do Brasil – tive a oportunidade de criar e implantar o Fies, o Financiamento Estudantil, e o primeiro grande programa de transferência de renda do Brasil, o Bolsa Escola federal. Impactamos mais de 5 milhões de famílias e mais de 10 milhões de crianças em 5.570 municípios brasileiros. Foi o maior desafio, até então, da minha vida. Terminado o governo Fernando Henrique, voltei para São Paulo com a minha família e sem um destino certo.

Voltei com uma mão na frente e outra atrás. Contudo, trouxe na bagagem um enorme reconhecimento do trabalho que havia sido feito. Imediatamente, fui convidado pelo então secretário chefe da Casa Civil do Governo do Estado de São Paulo, Arnaldo Madeira. O Madeira já me conhecia e me acompanhava há muitos anos como líder do Governo Fernando Henrique em Brasília. Tivemos a oportunidade de trabalhar juntos na assessoria parlamentar e na liderança do governo no Congresso. Mas, mais do que isso, Arnaldo Madeira me conhecia porque estudei com a filha dele, Daniela Madeira, no Colégio Soma Ensino e Pesquisa.

Lá, ele me conheceu quando eu ainda tinha por volta de 12 anos. Então, Arnaldo me convidou para compor a equipe dele como secretário adjunto da Casa Civil do Governo do Estado de São Paulo. Um governo que se iniciava sob a liderança do Governador Geraldo Alckmin com quem eu tive o privilégio, durante dois anos, de despachar todos os dias – incluindo muitos finais de semana. Com o Governador Alckmin viajei muito, aprendi e conheci um dos homens mais dignos e mais corretos que se dedicou à vida pública. Como servidor, aprendi muito com Alckmin.

Assim como aprendi muito com Arnaldo Madeira, que sempre foi uma pessoa muito especial, sério, dedicado, honrado e preocupado com as políticas públicas, com seu monitoramento e com sua avaliação em busca de resultados para a população.

Esse foi um período rico de aprendizagem. Conheci o estado de São Paulo em todas as suas áreas e todas as suas demandas. Grande parte dos seus municípios. Neste período – que foi relativamente breve, mas intenso – Arnaldo Madeira me deu a possibilidade de ser, de fato, um executivo público aprendendo – e muito – com ele todos os dias. Nesses dois anos pude coordenar o Comitê Estadual de Política Social, que integrava as políticas públicas de educação, saúde, assistência social, trabalho, cultura e esporte. Além disso, tive também o privilégio de ter trabalhado na área da tecnologia da informação, como presidente do conselho da Companhia de Processamento de Dados do Estado de São Paulo. Foi um tempo de profundo conhecimento e de muitas realizações ao lado do nosso competente Vereador Daniel Annenberg. Trabalhamos juntos na ampliação do Poupatempo, na criação do Poupatempo Móvel e na criação do e-Detran. Era a época do início dos aplicativos.

Construímos também as bases da transparência, do Governo Eletrônico e do Governo Aberto. Criamos a Bolsa Eletrônica de Compras – a BEC – que gerou uma economia imensa para o Estado de São Paulo.
Eu estava lá ao lado do Daniel, do Arnaldo Madeira e, todos nós, sob o comando de Geraldo Alckmin.
Mas, nunca me esqueço, que, em 2004, tivemos as eleições municipais em São Paulo em que o Senador José Serra, então candidato, disputou a Prefeitura de São Paulo pelo PSDB contra a então prefeita, Marta Suplicy.

Não pude participar ativamente daquela campanha, porque – como disse – estava no Governo exercendo funções de alta relevância, que me consumiam grande parte do tempo e da dedicação.

Mas, de coração, fiz campanha. Fiz e ganhamos a eleição! Serra eleito, começou a montar o seu governo. Nunca mais me esqueço da história contada por ele mesmo, José Serra, que – consultando a então professora Ruth Cardoso sobre quem deveria colocar na área do desenvolvimento social. Ruth, que me conhecia do governo Fernando Henrique, do Comunidade Solidária e da implantação da Bolsa Escola federal, disse, sem pestanejar. de forma direta e clara:

“Coloque o Floriano e ele poderá fazer diferença na sua gestão. Eu tenho certeza que ele fará a diferença na gestão social da cidade de São Paulo”.

E assim, dessa forma, no início de dezembro de 2004 numa tarde de trabalho no Palácio dos Bandeirantes, recebo uma ligação do então ex-ministro Clóvis Carvalho – que coordenava parte do programa de governo de José Serra. Carvalho perguntou se eu topava sair do Governo do Estado e ir para a Prefeitura. Eu respondi de pronto que tinha disposição, mas que era preciso conversar com o Madeira e com o Governador Alckmin.

Dois dias depois, foi a vez do próprio prefeito eleito entrar em contato comigo. Serra me ligou e formalizou o convite para que eu fosse o seu Secretário de Assistência e Desenvolvimento Social da Cidade de São Paulo, às vésperas do Natal, com o consentimento de Arnaldo Madeira e de Geraldo Alckmin.

Assumi o desafio no dia primeiro de janeiro de 2005 como secretário de Assistência e Desenvolvimento Social da Cidade de São Paulo com o compromisso de trabalhar pela população em situação de rua, pelas crianças que perambulavam pelos semáforos em situação de trabalho infantil e pela população mais pobre das periferias e das comunidades de São Paulo.

Pelos Direitos Humanos, sob orientação do Ministro José Gregori, pela diversidade em parceria com a Heloisa Gama Alves e o Cassio Rodrigo, pela igualdade de gênero e pela igualdade racial. E assim caminhamos. Caminhamos na perspectiva de fazer a diferença. Olhando hoje, de trás para frente, posso dizer que fizemos diferença na cidade de São Paulo e somos reconhecidos por isso até hoje.

E não sou eu que digo. São as pessoas. Sejam aquelas que trabalharam conosco na época, seja quem foi de alguma forma beneficiado pelos programas e políticas públicas que construímos na SMADS. Tive a honra de pertencer a uma equipe sob a liderança do então prefeito José Serra e do Secretário de Governo, Aloysio Nunes Ferreira. Dois grandes gestores, dois grandes administradores, duas pessoas de competência reconhecida. Competência pública.

Montamos a equipe: a primeira pessoa, Maria do Carmo Brant de Carvalho, a professora Carminha. Uma das mais renomadas figuras da academia na área da Assistência Social, profunda conhecedora e nos ajudou, como secretária adjunta, a formular as primeiras políticas voltadas para o desenvolvimento social na cidade de São Paulo. Lembro bem, como é típico de pessoas extraordinárias, muito jovens, mas sob o comando de alguém com muita experiência que era a professora Carminha.

Eu, Paula Galeano, que também exerceu a função de secretária adjunta, Paulo Aguado meu chefe de gabinete, Anna Maria Azevedo, como coordenadora geral, Adriana Palheta, Ester Tarandach, Flávia Bonavigo, Laura Santucci, Lígia Pimenta, Marina Bragante, Renata Ferreira, Sonia Maria de Souza, Tatiana Amendola e Viviane Delgado.

Todas as minhas supervisoras de assistência social a quem eu faço uma homenagem em nome da Márcia Cassiana Rosa. Minha fiel escudeira mulher de fibra que sempre esteve ao meu lado me dando todo o apoio e suporte técnico.

Montamos um timaço. Não posso esquecer de citar Sandra Regina Gomes, que me ensinou como tratar a questão do envelhecimento. Tema tão relevante e tão importante ainda nos dias atuais.

Com esse timaço, nós criamos as mais importantes políticas sociais na cidade de São Paulo alicerçada em dois pilares.

O Programa São Paulo Protege, liderado pela destemida Adriana Palheta, que trabalhava com moradores em situação de rua, e com crianças em situação de trabalho infantil, nos mais diversos cruzamentos de São Paulo. Acolhemos e demos um novo destino para suas vidas com o trabalho incansável da assistente social Renata Ferreira. Havia mais de 12 mil pessoas em situação de rua. Acolhemos em 4 anos mais de 3 mil homens e mulheres, jovens e idosos que viviam nas ruas em situação de extrema vulnerabilidade social. Tiramos 4 mil crianças das ruas de São Paulo que faziam malabares, que vendiam bala e que limpavam o vidro do carro com a ampliação da escola e do pós-escola.

Em parceria com a Educação a Assistência conseguimos mais do que triplicar o número de vagas em centros de juventude para que as crianças pudessem ficar ocupadas no turno e no contraturno escolar. Isso foi feito a partir do direcionamento dos recursos que eram dados em esmolas nas ruas para o Fundo Municipal da Criança e do Adolescente a partir do direcionamento fiscal de empresas e pessoas físicas.

Na outra ponta, criamos o programa “Ação Família: Viver em Comunidade”, liderado pela Ligia Pimenta e pela Marina Bragante. O primeiro e mais importante programa brasileiro que trabalhava com o binômio família e comunidade no território. Um programa que atingiu, no seu primeiro ano, 60 mil famílias que foram beneficiadas diretamente por uma ação articulada, intersetorial e transversal que incluía as secretarias da habitação, da saúde, da educação, do trabalho, da assistência da cultura e do esporte no território.

Aqui criamos o conceito inovador de trabalhar a família na sua integralidade – a partir das suas demandas – e oferecer múltiplas ofertas de serviços. Eu devo isso a duas mulheres que nos ajudaram a pensar e formular esse processo, a Professora Carminha e a Paula Galeano. Duas mulheres que estiveram ao meu lado nos momentos mais importantes da formulação das políticas públicas. Em nome delas, eu quero agradecer a toda equipe. Foi uma equipe de mulheres valorosas. Aprendi muito com elas. Aprendi a trabalhar ao lado das mulheres. Não na frente, mas ao lado.

Foi um período muito rico, talvez o mais rico da história. Aproveito para agradecer ao José Ramos, motorista responsável por eu conhecer cada esquina desta cidade.

Durante esse processo de formação e de implantação de políticas públicas, lembro que andamos por toda a cidade. Andamos por todos os 96 distritos da capital. Todas as subprefeituras em aliança com todos os subprefeitos, que foram muito parceiros. Quero agradecer a parceria que tive com os secretários da educação e da saúde. Mas, acima de tudo, quero agradecer a confiança que recebi do prefeito José Serra nessa jornada. Serra, meu muito obrigado pela confiança e pelo carinho.

Essa fase foi muito importante na minha jornada. Foi a partir desse trabalho, que, em 2008, disputei a minha primeira eleição, uma eleição dura e difícil. Eleição para vereador em São Paulo. Acho que é a eleição mais difícil que existe. Uma concorrência brutal, enorme. 55 vagas para mais de 2 mil candidatos. E ali estava eu disposto a enfrentar as urnas. Como estão vocês hoje, Eduardo Tuma e Daniel Annenberg.

Foi uma jornada incrível. Aprendi a fazer campanha. Aprendi que, você pede voto com humildade, com respeito ao eleitor e com paciência explicando aquilo que você fez e aquilo que você quer fazer.

E não é para você. Ninguém se ganha uma eleição sozinho, a gente ganha eleição juntos. Quando a gente tem, de fato, o povo do nosso lado, porque – de alguma forma – nós os convencemos de que nós somos bons representantes.
Nessa jornada eu não posso deixar de agradecer a um grande amigo e companheiro, que fez muita diferença nessa primeira eleição. Foi o Luís Sobral. Sobral foi o coordenador da minha primeira campanha. Ele ajudou a pôr de pé, desde a base, a organizar a vitoriosa campanha.

Também não poderia deixar de citar nessa jornada, o Felipe Sigollo, que também nos ajudou a pensar e coordenar a campanha. Felipe, que já tinha trabalhado comigo lá no Bolsa Escola, e ao meu lado no Palácio dos Bandeirantes, ainda como aprendiz de feiticeiro, voltava com tudo agora. Mais maduros e com mais experiência – agora – voltávamos com um mandato.

De 2009 a 2012, assumimos o mandato de vereador da cidade de São Paulo com o compromisso de trabalhar pela assistência social e pela educação com respeito a tudo o que havia aprendido com o ministro Paulo Renato e com a professora Gilda Portugal Gouvêa. Foi nessa época que também nos dedicamos a um campo mais exclusivo que era a educação inclusiva. A dedicação à educação inclusiva passou a ser um dos pilares do meu mandato.

E aqui quero fazer uma homenagem à família Almeida. A Eliana Almeida e a todos os seus filhos que me ensinaram e incentivaram neste caminho. E, também, a Fernanda Jimenez que nos inspirou na missão de incluir pessoas com deficiência.

Nós montamos um gabinete altamente especializado, técnico, com as presenças da Paula Galeano, da Marina Bragante, da Cristina Carmona, do Sandro Kuschnir, e do próprio Sobral, que se dispôs, nos primeiros meses, a nos ajudar como meu chefe de gabinete.

Um aprendizado mútuo. Todos nós aprendemos muito e amadurecemos politicamente. Durante o mandato não posso deixar de citar uma das pessoas mais importantes nessa fase da minha vida. Nessa fase inicial, que era a fase legislativa, depois de quase 14 anos como executivo público. E, agora, estava no Legislativo, ao meu lado, Mendy Tal, meu orientador e meu mentor político.

Uma pessoa muito especial, que me ajudou a compreender, que me ajudava a preparar os discursos, que me ajudava na análise política, numa visão mais ampla, mais profunda e com muito mais experiência. Não posso deixar de agradecer aqui o tal do Mendy Tal, que foi meu grande parceiro ao longo de dez anos de vida parlamentar.

A passagem para o Legislativo paulistano deixou marcas na cidade. Vários projetos importantes e várias articulações. Destaco aqui a lei municipal de resíduos sólidos, quando fui presidente da Comissão Especial de Meio Ambiente da Câmara de São Paulo. Lembro também da Lei que criou a Política Municipal de Educação Inclusiva. As leis que criaram as festividades judaicas no calendário oficial de eventos da cidade de São Paulo. A aproximação política e institucional da cidade de São Paulo com o Estado de Israel e com as instituições judaicas brasileiras.
As homenagens e os prêmios, nas áreas da educação, da assistência social e da cultura, como a lei que criou o Prêmio José Renato Levy de Cultura.

Também não posso me esquecer da atenção que demos à Primeira Infância e à inédita transparência durante meu mandato. Sobre isso quero agradecer, especialmente, a Carla Chiamarelli pelo incessante trabalho de promoção dos direitos das crianças e de seu desenvolvimento integral. Além disso, agradecer a Bruna Borghetti, fiel amiga, que fez o que hoje parece novidade: Deu total transparência aos números do mandato nos aproximando do eleitor.

Impulsionado pela avaliação da ONG Voto Consciente, que me deu o título de melhor vereador por dois anos consecutivos da Câmara Municipal de São Paulo, no final de 2012, decidi pela minha recondução, pela reeleição. Fui reconduzido pela população em 2013 com 10 mil votos a mais do que na eleição de 2008 chegando a quase 40 mil votos.
Foram dois anos de muita luta, já líder da minha bancada. Fui líder por quatro anos consecutivos entre 2011 e 2014.

O líder mais longevo da história da bancada do PSDB nessa Casa. E como líder do PSDB, em oposição ao então prefeito Haddad, e ao governo federal de Lula e de Dilma. Assumi também o papel informal de Líder da Oposição.

Era combativo. Discursava todos os dias mostrando as mazelas do governo Haddad. As mazelas dos governos petistas de Lula e Dilma. Formamos um grande bloco, uma grande ação política contra o aumento injustificável do IPTU, dentre outras medidas, e promovemos, respeitosamente, grandes debates nessa Casa, que culminou com o enfraquecimento político do Prefeito Haddad. Já no final de 2010 e início de 2014, um conjunto de pessoas das mais variadas origens me apelavam para deixar o mandato e alçar novos voos.

De vereador fui disputar uma cadeira na Câmara Federal porque era necessário uma voz firme e contundente pela ética. Uma voz que pudesse ecoar também em Brasília Dessa forma. decidi ser, mais uma vez, candidato em 2014, a deputado federal. Saí desta Câmara. para a Câmara Federal com a missão de ser uma oposição firme consistente e contundente contra o governo Dilma e suas mazelas, especialmente, na área econômica.

Mais uma vez, sob a coordenação dos meus principais parceiros, Mendy Tal, Luis Sobral, Sandro Kuschnir e Irineu Ferraz, e da minha parceira, Marina Bragante, enfrentei as urnas. Com o apoio do Daniel Annenberg numa enorme parceria de deputado estadual e federal, numa dobrada, como se chama. Rodamos o Estado inteiro levando a mensagem de dias melhores, a partir de uma atuação coerente, firme, honesta, decidida e responsável.

E assim o fizemos. E assim avançamos.

Em outubro de 2014. estava eleito deputado federal pelo estado de São Paulo com pouco mais de 114 mil votos.
Foi uma campanha incrível e de imensa mobilização e adesão. Fica o meu profundo agradecimento a todos que puderam colaborar com ela. Foram centenas de pessoas.

Para minha surpresa, em dezembro de 2014, recebo uma ligação do Palácio dos Bandeirantes. Era um domingo no final da tarde. Na linha o governador reeleito de São Paulo, Geraldo Alckmin querendo falar comigo.

Eu não tinha ideia do que se tratava, mas sabia que só poderia ser coisa boa vindo de quem nutro profundo respeito, carinho e apreço. E não deu outra.

O governador, então, me convida para ser o seu Secretário de Desenvolvimento Social do Estado de São Paulo. Uma função extremamente relevante e importante, que poderia fazer diferença para o meu estado e para o meu povo. Sabia que teria um desgaste enorme, porque muitos acreditavam na minha voz em Brasília.

Era um dilema. Foi um dilema em toda essa jornada. Mas, acreditei que tivesse tomado a decisão mais correta e vim servir ao meu estado. Ao meu povo. ao lado de um homem digno e correto, que é o governador Geraldo Alckmin.

Licencie-me do mandato para que pudesse assumir, o então, deputado eleito suplente, Roberto Freire. Um homem igualmente digno e correto, por quem tenho profundo apreço. Roberto assumiu no meu lugar a cadeira em Brasília e eu assumi a Secretaria de Desenvolvimento Social. Foi uma jornada longa de quatro anos de imensas dificuldades financeiras e de equipe num momento diferente das vidas de todos nós. Um imenso desafio.

Mas assim o fizemos. Tive ao meu lado, novamente, o incansável Felipe Sigollo, que chamava de fiel escudeiro, uma das pessoas mais corretas, justas, trabalhadoras e dedicadas que conheci. É impressionante a capacidade de trabalho do Felipe. Tive, também novamente, o Mendy Tal e a Marina Bragante. Todos eles ajudaram. Foi ao lado deles que nós construímos essa nova e desafiadora jornada.

E aqui quero fazer uma homenagem especial à minha fiel companheira de todas as horas, que há mais de 10 anos já caminhava ao meu lado, a escudeira Marilda Soller, uma incrível mulher.

Esse foi o período talvez mais difícil da minha vida: ter o mandato de deputado federal e não poder exercê-lo por ter um compromisso com o meu estado e com meu governador. Mas, fiz. E fiz com lealdade, com responsabilidade e com muita dedicação.

Dias e dias, semanas e semanas, construindo políticas públicas e inaugurando equipamentos públicos. Trabalhando com idosos, com crianças e com adolescentes Cuidando das pessoas com deficiência, dos direitos humanos e da primeira infância com uma equipe incrível e aqui, mais uma vez, destaco o Felipe Sigollo, que foi meu secretário adjunto, Mendy Tal, meu chefe de gabinete e a Marina Bragante, também minha adjunta. Cito também a Gleuda Simone Apolinário, que trabalhou comigo num dos programas mais importantes naquele momento, o Recomeço de combate à drogadição e à dependência química.

Lembro da Rita Dalmaso que comandou com firmeza e retidão, ao lado de uma grande equipe de técnicos e nutricionistas, do maior programa de alimentação da América Latina, o Bom Prato.

Agradeço também à Lígia Rosa Pimenta no nosso trabalho com as famílias. Tatiane Magalhães, a Bezinha cuidando da nossa escola de formação. A Glaucia cuidando junto conosco da parte jurídica. E, também agradeço, ao Adilson um amigo, que me conduzia por todo o Estado. Parceiro de todas as horas junto com a minha equipe.

Lembro também dos dois gestores que cuidaram com primazia do enorme Programa Vivaleite, o atual Secretário de Desenvolvimento Regional do Governo Estadual, o talentoso Marco Vinholi, parceiro leal, e o competente Paulo Uehara. Ambos com a sensibilidade devida para tocar tal programa.

Minha equipe de jornalistas, em nome da Fátima Brito, minha fotógrafa, que está aqui hoje. A Galu está aqui tirando foto da gente. Agradeço também ao Fábio Cabral, meu mais novo fiel escudeiro, parceiro, amigo e profissional leal e competente. À Thalita Nascimento, assessora competente e de grande sensibilidade. Foram dias difíceis, mas de profundo trabalho e compromisso.

Nessa jornada, Daniel, fizemos muitas coisas juntos, tive o prazer de te apoiar mais uma vez na sua eleição. Sua primeira eleição para vereador da cidade de São Paulo. Fiz com muito gosto e com muita confiança. Como eu tenho hoje, profunda confiança e respeito pelo seu dedicado trabalho. Você teve participação em tudo isso.

Foram muitas pessoas que colaboraram com essa jornada. Queria ter sido mais conciso e falado menos, mas é impossível, porque é uma jornada de 30 anos, Eduardo Tuma, são 30 anos, e aqui não poderia deixar de agradecer, mais uma vez, a todas e todos que fizeram parte dessa longa jornada.

Agora, eu quero agradecer às pessoas com quem eu divido hoje a minha vida profissional. Quero agradecer ao Sebrae Nacional, ao presidente do Conselho Deliberativo Nacional do Sebrae, Sr. José Roberto Tadros, ao seu chefe de gabinete, Dr. Evandro Nascimento com quem, ainda hoje, aprendo muito. A todos os meus colegas do Sebrae.

Aqui está a Mônica Sodré, que é a diretora executiva da Rede de Ação Política pela Sustentabilidade – a RAPS. Uma organização que nos dá muito orgulho e esperança de dias melhores.

Quero agradecer também a Organização dos Estados Ibero-Americanos, a OEI, na figura de seu diretor Raphael Callou. O trabalho da OEI no Brasil é de extrema relevância nos campos da educação e da ciência.

Novamente quero agradecer a todos aqueles com quem tive a oportunidade de estar junto nessa jornada. Aqueles com quem aprendi muito, em especial, o governador Geraldo Alckmin, o governador José Serra e o prefeito Gilberto Kassab com quem tive a oportunidade de trabalhar por longos e intensos dois anos.

Aprendi muito, afinal.

Arnaldo Madeira, Paulo Renato Souza em memória, e todos os meus professores e todos os meus colegas. A todos vocês o meu muito obrigado.

Que essa jornada possa continuar das mais diversas formas, mas que eu possa continuar amando o que eu faço. Amando a minha cidade a quem devo muito e onde eu aprendi muito: a cidade de São Paulo. Vivendo e aprendendo com humildade e dedicação. Hoje me sinto honrado com esse reconhecimento público, da minha cidade e da nossa Câmara.

Muito obrigado a todas e a todos pela oportunidade dessa noite.

Floriano Pesaro
Sociólogo.”

Hebraica: “Voltas às aulas agora?”

Amigas e amigos, compartilho meu mais recente artigo publicado na Revista do Clube Hebraica SP sobre a volta às aulas. Não há solução fácil para problema complexo. Leia e comente.

“Voltar às aulas agora?
Floriano Pesaro, sociólogo.

Neste mês, o mundo passou da marca de 1 milhão de mortes em decorrência da infecção pelo novo coronavirus. A primeira metade destas mortes aconteceu em seis meses, enquanto a outra em apenas três meses. Ainda: as últimas cem mil perdas humanas ocorreram em apenas doze dias.

São números que se traduzem numa lamentável realidade, embora alguns teimam em negá-la. Fato é que a pandemia e seus efeitos sobre nossas vidas continuam por mais cansados que estejamos.

Em especial, esse efeito tem sido cruel com as crianças que abruptamente foram retiradas de seus vínculos escolares, mas até que ponto podemos considerar o retorno às aulas com a Sars-Cov-2 ainda circulando sem uma vacina?

Sociologicamente, essa é uma discussão que envolve, mais uma vez, o individual e o coletivo, binômio que tem sido recorrente nas grandes discussões nacionais nos últimos anos.

Ora, se é direito do responsável pela criança zelar pela sua segurança e de sua família, ele não deveria ser obrigado a enviá-la para um ambiente com alto risco de contaminação por uma doença que ainda não tem nem remédio e nem vacina.

Por outro lado, o Governo, de modo geral, deve zelar pela permanência dos estudantes no ensino regular salvaguardando, em consequência, uma série de direitos das crianças, como a segurança e a alimentação saudável.

Em recente pesquisa do Instituto Datafolha, 75% dos paulistanos entrevistados disseram apoiar o fechamento das escolas, pelo menos, até novembro deste ano. A janela de tempo que deixa dezembro como possibilidade se explica pela expectativa de que a vacinação para o grupo de risco da Covid-19 se inicie, ao menos no estado de São Paulo, neste mês – segundo o Governo estadual.

É verdade que, para a opinião pública, bares e restaurantes abertos juntamente de praias lotadas aos feriados compõem um cenário de difícil explicação para quem advoga pela manutenção do fechamento das escolas. Afinal, o vírus não faria distinção de ambiente para infectar uma criança.

Contudo, despido de paixões partidárias e ideológicas, podemos inferir que não é passível de comparação a reabertura de atividades comerciais com a ida de 2,8 milhões de estudantes aos bancos escolares, considerando apenas a cidade de São Paulo. São milhões de estudantes que, sem o discernimento de um adulto, possuem mais chances de se contaminarem e, ainda pior, levarem o vírus para dentro de suas casas, onde podem infectar pessoas dos grupos de risco.

Por outro lado, crianças e adolescentes estão há meses alijados do convívio social e da aprendizagem adequada, de modo que os efeitos desse isolamento ainda são desconhecidos. Especialistas alertam que essa quebra abrupta e prolongada da vivência escolar pode produzir estresse tóxico, ansiedade e, até depressão nos estudantes, em especial os mais jovens, que não conseguem entender a complexidade da pandemia.

Esse risco no desenvolvimento das crianças se agrava quando abordamos os recortes da vulnerabilidade social, onde ir à escola pode significar a garantia da alimentação adequada e da segurança física e mental da criança.

Por isso, compartilho da posição do Vereador Daniel Annenberg de que esse não é um assunto simples e de fácil resolução, onde os impactos vão desde a saúde financeira das escolas privadas e de todo o ecossistema de serviços e funcionários até o impacto na aprendizagem, na psique, na alimentação e na segurança dos estudantes. Concordo, ainda com Annenberg, quando diz que não podemos, portanto, furtarmo-nos desse debate.

É preciso, sempre guiados pela tecnicidade desapaixonada da ciência e dos técnicos da Saúde, que estabeleçamos protocolos para garantir a volta segura às aulas, de modo a equilibrar a segurança sanitária com a garantia dos direitos dos estudantes que, no limite de suas ausências, podem nos levar a perder toda uma geração para a evasão escolar.”

Tribuna Judaica: “Os valores judaicos na gestão pública”

Os valores judaicos na gestão pública
Floriano Pesaro

Às voltas das nossas grandes festas, nos vemos refletindo sobre realizações, aprendizados e desejos que os ciclos da vida nos proporcionam. Todas elas pautadas nos preceitos judaicos e nos valores da nossa comunidade que perpassam, além de gerações, todas e quaisquer profissões, inclusive aquelas voltadas às pessoas e ao coletivo, como as funções públicas.

Nossa Eretz Israel, enquanto Estado-Nação, moderno, criativo e pujante, exemplo de democracia participativa, representa para os judeus a terra prometida fundada sobre os mais profundos preceitos e valores da Torah. É por isso que Israel ostenta alguns importantes títulos: única democracia do Oriente Médio com um Parlamento diverso; resguardo das liberdades individuais; forte atenção pública ao bem-estar e à justiça social; e imenso fomento à inovação, à tecnologia e à inclusão digital. Por isso, quando pensamos em gestão pública eficiente, aqui no Brasil, temos, sem sombra de dúvidas, nossa referência em Eretz Israel.

Assim, Daniel Annenberg, nosso vereador, guiado pelos preceitos judaicos e inspirado pelas melhores práticas vindas de Israel vem atuando publicamente pautado na ética, na defesa da democracia, na inovação e com um profundo olhar social. Na pasta da Inovação e Tecnologia da Prefeitura de São Paulo, trabalhou para tornar a cidade mais digital, transparente e acessível a todas e a todos. Com a implantação do “Descomplica SP”, trouxe o “Poupatempo” – que criara anos atrás no estado – para a capital paulista levando dezenas de serviços públicos municipais ao alcance de milhões de paulistanos. Além disso, enxugou a burocracia da gestão e tornou radicalmente transparente as ações públicas ao digitalizar 99% dos processos internos da Prefeitura. Novamente, motivado pelo exemplo israelense em pioneirismo na tecnologia, triplicou o número de pontos gratuitos de acesso ao Wi-Fi pela cidade.

De volta ao parlamento paulistano, Annenberg se firmou no propósito de trazer São Paulo para a agenda das cidades inteligentes – pioneira no Brasil, mas largamente implantada em Israel. Essa agenda prevê exatamente o que nos traz a experiência israelense: inovação, criatividade e transparência. Por isso, na Câmara Municipal, Daniel aprovou a Lei de Linguagem Simples, da qual falamos na edição anterior desta TRIBUNA, além de colocar em discussão no Legislativo paulistano duas das importantes pautas da nossa contemporaneidade, os Projetos de Lei da transparência de dados e de negócios de impacto.

Enquanto representante da nossa comunidade no Parlamento Municipal, sabemos que Annenberg se reporta aos valores judaicos e tem consigo o exemplo israelense, por isso, estimula a participação cidadã nos debates públicos, respeita a diversidade, defende os direitos humanos e inova na gestão pública a tornando mais transparente, acessível e digital. É fundamental, portanto, essa quebra com a cultura que pratica o desmonte e a construção de políticas públicas sem empirismo por meros interesses políticos, muitas vezes mesquinho e retrógrados. Não há prejuízo, muito pelo contrário, que o gestor público e o legislador se pautem em boas experiências praticadas noutros lugares, resguardadas as especificidades culturais e burocráticas de cada local.

É por isso que a presença de Daniel Annenberg na Câmara Municipal, não só nos representa enquanto comunidade judaica, mas também é portador dos nossos preceitos e valores na gestão pública e no debate político democrático. Precisamos, portanto, resguardar que a Tsedaká e a Tikun Olam continuem ocupando assento no legislativo da nossa querida capital.

*Sociólogo e ex-deputado federal