Tu Bishvat e as cidades – Revista Hebraica

Recomendo a leitura do meu artigo publicado na Revista do Clube Hebraica SP, onde falo sobre Tu Bishvat e a importância que o judaísmo dá ao cuidado com o meio ambiente.

“Tu Bishvat e as cidades

Tu Bishvat é para nós judeus uma data de fundamental importância e reconhecimento dos nossos preceitos civilizatórios. Do mesmo modo que entendemos a Tsedaká e o Tikun Olam, devemos compreender a preservação do meio ambiente como um preceito fundamental na cultura judaica. Tamanha a importância desse preceito que o Talmud classifica o Tu Bishvat, conhecido como Ano Novo das Árvores. como um dos quatro Rosh Hashanás, ou anos novos, existentes no calendário hebraico. Tamanha importância dada pelo Talmud encontra hoje respaldo na ciência que já nos comprova a existência e a ameaça das mudanças climáticas em todo o planeta causada, em grande parte, pela ação humana. Nós, que vivemos nas cidades, somos constantemente brindados com demonstrações dessas mudanças, como inesperados períodos de estiagem, ou chuvas, e, até mesmo, temperaturas extremamente oscilantes, mas – mesmo com essas demonstrações – parece que a discussão da preservação do meio ambiente nas cidades arrefeceu. Passamos a discutir cidades inteligentes – que é fundamental – sem pensarmos que elas não existem se não forem sustentáveis.

“Tu” de “Tu Bishvat” vem do número quinze de modo que, com a expressão, podemos entender o 15º dia do mês hebraico de Shvat, data que marca o inicio do ciclo de formação dos frutos das árvores e têm fundamental relação com o pertencimento do povo judeu a Eretz Israel, uma vez que o Talmud associa os frutos desta data aqueles que nascem e crescem em Israel. A própria comemoração de Tu Bishvat nasceu da necessidade dos agricultores judeus definirem os ciclos de sua produção para que pudessem oferecer os dízimos, ou Maaser Rishon, Maaser Sheni e Maaser Ani. Para isso era fundamental definir quando se iniciavam as safras, de modo que o 15 de Shvat é a data em que – na região mediterrânea – as árvores, fartas das chuvas iniciadas em Sucot, passam a dar frutos.

Com o passar do tempo, essa data teve seu signo muito ligado à relação do povo judeu com a terra e a natureza e que, portanto, este povo deve ter a ciência da importância da preservação ambiental. Desde então, entidades como o Keren Kayemet LeIsrael (KKL) vêm em todo o mundo promovendo essa bandeira e plantando árvores, como seu braço no Brasil faz todos os anos aqui na HEBRAICA. É tempo de refletir sobre a inescapável relação entre nossa existência com nossos costumes, cultura, religião e meios de produção e o meio ambiente. As mudanças climáticas nas grandes cidades são realidade e têm nos feito encarar esse desafio: no caso de São Paulo, a instabilidade do clima e a pouca relação com as estações do ano já chamam a atenção, aliadas às fortes precipitações que cada vez mais interditam a circulação na cidade.

Em que pese ser verdadeiro que o mais conhecido dos fatores das mudanças climáticas, o aquecimento global, não necessariamente implique seu combate à ação nas cidades, outras ações humanas no meio ambiente têm impacto nas mudanças climáticas e, até no abastecimento de água, como acontece com a ocupação irregular de terrenos no extremo sul de São Paulo. Com base em processos abertos na Promotoria de Justiça de Habitação e Urbanismo, do Ministério Público Estadual, chegou-se ao número de 24 invasões na região da Represa de Guarapiranga com suspeita de participação do crime organizado, de um total de 90 áreas de desmate e construções ilegais em áreas de mananciais essenciais para o imediato fornecimento de água para parte da cidade de São Paulo.

Pensar São Paulo como uma cidade inteligente e integrada, como advoga frequentemente o vereador da comunidade Daniel Annenberg, nos traz a obrigação de pensarmos o aspecto sustentável dessa inteligência. Em 2018, a quinta edição do estudo sobre cidades inteligentes realizado pela IESE – Business School da Universidade de Navarra (Espanha), adicionou aos seus 83 indicadores fatores de preservação ambiental que ajudam a classificar o índice de inteligência de 165 cidades de todo o mundo.
Seja porque os efeitos da degradação ambiental nos são aqui muito claros, seja – em especial – pelos preceitos judaicos que guiam nossas vidas e atuações neste mundo, é importante nos manifestarmos para que cidades, como São Paulo, estejam preparadas para serem tecnológicas com respeito aos limites do ambiente em que está inserida, uma vez queL a diminuição da degradação ambiental tem impacto direto em indicadores nas áreas da Saúde, da Educação e da Assistência Social.”

Floriano Pesaro