Tribuna Judaica – Nem sempre Rosh HaShaná foi uma data tão importante

Compartilho meu artigo publicado na TRIBUNA JUDAICA deste mês sobre as raizes do Rosh HaShaná. Leia e compartilhe!

“Nem sempre Rosh HaShaná foi uma data tão importante
por Floriano Pesaro, sociólogo

Sabemos que Rosh HaShaná celebra o início de um novo ano em nosso calendário, mas sempre foi assim? A resposta rápida é: não. Não há na Torá qualquer menção a Rosh HaShaná enquanto um marco de um novo ano. O costume de celebrarmos esta data como um novo ano deu-se após o exílio na Babilônia, já no Segundo Templo. Explicamos.

Primeiramente, os antigos não tinham noção de quando o ano começou. Nem deram nomes aos meses: a Torá apenas os enumerou – “o primeiro mês”, “o sétimo mês”. Ainda durante o período do Primeiro Templo (do século 8 ao 6 AEC), o ano começava na primavera, no primeiro dia de Nisan e não em Tishrei, como comemoramos hoje.

Se mesmo considerando essa diferença fundamental – que já nos remonta a um passado com celebrações distintas – não for suficiente para convencer o leitor que houve uma transformação em nosso calendário, a lua nova de Nisan, em que se marcava o início do ano, não tinha um significado tão especial: sua “celebração” resumia-se a mais animais sacrificados no Templo do que o habitual.

Por outro lado, o primeiro de Tishrei, hoje comemorado como Rosh HaShaná, é mencionado na biblía como um feriado – ainda que muito menor e não ligado a uma ideia de “ano novo”. Pelo contrário. Levítico (23:24) diz sobre o primeiro dia de Tishrei: “No sétimo mês, no primeiro dia do mês, tereis um sábado um memorial de sopro de trombetas, uma santa convocação”.

É possível, então, que um significado original mais profundo do primeiro de Tishrei tenha se perdido no tempo. Pelos costumes, o o dia passou a ser marcado pelo toque de trombetas e mensageiros saindo para o campo apenas para lembrar aos israelitas que Sucot chegaria em duas semanas.

Quando os judeus retornaram, então, do exílio na Babilônia a Israel, no início do período do Segundo Templo (516 aC), as práticas religiosas judaicas haviam mudado profundamente. Por um lado, os nomes dos meses que usamos até hoje são os nomes da Babilônia. Tishrei, por exemplo, é um mês babilônico cujo nome deriva da palavra acadiana tishritu – “começo”.

Além disso, aqui temos a principal pista da mudança do significado do primeiro de Tishrei: os babilônios levaram muito a sério as celebrações do Ano Novo. Eles chamaram o feriado de Akitu (da palavra suméria para cevada) e Resh Shattim, o equivalente acadiano do hebraico Rosh HaShaná. Isso foi comemorado duas vezes por ano, no início de Tishrei e no início de Nisan, e durou 12 dias.

É possível inferir que os judeus absorveram sua veneração pelo Ano Novo a partir do exemplo babilônico, contudo não está realmente claro quando Rosh HaShaná começou a ser comemorado como um feriado de ano novo, embora claramente tenha sido durante o tempo do Segundo Templo, após o exílio babilônico. Tudo o que podemos dizer com certeza é que os livros escritos durante esse período, como o Livro dos Jubileus e o Livro dos Macabeus não mencionam nenhum “Rosh HaShaná”.