Tribuna – Conexão Recife-Kingston-Nova Iorque

O estudo da História é fascinante, há, inclusive, quem a ela dedica a vida – não posso negar-lhes a compreensão. Isso porque, vez ou outra, sou impactado com motivos pelos quais a História é tão apaixonante. Um desses veio à luz recentemente com o lançamento do livro “De Recife para Manhattan: Os judeus na formação de Nova York” da autora Daniela Levy, que – com dez anos de estudo – aborda com riqueza de detalhes a história de 23 judeus que, saídos do Recife, ajudaram a formar a maior cidade dos Estados Unidos.

Distante de adiantar o rico conteúdo do livro, mas com o intento de compartilhar o desejo pela leitura, trazemos um pouco da época em que se deu tal movimento. Era Portugal da época da perseguição católica aos judeus da península ibéria, onde a comunidade judaica viu-se obrigada a abster-se de suas crenças e fingir a conversão ao catolicismo. Ali passaram-se a se chamar “cristãos novos”, que viram na independência da Holanda – outrora sob domínio espanhol, e, portanto, católico – a chance de professar sua fé livremente sob a ótica do calvinismo que via – ainda que desconfiado – a liberdade religiosa como trunfo político e econômico.

Na Holanda, os judeus desenvolveram o comércio e a pujança econômica que culminaram no desenvolvimento da Companhia das Índias Orientais – uma das mais famosas companhias comerciais do mundo. Com a ocupação holandesa em Pernambuco – mais especialmente em Recife e em Olinda – os judeus criaram a primeira sinagoga de todo o continente americano, Kahal Zur Israel, na Rua dos Judeus, na capital pernambucana.

Anos mais tarde, com o risco de perder o controle da colônia e portando vultuosa oferta portuguesa para que deixasse o Brasil, a Holanda desocupou a região e deixou exposta toda a comunidade judaica a um domínio excessivamente católico. Parte dos judeus que ali viviam em harmonia fugiram para o sertão nordestino e, outra parte, embarcaram rumando de volta a Holanda, onde podiam professar sua fé e viver em comunidade.

Contudo, os planos para os judeus naquele momento não eram esses. Atacados por piratas e atingidos por tempestades, foram resgatados por uma embarcação francesa que os deixou na Jamaica – que vinha a estar, no momento, sob domínio espanhol e católico.

Indesejados no seu destino, tão pouco quisto pelos judeus, viram-se 23 de nós determinados a rumarem para Nova Amsterdã, um entreposto comercial recém-criado, onde surgiria uma cidade que nunca dorme, Nova Iorque.

Foi ali, que, em 1654, os 23 judeus, dentre eles algumas crianças nascidas no Brasil, ajudaram a fundar e a desenvolver a maior cidade dos Estados Unidos da América. A partir de seus dotes comerciais, os 23 judeus – que hoje tem, em sua homenagem, o monumento novaiorquino Jewish Pilgrim Fathers – ajudaram a construir a megalópole americana que, ironicamente, estava nos planos de Maurício de Nassau para a Recife holandesa. Até mesmo a Bolsa de Nova Iorque, referência mundial no mercado de ações, teve como um de seus criadores Benjamin Mendes.

Indispensável à leitura aprofundada – que traz dessa história da nossa comunidade – do livro de Daniela Levy para que possamos conhecer e nos orgulhar da história do nosso povo, que nunca desiste e que, onde é aceito, traz prosperidade e paz.