Hebraica – Mais um sêder na pandemia

Floriano Pesaro, sociólogo

Este ano devemos nos juntarmos, mais uma vez, virtualmente para um Seder. Quando estávamos em abril de 2020 no seio de nossas famílias para aquele Pessach jamais imaginávamos que, um ano depois, estaríamos forçados a mostrar resiliência frente aos inúmeros desafios que nos impõem a pandemia do novo coronavírus.

Uma vez nesta situação, devemos nos ater, com ainda mais afinco, às lições de Pessach. A fé, a perseverança, a busca pela justiça e, em especial, a resiliência já nos tornou um povo livre, de modo que, agora não será diferente.

Judeus em todo o mundo se preparam suas casas para mais um ano de celebração de Pessach junto aos seus familiares mais próximos. Mais uma vez, de nós, será exigida a resiliência que, curiosamente, marca toda a história do nosso povo.

Estaremos separados e as comemorações serão, novamente, bem diferentes daquelas que estamos acostumados.

É verdade que com as vacinas contra o vírus, estamos próximos de encerrar esse triste capítulo da história da humanidade, mas, ainda nele, podemos, e devemos, nos ater aos ensinamentos de Pessach para sairmos dessa pandemia melhores e mais fieis ao nosso espírito de povo que vence com coragem e fé.

Coragem, fé e resiliência frente às adversidades sempre foram, desde a nossa libertação dos egípcios, uma virtude do nosso povo. É fundamental rememorarmos a história para aprendermos com os erros e trilharmos o futuro. Moisés, que crescera juntos aos egípcios, ao saber de sua origem e da perseguição implacável ao seu povo encheu-se de coragem e deixou para trás toda a estrutura que lhe havia sido oferecida. Sem os seus e, principalmente, sem a liberdade dos seus, não havia paz nem justiça para Moisés.

E quantas demonstrações de sacrifícios em nome da coletividade tivemos que dar, e ainda temos enquanto não vacinados? Mudamos nossas rotinas e nossos encontros. Deixamos de dar o afago próximo e o abraço apertado na família. Alguns tiveram que interromper seus negócios e enfrentar sérias consequências. E, tivemos – e agora novamente – que apreciar nosso Seder de Pessach separados, mais uma vez. Tudo em prol da vida. Um sacrifício coletivo que busca guardar a vida e a liberdade.

Pessach também, e principalmente, nos ensina sobre fé. Quando a Moisés foi dado o recado de que os hebreus fizessem o sacrifício do cordeiro e marcassem suas portas, nosso povo se cobriu de fé e assim o fez, ainda que pouco lhes haviam explicado. Ali foi a fé que lhes guiou. A mesma fé que os guiou com Moisés pelo Mar Vermelho enquanto os egípcios os perseguiam visando retomar sua escravidão.

Nos tempos atuais com tanta informação – e também desinformação – sabemos muito, mas ainda nos encontramos com o coração cheio de desconfianças. Se de um lado as vacinas em tempo recorde, graças a ciência, nos parecem bençãos que provam o valor da vida, por outro ainda nos afligem as consequências sociais, econômicas e de saúde de todo o período da pandemia. O remédio para tanta incerteza e apreensão que sentimos é a fé. A certeza de que, no próximo ano, estaremos reunidos presencialmente com nossos familiares em torno do Seder. Orgulhosos pelos desafios que vencemos como coletividade.

Separados mais uma vez neste ano, devemos manter em nossa mente, de todas as lições de Pessach, em especial, o enfrentamento corajoso à adversidade e a resiliência do nosso povo nos momentos ainda difíceis.

Seremos livres, então.”