Em tempos difíceis, a melhor ferramenta é o diálogo.

Floriano Pesaro, sociólogo.

“Diante dos maiores desafios, o poder do diálogo se destaca como nossa maior ferramenta para forjar a paz e reconciliação. Essa verdade, ensinada pela história, deve guiar nossos passos.” – Elie Wiesel (Prêmio Nobel da Paz em 1986)

Como sociólogo, tenho observado ao longo da História que nossas sociedades estão cheias de desentendimentos e conflitos. Mas, também vejo que é pelo diálogo e pela compreensão mútua que encontramos caminhos para a paz. A capacidade de dialogar nos trouxe grandes avanços em diversas áreas, mostrando que, sem a comunicação, nosso progresso seria limitado.

Por exemplo, o Tratado de Westfália em 1648, que encerrou a Guerra dos Trinta Anos na Europa, é uma prova de como o diálogo pode resolver conflitos, séculos atrás. Mais recentemente, os Acordos de Paz de Oslo, assinados em 1993 entre Israel e a Organização para a Libertação da Palestina (OLP), mostram que mesmo os conflitos mais enraizados podem encontrar esperança no diálogo.

Além disso, há inúmeros outros exemplos ao longo da história onde o diálogo abriu portas para soluções pacíficas. As negociações entre Estados Unidos e União Soviética durante a Crise dos Mísseis de Cuba em 1962 evitaram um conflito nuclear. O diálogo intercoreano, apesar de seus altos e baixos, tem sido um esforço contínuo para reduzir a tensão na Península Coreana. As conversas de paz na Irlanda do Norte, culminando no Acordo de Sexta-feira Santa de 1998, são outro exemplo de como conversar pode superar décadas de violência.

Esses exemplos mostram como o diálogo é fundamental, não apenas para resolver conflitos, mas para construir um futuro de paz e compreensão. É vital reconhecer que, mesmo diante das maiores divergências, a comunicação pode nos levar a um entendimento mais profundo e a soluções mutuamente benéficas.

Recentes declarações políticas têm mostrado como temas sensíveis podem desencadear reações fortes dentro das comunidades. Minha resposta imediata a tais declarações não foge à retidão intelectual e ao compromisso com a minha comunidade, tampouco visa inflamar mais as tensões, mas reiterar minha convicção na busca pela paz e no diálogo como o caminho para alcançá-la.

É fundamental reconhecer que a Shoá é um evento único na história, com seu horror e motivações incomparáveis. Qualquer equívoco na avaliação histórica pode levar a mal-entendidos e ofensas profundas. A Shoá, a eliminação em massa de judeus por um aparato estatal voltado tão somente à aniquilação dessa população, foi um evento único na História, o momento mais abjeto da humanidade, quando a desumanização adubou a barbárie.

A oportunidade para o diálogo nunca deve ser subestimada. Mesmo diante de comparações incabíveis de um trauma para toda humanidade, o esclarecimento e a construção de pontes podem levar a um entendimento mais profundo. A história nos mostra que, em muitos casos, a negociação e o diálogo foram fundamentais para resolver conflitos e promover a paz.

Nesse sentido, tenho contribuído, como agente político ligado à comunidade de longa data, na promoção do diálogo no lugar da cisão e do dedo em riste. Como parlamentar, indicado por Jack Terpins, Presidente do Congresso Judaico Latino-Americano, fui representante do Brasil no World Jewish Congress, com o apoio inestimável da Confederação Israelita do Brasil (CONIB), na pessoa do seu presidente Claudio Lottenberg; do presidente da Federação Israelita do Estado de São Paulo (FISESP), Marcos Knobel; do vice-presidente executivo da FISESP, Ricardo Berkiensztat; do então presidente do Clube “A Hebraica”, Daniel Leon Bialski;; e do amigo Fernando Lottenberg, hoje na Organização dos Estados Americanos (OEA).

Ainda pude deixar um dos meus mais importantes legados para a preservação da memória da Shoá: a Lei 15.059/09, que aprovei como vereador de São Paulo e instituiu no calendário da cidade o Dia Municipal em Memória às Vítimas do Holocausto. E a Lei 15.645/12, que instituiu o Dia Maçônico da Tolerância Entre os Povos, Raças e Religiões.

Pude, ainda, participar com a Asociación Mutual Israelita Argentina (AMIA), dos eventos para preservação da memória dos ataques terroristas em Buenos Aires. Foram tantas as lutas que travei ao lado dos principais líderes da nossa comunidade em defesa e na promoção dos nossos preceitos e valores judaicos.  

A história nos ensina que, mesmo nas circunstâncias mais desafiadoras, o diálogo é a chave para resolver conflitos e promover a paz. Essa é uma lição que todos nós devemos valorizar e praticar.