Discutir nossa cidade tem tudo a ver com a prevenção ao câncer

Hoje, 08 de abril, é lembrado o Dia Mundial de Combate ao Câncer, com diversas ações e campanhas publicitárias que lembram a importância inconteste dos exames recorrentes e dos hábitos de prevenção a essa condição de mutação genética que têm sido considerada a doença do Século 21. Contudo, pouco se fala em quais condições nós podemos colocar em prática esses hábitos de prevenção considerando as cidades em que vivemos. Dado alarmante do Observatório de Oncologia do movimento Todos Juntos Contra o Câncer de 2015 mostra que a doença já é a principal causa de morte em 10% das cidades brasileiras – colocando a lupa nos números – a maioria dessas cidades são capitais ou de grande porte.

Ora, se esse contingente de cidades grandes apresentam as melhores taxas de IDH e de acesso à Saúde, por quê elas figuram nesse trágico ranking do câncer? A despeito de condições específicas e genéticas, a falta do olhar sustentável na gestão das grandes cidades brasileiras limitam muito a qualidade de vida da população urbana.
Antes, há que se apresentar um dado balizar para essa hipótese: 95% das causas de câncer no Brasil estão ligadas a hábitos adquiridos no decorrer da vida. Estes hábitos podem ser deliberados, como por exemplo, consumo alcoólico e fumo, mas também próprios da vida urbana que nos submetemos, como poluição, estresse, saneamento básico, pouco tempo de descanso e aspectos da saúde mental.

Mas, como podemos desenvolver hábitos saudáveis que previnam o câncer em grandes cidades que nos submetem a sistemas de transportes ineficientes e poluentes, a condições precárias de saneamento básico, falta de fiscalização em estabelecimentos alimentícios e acesso precário a bens e serviços públicos? Como, então, pensar em hábitos saudáveis quando estamos falando dos mais vulneráveis, cujo objetivo é, fundamentalmente, alimentar a si e a suas famílias.
Quando vereador da capital paulista, defendi com veemência um olhar sustentável na gestão da metrópole, o que – por vezes – pode não ser bem compreendido enquanto estratégia fundamental para a qualidade de vida urbana. Pensar uma cidade como São Paulo sob um aspecto sustentável é, sim, preservar e ampliar áreas verdes, cuidar dos mananciais e oferecer saneamento básico. Mas, também garantir acesso a bens culturais e esportivos – intimamente ligados à saúde mental -, diminuir distâncias e poupar o tempo da população em deslocamentos diários, trazer o cidadão para participar de conselhos gestores locais, fomentar o trabalho enquanto meio digno para o exercício de uma vida plena, garantir os direitos das populações marginalizadas e, por fim, prestar bons serviços públicos à população.

Em 2012, fui co-autor do Projeto de Lei 01/12 da Câmara Municipal de São Paulo que propunha a Política Municipal de Cidades Compactas, que consistia, sumariamente, na promoção por parte do poder municipal de núcleos urbanos compactos de uso misto, onde seja reduzida a necessidade de mobilidade – ainda mais num cenário de restrição orçamentária para grandes obras – e seja reforçada a instância gestora local e participativa a fim de intervenções urbanas que mirem os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS).

Pensar globalmente e agir localmente, é assim que acredito que as gestões das grandes cidades brasileiras podem ser fortes aliadas na luta contra esse mal crescente no Brasil – e no mundo – que é a incidência de câncer na população. Se a saída é prevenção, é preciso que se crie condições para que as pessoas se previnam. Caso contrário, dias como esse serão meros marcos nos nossos calendários.

Floriano Pesaro
Sociólogo