Chutzpah e a vocação israelense para as Startups – Tribuna 387

Compartilho meu mais novo artigo publicado na TRIBUNA JUDAICA sobre o incrível mercado das “startups” em Israel e que também vem crescendo no Brasil. O que podemos aprender com Israel para que o Brasil também se firme como celeiro mundial da inovação. Leia e comente!

“Chutzpah e a vocação israelense para as Startups
Floriano Pesaro

Você, leitor, provavelmente já ouviu falar um termo que está em voga nos últimos tempos: startup. Mas, o que isso significa, afinal? Qualquer empresa pode ser uma startup? Sim e não. Uma startup é necessariamente uma empresa pequena, mas com um plano de negócios que pressupõe práticas inovadoras com perspectivas de escala e alta lucratividade num contexto de extrema incerteza. Em outras palavras, uma startup é uma empresa que busca inovar no modo de prestação de determinado serviço ou produção de certo produto de forma única e nunca antes testado num modelo de negócios. Alguns países, ou mesmo regiões, são famosos por serem “incubadores de startups”, mais um termo dessa nova geração. O Vale do Silício, nos EUA, é, sem dúvidas, o maior exemplo de uma região vocacionada e dedicada à inovação de base, de lá conhecemos o Google e a Apple, por exemplo. Dos 62 unicórnios – startups que ultrapassam o valor de mercado de US$ 1 bi – surgidas em 2019, 43 são norte-americanas, 2 israelenses (Monday.com e Lightricks) e 2 brasileiras (Loggi e Nubank), mas o que impressiona é que com uma população equivalente a apenas 4% dos dois outros países, Israel tem o maior número de startups per capital do mundo. Como isso pode, então, ser possível?

Há, pelo menos, duas explicações: uma de cunho cultural/religioso e outra de política pública. Aquela cultural/religiosa tem relação com o princípio básico por trás do processo de formação de uma startup que é o “espirito inovador”, ou seja, a capacidade de dar uma solução diferente e eficaz a um problema já conhecido. Quando jovens os israelenses são mandatoriamente convocados a prestar um tempo de serviço na IDF (Israeli Defense Forces) onde tem contato com as mais avançadas tecnologias em termos de defesa e comunicação e, ao mesmo tempo, são desafiados e encorajados a encontrarem soluções num ambiente desafiador e perigoso. Neste contexto, os israelenses passam a ser inovadores por uma questão de sobrevivência, mas, mesmo antes disso, já são encorajados a pensarem “fora da caixa”.

Ainda no âmbito cultural/religioso, é do seio da nossa comunidade o estimulo e encorajamento da autonomia do indivíduo seja nas práticas diárias ou nos serviços e tradições religiosas. Existe uma palavra Yiddish para isso “Chutzpah”, que significa ter coragem e ser ousado, ou audacioso. Significa tentar, apesar do risco de falha, ou abordar um problema de uma maneira que talvez possa ser considerada absurda. Como, por exemplo, quando, durante o feriado de Lag B’Omer, incentivamos nossos filhos a construírem as fogueiras, mesmo na cidade de Tel Aviv. As crianças controlam todo o processo, desde a coleta da madeira até a chama real.

Contudo, não basta um contexto cultural/religioso e, mesmo social como a percepção de falha como algo positivo na sociedade israelense, para se ter o país mais inovador do mundo, considerando sua população. É fundamental ter políticas públicas que acreditem e invistam nesse potencial. Israel possui a Divisão de Startups da Autoridade Nacional de Inovação de Israel dedicada fundamentalmente a promover e criar condições para o desenvolvimento do ambiente inovador em território israelense. Esse esforço que busca mitigar falhas estruturais que venham a dificultar ou impedir a inovação na burocracia estatal ou nas condições educacionais e de renda, já que se tratam de negócios de alto risco, é também direcionado a quem não é israelense e tenha uma boa ideia de negócio. A Divisão oferece acompanhamento de emissão de vistos e bolsas de até R$ 230 mil em dois anos para esses empreendedores que veem Israel como uma terra propícia para a inovação.

Se não bastasse ser chamativa em termos numéricos e de valor de mercado, o mercado de startups israelense mira, muito por conta das limitações geográficas que lhes é imposta, os problemas acerca da sustentabilidade do nosso planeta, como o modo – e o – que comemos. Segundo o último relatório da Divisão Nacional de Startups de Israel, o país abriga cinco das nove startups especializadas no desenvolvimento de carne cultivada (também chamada de carne limpa ou celular). Isso é carne, como a conhecemos, em todos os aspectos, cultivada em laboratório a partir de células animais, mas sem nenhum animal abatido. Nesse momento em Israel, as startups estão estudando, por exemplo, como escalar industrialmente a impressão 3D de carne sem origem animal, mas com as mesmas propriedades nutricionais, aparência e sabor; fabricando “proteínas de design” fermentadas a partir de plantas como substituto do açúcar para a indústria de alimentos e bebidas; e desenvolvendo versões veganas de queijos parmesão, mussarela e gouda à base de cajus.

Muitas das discussões que temos hoje acerca dos nossos modos de produção e prestação de serviços estarão, em muito pouco tempo, defasadas frente a estas inovações, quando pensamos no preparo dos nossos filhos para o futuro e na formulação das políticas públicas de longo prazo precisamos, inevitavelmente, tentar vislumbrar que futuro será este e quais serão os requisitos para ser bem-sucedido neste mundo. Parece-me que “Chutzpah” é uma palavra, então, para termos em mente.”

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