O que o passado nos ensina – Tribuna 393

Compartilho nesse domingo meu mais recente artigo, escrito junto ao amigo e vereador Daniel Annenberg, e publicado na TRIBUNA JUDAICA sobre nosso papel na construção da História.

“O que o passado nos ensina”
Floriano Pesaro e Daniel Annenberg

Em momentos de angústia e agonia, muitas vezes nos é aconselhado contextualizar nosso mal momento num cenário maior. Assim também podemos pensar os grandes sustos e traumas dos humanos enquanto sociedade: eles são finitos e, com eles, podemos aprender grandes lições. Em especial, o desfecho que leva à aprendizagem não é um fenômeno voluntarista. É preciso um esforço para compreender e aprender neste momento em que vivemos. Temos de confiar na ciência, na racionalidade, mas, também, praticar a solidariedade e valorizar as relações humanas.

A quebra da Bolsa de Nova York, em 1929, por exemplo, foi um fenômeno com forte impacto social provocando demissões, fechamento de empresas, falências e desestabilização da economia mundial. Para superar a situação foi preciso que o governo americano lançasse o “New Deal”, uma série de mudanças que, ao longo dos anos, transformaram os Estados Unidos na economia mais forte do planeta e restaurou o crescimento das economias pelo globo. Além de injetar bilhões na economia do país para evitar a quebradeira das empresas, o governo americano não descuidou das pessoas: criou o sistema de seguridade social, com o seguro-desemprego, e regulamentou o direito de organização sindical.

Assim também foi feito após os horrores da II Guerra Mundial com todos seus episódios inaceitáveis, como o Holocausto judeu. Tanto sofrimento culminou – dentre outros desfechos – na criação da Organização das Nações Unidas (ONU), inaugurando uma nova etapa na relação entre os países de cooperação e paz.

Contudo, notamos ao lidar, de uns anos para cá, com teses e teorias que vão desde um movimento “antivacina”, até a normalização do desmatamento e dúvidas quanto ao formato do nosso planeta, de que esse processo evolucionário não é nem automático e nem garantido para todo o sempre. A vigilância em defesa da ciência, da racionalidade, da liberdade e do humanismo tem de ser permanente.

Foi pela ciência e tecnologia que chegamos até aqui. O automóvel, o elevador, o avião, a geladeira e a penicilina são apenas alguns exemplos do valor da tecnologia para a civilização. No entanto, a ciência é um meio. O mesmo carro que nos transporta pode ser o que nos atropela. O avião que une países também é usado para bombardeá-los. É preciso uma visão humana para colocar a ciência a serviço do bem-estar e da melhoria de vida da população.

É considerando o nosso contexto de lutas e vitórias, sob a batuta da ciência, racionalidade e humanismo, que temos de enfrentar nosso mais novo desafio: a pandemia do novo coronavirus. Em pleno século XXI pode parecer estranho que não consigamos sair de casa por conta de um microrganismo. Mais espantoso ainda é conviver com a dúvida de conquistas que permitiram construir e manter nossa civilização.

Por isso mesmo, nos parece essa ser a oportunidade para um novo salto baseado na valorização da pesquisa, da tecnologia e de seu uso mais humano para construir um futuro melhor. Dentro da nossa própria comunidade, estamos vencendo barreiras presenciais e promovendo nosso convívio comunitário e religioso por meio das nossas redes reconhecendo a força do inimigo, mas num constante esforço para vencê-lo pela ciência, como fazem, neste momento, cientistas em Israel.

Das certezas que podemos ter desse momento é de que a contaminação é rápida, ocorre pelas vias aéreas, afeta duramente os mais os idosos e a melhor maneira de combater o vírus é o isolamento social. A mesma ciência, no entanto, também nos diz que a pandemia é transitória. Pode levar ainda mais alguns meses, mas vai passar.

O que não pode ser transitório é o nosso aprendizado. Vamos utilizar essa experiência para melhorar nossos padrões de comportamento, nos reinventar e fazer o uso mais apropriado e humano possível da ciência e tecnologia.

É sempre importante lembrar que ciência e tecnologia não são de direita ou de esquerda e nem representam, por si só, garantias de avanços para o futuro da humanidade. Ciência e tecnologia são meios, não são fins em si mesmo. Não podem ser ignorados e muito menos mal utilizados. Precisam estar sempre a serviço de uma sociedade mais humana e solidária.”

#SPparaTodos #Jewish #judeu #historia #ciencia #coronavirus

O social em tempos de pandemia – CityPenha

Compartilho meu mais recente artigo publicado na Revista CityPenha sobre os impactos da pandemia no setor social, em especial na Política de Assistência Social. Leia, comente e compartilhe!

“O social em tempos de pandemia
Floriano Pesaro

A pandemia do novo coronavirus é uma realidade que se abateu sobre todos os setores da economia, os governos, as famílias e, inevitavelmente, sobre cada um de nós. Ninguém e nem qualquer área está isenta da tarefa de se repensar frente a essa nova realidade que perdurará por tempo indeterminado. Sabemos, contudo, que, em tempos de crise, aqueles mais vulneráveis – que já sofrem restrições das mais variadas naturezas – são os mais atingidos.

Embora não existam dados ainda disponíveis, sabe-se, por relatos de trabalhadores da Assistência Social e de organizações sociais que trabalham em campo, que as pessoas em situação de rua, as famílias que vivem com renda mensal abaixo do nível da pobreza e outros grupos, como as mulheres vítimas de violência e as pessoas em situação de prostituição, estão com seus vínculos e seus subsídios ainda mais precarizados. É nesse sentido que se torna fundamental reforçar o trabalho socioassistencial no território e intensificar ações de Saúde que façam sentido a essas populações.

A cidade de São Paulo ostenta, de acordo com o último Censo da População de Rua, vergonhoso número de superior a 24 mil pessoas vivendo em situação de rua. Por detrás desse número frio, evidencia-se que esse montante de cidadãos vive hoje com todos, ou quase todos, seus direitos violados diariamente, seja pelo Estado ou por outros cidadãos. Neste contexto de pandemia, a solidariedade que, muitas vezes, serve de amparo social sai de cena e desampara absolutamente essa população.

Fenômeno parecido ocorre com as famílias dependentes de “bicos” ou trabalhos informais que se veem hoje sem qualquer renda dependente de um amparo federal que não foi pensado, dada sua complexidade, a estes cidadãos e todas as suas particularidades.

Da mesma forma que a Unidade Básica de Saúde (UBS) é a orientadora fundamental numa situação de exceção, como uma pandemia, o Centro de Referência da Assistência Social (CRAS) e Especial (CREAS), bem como toda a rede local da assistência social, são serviços essenciais – como descreve Decreto Federal vigente – e devem ter seu funcionamento reforçado, ampliado e adaptado – de forma alguma, portanto, suspenso ou restrito. É lá que esses cidadãos carentes não só de informação, mas de meios de acesso à informação, podem, minimamente, acessar orientações para garantir a sua cidadania.

Nesse sentido é necessário que as gestões locais da Assistência Social nos territórios adaptem e reforcem suas redes a partir da concepção do papel do Sistema Único de Assistência Social (SUAS) enquanto articulador de uma rede de proteção local sob situação de emergência, papel este que mostrou-se fundamental na recuperação socioeconômica de Mariana e Brumadinho (MG) após os desastres da Samarco e da Vale.

O serviço social, de saúde e as medidas econômicas devem andar juntos, portanto, ainda mais neste momento, de modo que evitemos nos deparar com uma realidade pós pandemia ainda mais excludente e de vínculos comunitários e familiares esgarçados e rompidos. Qualquer afrouxamento de um desses pilares nos relegará um futuro mais desigual e mais desumano.”

Floriano participa de live da Federação Israelita do Estado de São Paulo

Na noite da última quarta-feira (06/05), Floriano participou de live sobre os impactos sociais da pandemia do novo coronavirus com o Vereador de São Paulo, Daniel Annenberg (PSDB-SP), ambos a convite do vice-presidente da Federação Israelita do Estado de São Paulo (FISESP), Ricardo Berkiensztat, e do Jairo Roizen, responsável pela comunicação da FISESP.

Clique aqui e assista a live completa.

A demagogia do BDS na pandemia – Hebraica 699

Compartilho meu mais recente artigo publicado na Revista Clube Hebraica SP para sua leitura e comentários.

“A demagogia do BDS na pandemia
Floriano Pesaro, sociólogo

O movimento antissemita BDS (Boicote, Desinvestimento e Sanções) contra o Estado de Israel – e, também por isso, antissemita – dispensa apresentações e não nos brinda com mínimas expectativas de grandeza, haja vista sua própria natureza. Contudo, no início de abril – quando escrevo essa reflexão – chamou-me atenção a desfaçatez do fundador do movimento, Omar Barghouti, ao dizer que “se Israel encontrar a cura para o câncer, por exemplo, ou qualquer outro vírus, então não há problema em cooperar com Israel para salvar milhões de vidas” durante um “webinar”, seminário virtual, do BDS. O movimento, ainda na descrição do evento, acusava também Israel de “continuar explorando os trabalhadores palestinos sem a mais simples proteção” e acusava os oficiais palestinos de “normalizarem” a cooperação com Israel.

Ora, a desfaçatez e a demagogia já costumeiras desse movimento ultrapassaram os limites do bom senso em muitos aspectos, mas quero ater-me aqui a dois deles: a desfaçatez do movimento ao abordar a posição de Israel frente a um desafio humanitário e a propositada omissão do papel de Israel no desenvolvimento dos tratamentos de saúde.

Comecemos pela insuspeita Organização das Nações Unidas (ONU) que, por tantas vezes, já emitiu comunicados e decisões parciais que desconsideravam a história, o legado e a legitimidade dos pleitos israelenses, dessa vez viu-se impelida em reconhecer, nos mais variados níveis, os esforços de Israel na cooperação com os oficiais palestinos. Esse reconhecimento veio, inclusive, no pronunciamento do secretário-geral da ONU, Antonio Guterres, que mencionou a estreita cooperação entre Jerusalém e Ramallah durante uma conferência de imprensa anunciando o lançamento do “Plano Global de Resposta Humanitária COVID-19″.

Contudo, quero destacar o que os antissemitas do BDS nem sequer mencionaram: o ramo palestino do Escritório das Nações Unidas para a Coordenação de Assuntos Humanitários, longe de ser um órgão imparcial, publicou em seu primeiro “relatório de emergência” que existe uma “cooperação sem precedentes nos esforços destinados a conter a pandemia entre as autoridades israelenses e palestinas” enfatizando o trabalho feito pelo Coordenador de Atividades Governamentais de Israel nos Territórios (COGAT) na organização de treinamentos para as equipes médicas palestinas, da doação de mais de 1 mil kits de testes e milhares de equipamentos de proteção individual (EPIs) e da liberação de US$ 25 milhões para as autoridades palestinas conterem os impactos econômicos da crise – isso tudo, vale salientar, num momento em que os países se estranham mundialmente em buscas desses mesmos suprimentos (testes, EPIs e recursos financeiros) que Israel doa, independentemente de retribuição sequer amigável, para o outro lado da fronteiras.

Além de omitirem os esforços humanitários israelenses na cooperação apesar das incessantes violações e ataques contra Eretz Israel de grupos terroristas abrigados nesses mesmos territórios que hoje recebem ajuda humanitária hebraica, o fundador do BDS chega ao segundo ponto que quero enfatizar: supõe que Israel pode, no futuro, desenvolver curas e tratamentos de saúde dos quais seria legitima – mesmo que o movimento tente promover a escassez de recursos e parcerias contra Israel – sua utilização pelos antissemitas. Barghouti parece esquecer que Israel já fizera centenas de inovações na área de saúde – muitas delas sobre as quais me aprofundei em recente artigo nesse mesmo espaço – que, certamente, gozam de uso dos defensores do BDS sem qualquer constrangimento. Não era necessária, portanto, a “autorização” do líder para que o oportunismo fosse posto em prática.

Israel sempre quis e continua querendo paz e respeito a sua história e seu território e esse é mais um episódio que escancara o antissemitismo do BDS e de setores da oficialidade palestina que sonegam informações e criam falsas narrativas que tentam impor a Israel um papel que não lhe cabe na complexa relação com seus vizinhos. É preciso reiterar que essa é hora de humanismo e os israelenses estão mostrando isso de uma maneira bela e altamente desprendida. Esperamos que, no futuro os defensores do BDS sejam, ao menos, corajosos para assumir sua incoerência quando lhes convêm.”

Os judeus e as epidemias na História

“Os judeus e as epidemias na História

É sabido que a história do povo judeu é milenar e, assim sendo, carrega uma experiência ímpar que vale ser compartilhada na relação da sociedade com os mais diversos episódios, como as epidemias. Os judeus passaram por todas elas, sendo a mais prógona, a noite da Décima Praga, onde Deus matou todos os primogênitos do Egito, excetuando os escravos hebreus. Compreendendo a evolução da relação do homem com a natureza e o ambiente onde vive, a percepção dos judeus para com as epidemias foi se transmutando de uma concepção essencialmente religiosa para uma científica e baseada em evidências.

Neste abril, coincidentemente mesma época da Décima Praga, nós, judeus, teremos um Pessach diferente: quarentenados em nossas casas devido à pandemia do novo coronavirus, que assusta na virulência e na força com que acomete suas vítimas, mesmo aquelas tidas como jovens.

Hoje é significativo o entendimento de que o isolamento social é a chave, mesmo que temporária, na contenção do espalhamento de doenças virais. Mas, nem sempre foi assim. A compreensão do povo judeu sobre essas doenças era, a princípio, religiosa e entendidas como castigos divinos que só podiam ser aplacados pela misericórdia e por sacrifícios.

Quando uma epidemia matou milhares de israelitas após a rebelião de Corá contra Moisés e Arão, as mortes cessaram quando Arão queimou incenso, o que acalma a ira de Deus. Quando Deus fez com que uma epidemia assolasse o Reino de Israel nos tempos do rei Davi, o sacrifício aconselhado pelo profeta Gade fez com que Deus e sua epidemia cedessem, segundo a Torá.

Esses, contudo, não eram episódios isolados na relação do povo judeu com as epidemias. De acordo com a Mishnah, da Era Comum, quando uma epidemia chega a uma cidade, seus moradores judeus devem se reunir para orar e jejuar em comunidade, no coletivo, portanto, aglomerados.

A percepção de que essas aglomerações causavam mais espalhamento das doenças virais começou a surgir na era talmúdica, entre os séculos III e V a.C. Ainda assim, surgiram timidamente e sem uma determinação clara que se aproxime de um isolamento social.

De fato, o Talmud não parece ser muito afeito a este conceito profilático. Uma de suas passagens nos traz que os estudantes do sábio Rabi Akiva se recusaram a visitar um de seus membros que havia adoecido. Dizem-nos que Akiva foi visitar o aluno renegado e que ele se recuperou, levando-o a ensinar que visitar os doentes os ajuda a se recuperar. Portanto, aqueles que se recusam a visitá-los são tão culpados quanto os que derramam sangue.

Vale lembrar e enfatizar que visitar os doentes é uma mitzvá, afinal, uma obrigação judaica. Ora, Deus havia visitado Abraão enquanto ele se recuperava de sua circuncisão.
Já nos idos do Século XIII, os escritos rabínicos passam a nos indicar o início de ações e recomendações mais concretas acerca da compreensão do espalhamento de uma doença e de medidas para evitá-la no campo da ciência. O rabino contemporâneo, Bahya ben Asher, espanhol (1255-1340) explicou que, durante a praga de Corá, Aaron separou a companhia de Corá do resto dos israelitas “para que o ar ruim da praga não chegasse a eles”. Bahya, então, adere à Teoria das Doenças do Miasma, que permaneceu em voga até o Século XIX, segundo a qual a doença era causada por vapores poluentes no ar.

Lembra do acendimento do incenso que relatamos acima? As leituras do texto da queima dos incensos no Segundo Templo ainda são feitas para atenuar as doenças. Este hábito iniciou-se com o Zohar a partir de uma lenda sobre o rabino palestino do século IV, Rabi Aha, que chegou a uma cidade assolada por uma epidemia. O povo da cidade pediu seu conselho e ele orientou que reunissem seus 40 homens mais piedosos na sinagoga. Depois de estudarem as passagens talmúdicas relativas ao incenso em grupos de dez em cada um dos quatro cantos da sinagoga, a epidemia parou.

Embora as abordagens religiosas sobre as epidemias nunca tenham cessado e, nem se espera que sejam, uma vez que a fé é um componente fundamental da nossa compreensão da vida, os métodos científicos passaram a se desenvolver e serem absorvidos pela comunidade no tratamento de epidemias, a partir do século XVI. O rabino Moses Isserles (1530-1572) foi enfático e determinou que alguém deveria fugir de uma cidade na ocorrência de uma epidemia, dizendo: “Não se deve confiar em milagres ou arriscar a vida à espera dele”.

O trunfo da ciência na compreensão das epidemias pelo povo judeu deu-se mesmo, afinal, no Século XIX, com o avanço da cólera na Europa. Em 1831, o rabino Akiva Eger pediu aos judeus que limitassem o número de pessoas orando em uma sinagoga para 15 a ponto de permitir que um policial garantisse à porta das sinagogas que sua determinação fosse cumprida. Durante a pandemia da gripe espanhola, já no Século XX, algumas sinagogas prestavam serviços ao ar livre em todo o mundo, chegando até a suspender completamente os serviços nos piores momentos.

Devemos ouvir nossos rabinos que sabiamente nos aconselham adicionar as orações penitenciais à oração diária, bem como à leitura dos textos sobre a queima de incenso. Também precisamos sabiamente nos resguardar – na medida do possível de cada um – para que novamente, não só o povo judeu, mas todo o mundo supere mais uma epidemia com evolução, aprendizado e fé.”

Israel e a Vacina – Hebraica 698

Neste início de 2020, o mundo já está enfrentando um grande desafio: uma epidemia de proporções globais que já atinge todos os continentes e causa, principalmente, pânico em pessoas, mercados e governos. O novo coronavirus, ou 2019-nCoV, chegou, inevitavelmente também ao Brasil. Não há como impedir o espalhamento de um vírus de gripe e tão pouco há razões para pânico, uma vez que a taxa de mortalidade é a considerada baixa pela comunidade médica. Contudo, é inegável que o pânico causado pela ascensão de um novo vírus afeta desde a vida cotidiana, passando pela geração de empregos, e chegando até a taxa de crescimento econômico dos países, de modo que – quanto antes houver uma vacina, melhor – e, nesse campo, Israel novamente sai a frente ao anunciar que deve desenvolver uma vacina contra o novo COVID-19 num prazo médio de 3 meses.

Nos chama, então, a atenção que Israel – com suas pequenas dimensões territoriais e populacionais – está novamente na fronteira do desenvolvimento científico. Mas, por que este pequeno país figura sempre no pódio do pioneirismo da ciência?

Os aspectos culturais e históricos, certamente, contribuem para a formação de uma sociedade e de seus governos. Aos israelenses isso é latente, haja vista que não lhes foi dada a pátria sem esforço, luta e consciência. Essa noção de importância de uma pátria forte e pioneira passa desde a dedicação e participação nas Forças Armadas, pelo reconhecimento da importância de uma Educação de qualidade, até o investimento em Ciência e Tecnologia.
Israel investe 4% de seu PIB em pesquisa e desenvolvimento, para efeitos de comparação, o Brasil investe 2,3%. É o segundo país do mundo nesse tipo de investimento proporcional ao seu PIB, atrás apenas da Coreia do Sul, de acordo com levantamento do Fórum Econômico Mundial.
E não é de hoje que esse tipo de investimento tem trazido resultados rápidos e concretos para Israel: o país possui o maior número de autores publicados nos campos das ciências naturais, engenharia, agricultura e medicina e, até hoje, dez cidadãos israelenses possuem o Prêmio Nobel em diferentes áreas. Além disso, os israelenses são líderes em patentes registradas per capita.

O investimento em Ciência e Tecnologia é tão salutar que deixa frutos não só para seu país de origem, mas para todo o mundo, como Israel fez com invenções como o T-Scan para a detecção do câncer de mama; a amniocentese, exame hoje feito em mulheres grávidas de todo o mundo para diagnosticar doenças graves nos fetos; a produção de células humanas a partir do sangue, hoje fundamental para pacientes em quimioterapia; descoberta das funções do componente subcelular que produz as proteínas, que auxiliou o desenvolvimento de remédios para inúmeros tipos de tratamento, como do HIV; as drogas balizares nos tratamentos contra a Leucemia, Esclerose Múltipla, Parkinson, Diabetes, Perda de Visão e Câncer de Mama; dentre outros impactaram e mudaram o panorama da Saúde em todo o mundo.

A priorização que o povo judeu confere à ciência e tecnologia é tamanha que – considerada também a inequívoca competência – o único secretário municipal de São Paulo, até o ano passado, judeu era o Vereador Daniel Annenberg, da pasta da Inovação e Tecnologia.

Se o coronavirus terá, ou não, sua vacina desenvolvida pelos israelenses, o tempo dirá, em todo o caso, há tempos podemos nos inspirar aqui no Brasil com a importância que os israelenses dão, enquanto sociedade, à Educação, à Pesquisa e ao Desenvolvimento Científico e como isso tem efeitos benéficos não só ao país, mas a toda a humanidade.

Floriano Pesaro
Sociólogo

Pessach – o ritual

Ritual.

O ritual é uma linguagem que une uma comunidade. O ritual serve para criar um espaço consentido estabelecido.
Ritual serve para criar comunidade. Quando Moshe cruzou o mar, cantaram porque uma canção é uma forma de ritual de criar comunidade.

O ritual dá identidade. O ritual revive eventos importantes, como o seder de Pessach.

Existe outra característica do ritual que é muito mais profunda e menos conhecida que é a luta contra o caos.
Deus não cria, Ele organiza… Transforma caos em ordem. Chaos management.

Não é a ordem da Criação, mas a criação da Ordem!
O ritual é uma atividade que se repete. E isto é um ritual porque é um processo repetitivo, a criação da ordem, através da palavra! Ele impõe um sentido sobre o caos.

O caos não gosta de limite, esta é a essência do ato divino da criação. O rotula, se utiliza da estrutura dos momentos caóticos. Os momentos de caos na vida do ser humano se apresentam geralmente em momentos de transição.

A havdalá replica o modelo de Gênesis da criação, da harmonia para o caos. Estabelecer um sistema de parâmetros que dá um sentido à vida. Dar aos seres humanos ferramentas para que as pessoas saibam o que vem, porque
os rituais antecipam as atividades. O ritual cria não apenas disciplina, mas um padrão dentro de um mundo incerto.

No mundo judaico, a partir do capítulo I de gênesis pode ser controlado mas não eliminado. A transformação está no ritual.

Chag Sameach
Floriano Pesaro

#SPparaTodos #chagsameach #pessach #jew #judaismo

Israel anuncia vacina contra Coronavírus em 90 dias – Tribuna 391

É inegável que temos à frente uma pandemia (quando uma doença se espalha em larga escala por todos os continentes) do novo coronavírus, ou 2019-nCoV, que causa a doença COVID-19. Não há como parar um vírus de gripe de se espalhar e nem há razões para pânico, uma vez que a taxa de mortalidade é a considerada baixa pela comunidade médica – 2% na China e 0,7% nos outros países. Contudo, o processo de imunização “em debandada” – ou quando a humanidade começa a responder ao vírus pela própria imunidade – pode ser acelerado com uma recente descoberta israelense que promete desenvolver uma vacina contra o novo coronavírus em até 90 dias.

A novidade foi anunciada por David Zigdon, CEO do Instituto de Pesquisa da Galileia (Galilee Research Institute), que afirmou que há quatro anos o centro israelense trabalha com o desenvolvimento e programação de vacinas por meio da biotecnologia. Os vetores de suas proteínas são adaptados para levar o corpo a produzir anticorpos para determinados vírus. A pesquisa foi iniciada para combater um tipo de coronavírus, que tem como alvo as aves. A conquista foi comemorada pelo ministro de Ciência e Tecnologia de Israel, Ofir Akunis, que é um dos financiadores do projeto.

Independentemente se a promessa da vacina vai se concretizar no prazo, nos chama a atenção que Israel – com suas pequenas dimensões territoriais e populacionais – está novamente na fronteira do desenvolvimento científico. Mas, por que este pequeno país figura sempre no pódio do pioneirismo da ciência? É inegável que aspectos culturais e históricos contribuem para a formação da noção de prioridade de uma sociedade e de seus governos. Aos israelenses não lhes foi dada a pátria sem esforço, luta e consciência.

Portanto, sabe-se a importância de “contar consigo mesmo” o que passa desde a dedicação e participação nas Forças Armadas, pelo reconhecimento da importância de uma Educação de qualidade, até o investimento em Ciência e Tecnologia. Israel investe 4% de seu PIB em pesquisa e desenvolvimento, para efeitos de comparação, o Brasil investe 2,3%. É o segundo país do mundo nesse tipo de investimento proporcional ao seu PIB, atrás apenas da Coreia do Sul, de acordo com levantamento do Fórum Econômico Mundial. E não é de hoje que esse investimento tem trazido resultados rápidos e concretos para Israel: possui o maior número de autores publicados nos campos das ciências naturais, engenharia, agricultura e medicina e, até hoje, dez cidadãos israelenses possuem o Prêmio Nobel em diferentes áreas. Além disso, os israelenses são líderes em patentes registradas per capita.

Mas, esses resultados não se circunscrevem às fronteiras israelenses. Invenções como o T-Scan, para a detecção do câncer de mama; a amniocentese, exame hoje feito em mulheres grávidas de todo o mundo para diagnosticar doenças graves nos fetos; a produção de células humanas a partir do sangue, hoje fundamental para pacientes em quimioterapia; descoberta das funções do componente subcelular que produz as proteínas, que auxiliou o desenvolvimento de remédios para inúmeros tipos de tratamento, como do HIV; e, ainda, métodos modernos e amplamente utilizados para desintoxicação do sangue humano em casos de envenenamento; impactaram e mudaram o panorama da Saúde em todo o mundo.

São ainda invenções israelenses, as drogas balizares nos tratamentos contra a leucemia, esclerose múltipla, parkinson, diabetes, perda de visão e câncer de mama. Logo no início dos assentamentos judaicos, antes da construção do Estado de Israel, era condição sine qua non o investimento em tecnologias de agricultura numa sociedade baseada em extrativismo e pastoreio inserida num contexto semiárido.

A priorização que o povo judeu confere à ciência e tecnologia é tamanha que – considerada também a inequívoca competência – o único secretário municipal de São Paulo judeu, até o ano passado, era o vereador Daniel Annenberg, da pasta da Inovação e Tecnologia. Zelo pela diversidade e pela resiliência frente a situações adversas.
Essas são outras duas características fundamentais que estão relacionadas com o sucesso de Israel nas áreas de pesquisa e desenvolvimento, desde as ciências até o advento de startups inovadoras. Pela experiência militar obrigatória e de alto nível, os israelenses são expostos a uma formação específica e a um ambiente desafiador no qual devem usar seus conhecimentos para produzir soluções sob grande estresse, ou até ameaça de morte.

O Exército é, dessa forma, uma ferramenta radical para a inovação nacional que delineia boa parte da vida dos israelenses. Se o coronavírus terá ou não sua vacina desenvolvida pelos israelenses, o tempo dirá. Em todo o caso, há tempos podemos nos inspirar aqui no Brasil com a importância dada por Israel à Educação, à Pesquisa e ao Desenvolvimento Científico e como isso tem efeitos benéficos não só ao país, mas a toda a humanidade.

Floriano Pesaro
Sociólogo

A diáspora judaico-italiana ao Brasil – Tribuna 390

Mês passado foi o mês da Imigração Italiana no Brasil e eu escrevi na TRIBUNA JUDAICA sobre um recorte específico e significativo, em especial para São Paulo, dessa imigração, a diáspora judaico-italiana. Recomendo a leitura do artigo abaixo:

“A diáspora judaico-italiana ao Brasil
Floriano Pesaro, sociólogo

Não se trata de constatação inédita alegarmos o papel que a imigração italiana teve na formação demográfica brasileira, em especial na cidade de São Paulo com heranças que perpassam a culinária, os costumes, a comunicação, a geografia dos bairros e até signos mais sutis como os gestuais e o modo de falar. Contudo, essa ciência não é consenso quando falamos de uma faceta particular dessa imigração: a ítalo-judaica.

Os judeus tiveram uma longa jornada na Itália caracterizada, de um lado, por períodos pacíficos de convivência e, de outro, por perseguições, expulsões e execuções. Vindos das terras de Israel e da Grécia, os judeus se estabeleceram em grupos no entorno das sinagogas, em especial, na cidade de Roma. Ainda em tímida presença, os judeus foram trazidos em maiores números à bota europeia na conquista da Judéia pelo Império Romano que os inseriu na Itália como prisioneiros e escravos.

Até a ascensão do Cristianismo, os judeus passaram, então, a viver pacificamente e usufruírem do direito de construir suas escolas e sinagogas com forte presença no bairro de Trastevere e na Ilha Tiberina, ambos em Roma. Contudo, quando passaram a ser considerados testemunhas da história cristã, os judeus foram vistos dubiamente pelo Império Romano, ora como aqueles que devem ser tolerados por essa razão, ora perseguidos por – segundo alguns teólogos da época – terem sido responsáveis pela execução de Cristo. Assim começava a primeira grande perseguição aos judeus em território italiano.

A península italiana foi durante séculos – mesmo com as investidas e perseguições do papado de plantão – destino seguro para variadas diásporas, seja do Império Otomano após a Revolução Francesa ou das perseguições na Espanha e Portugal, a comunidade judaico-italiano era numerosa e espalhada pelo país. Contudo, esse cenário de estabilidade se quebrou com a ascensão do fascismo de Mussolini e as perseguições dos regimes nazi-fascista que obrigou a comunidade a deixar a Itália. Estima-se que os judeus somavam mais de 45 mil pessoas antes das perseguições fascistas e, após o fim da perseguição oficial, se viam em 20 mil contando ainda com aqueles que estavam de saída para Israel.

Nesse momento outros lugares do mundo passaram a receber essa comunidade sui genesis na sua própria essência – já que traz características de judeus de várias outras partes do mundo – e um desses lugares foi o Brasil. A imigração italiana no Brasil foi considerável, em especial, na cidade de São Paulo em dois momentos. Primeiramente durante o auge do ciclo do café no Brasil estima-se que cerca de 1,5 milhão de italianos imigraram para o Brasil em busca da sonhada titularidade da terra – que depois veio a ser um ledo engano. Já pouco antes e durante a Segunda Guerra Mundial houve novo ápice na imigração italiana, mas com outro perfil: pessoas fugindo de territórios conflagrados pela Guerra e – no caso dos judeus – perseguidas pelos seus governos.
O Brasil passou, então, a ser um destino para os judeus perseguidos pelo nazi-fascismo na Itália, uma vez que a comunidade, originalmente, havia se instalado no Ciclo da Borracha na região norte do país com considerável sucesso e gozando de tolerância e convivência pacíficas e – também antes da diáspora causada pela Segunda Guerra – haviam comunidades judaicas no sul e sudeste que se instalaram na onda de imigração brasileira do Ciclo do Café.

Ainda que a maioria dos judeus italianos tenham escolhido os Estados Unidos como destino, essa onda imigratória judaica cooperou para que hoje o Brasil tenha a segunda maior comunidade judaica na América Latina, atrás apenas da comunidade argentina. Eu mesmo venho dessa cepa: meu avô, Umberto, e minha avó, Gabriella – ou Nella – Pesaro, vieram com meu pai, Giorgio, ainda pequeno num navio em busca de uma terra que lhes creditasse a liberdade almejada, tal qual tantas outras famílias judaicas nesse período. O Brasil foi para os italianos uma segunda chance por, pelo menos, duas vezes, mas para os judeus italianos, foi a única chance de continuar vivendo.”

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