OrbisNews: A mente brilhante de John Nash e a geopolítica do século XXI
Por Floriano Pesaro
O século XXI exige lentes cada vez mais sofisticadas para compreender os movimentos do tabuleiro global. Em meio à ascensão da China, às tensões com os Estados Unidos, à fragmentação das cadeias produtivas e à reorganização das alianças estratégicas, é curioso notar que uma das ferramentas analíticas mais poderosas que temos hoje nasceu da mente de um matemático do século passado: John Forbes Nash.
Conhecido por seu trabalho sobre teoria dos jogos, Nash não apenas revolucionou a matemática e a economia, mas também ofereceu ao mundo um modelo conceitual, o famoso Equilíbrio de Nash, capaz de explicar comportamentos estratégicos em ambientes complexos, interdependentes e, muitas vezes, conflituosos.
O Equilíbrio de Nash descreve uma situação em que nenhum agente envolvido tem incentivo para alterar sua estratégia de forma unilateral, pois qualquer mudança isolada não traria benefício adicional. A genialidade desse conceito está justamente em sua capacidade de revelar padrões de estabilidade mesmo em contextos marcados por competição intensa.
Hoje, essa lógica é fundamental para compreender a política internacional. A disputa entre China e Estados Unidos, por exemplo, não pode ser analisada como um jogo de soma zero, em que um lado vence e o outro perde. Ambos os países operam com base em incentivos e limitações que moldam seus movimentos. E mesmo em cenários de tensão, como as guerras comerciais ou os embargos tecnológicos, há uma racionalidade estratégica, ainda que tensa, que remete diretamente à lógica proposta por Nash.
Mais do que um modelo matemático, o legado de Nash nos convida a pensar a geopolítica como um sistema de escolhas interdependentes. Nenhum país atua isoladamente. As ações de um influenciam e são influenciadas pelas reações dos demais. Essa é, aliás, a essência da interdependência estratégica, conceito que também deve nortear nossas políticas públicas e decisões de Estado.
Mas a teoria dos jogos não se restringe ao campo internacional. Ela é uma poderosa lente para o mundo corporativo, institucional e até mesmo pessoal. No cotidiano profissional, lidamos o tempo todo com cenários em que decisões dependem de outras decisões, seja em uma negociação entre áreas, na gestão de conflitos, na condução de projetos estratégicos ou na formulação de políticas públicas.
Saber aplicar os princípios da teoria dos jogos significa considerar os incentivos, os interesses e as possíveis reações de cada agente envolvido. Em vez de buscar ganhos imediatos ou ações isoladas, desenvolve-se a capacidade de pensar estrategicamente, construir soluções cooperativas e evitar armadilhas do curto-prazismo.
Em lideranças públicas ou privadas, a teoria dos jogos nos ajuda a planejar melhor, a antecipar movimentos, a desenhar estruturas de incentivo mais eficazes e, sobretudo, a tomar decisões mais informadas e responsáveis. Ela nos convida a olhar o todo, e não apenas a nossa peça no tabuleiro.
A trajetória pessoal de Nash, marcada pelo gênio e pelo sofrimento, eternizada no filme Uma Mente Brilhante, nos lembra que grandes ideias nascem da complexidade da mente humana. Sua contribuição vai além dos cálculos: é uma proposta ética de reconhecimento mútuo em um mundo onde todos são jogadores, conscientes ou não, de um jogo coletivo.
Em tempos de transição global, em que velhas certezas ruem e novas alianças se formam, retomar a teoria dos jogos é mais do que um exercício intelectual. É um ato de lucidez política e profissional. É enxergar que, para construir estabilidade, é preciso compreender os limites do outro, reconhecer seus interesses e operar dentro de um campo de possibilidades reais.
É por isso que, em meio às incertezas da nova ordem mundial, e dos desafios do nosso cotidiano, a mente brilhante de John Nash permanece mais atual do que nunca.
OrbisNews: A relatividade da percepção e a política da escuta
Por Floriano Pesaro
A teoria da relatividade da percepção, apresentada com fina ironia por Bertrand Russell, filósofo, matemático britânico e Prêmio Nobel de Literatura, é uma poderosa lente para entender a política e as relações sociais. Ao afirmar que “leões e panteras são inofensivos, mas tome cuidado com galinhas e patos”, segundo o que uma minhoca teria dito a seus filhos, Russell nos provoca a refletir: o que parece seguro ou perigoso depende sempre de quem observa. O risco, o valor, o certo ou o errado, tudo é relativo à posição de quem sente.
Na política e na gestão pública, essa lógica se impõe diariamente. Governar é, muitas vezes, administrar percepções. Compreender o lugar do outro, sua história, seus medos, suas necessidades, é essencial para tomar decisões justas, eficazes e socialmente legítimas.
Fui gestor público na área da assistência social na capital de São Paulo e, depois, secretário de Estado do Desenvolvimento Social. Em ambas as funções, pude vivenciar de perto como percepções distintas sobre uma mesma política pública geram reações opostas, e como a escuta e o diálogo são fundamentais para o bom governo.
Lembro, por exemplo, das reações quando era necessário abrir um abrigo para pessoas em situação de rua. Muitos moradores do entorno manifestavam resistência, temendo impacto na segurança ou no cotidiano da vizinhança. Mas do outro lado estavam homens e mulheres que precisavam de acolhimento, dignidade e proteção, especialmente em dias de frio intenso. O mesmo se repetia na abertura de abrigos para crianças e adolescentes abandonados por suas famílias, enquanto parte da população questionava a presença dessas unidades, bastava ouvir os profissionais da rede ou as próprias crianças para entender que se tratava de uma urgência humana.
Um caso que me marcou especialmente foi a criação do primeiro Centro de Referência da Mulher na cidade de São Paulo. Alguns criticaram o projeto por considerá-lo um espaço “segmentado”. No entanto, bastava ouvir as vítimas de violência doméstica para compreender que aquele espaço não era um privilégio, mas uma necessidade. Ali se ofereciam proteção, escuta, recomeço. Era mais do que um equipamento social: era um espaço de reconstrução da dignidade.
Esses episódios mostram que as percepções não são obstáculos à boa política, são parte central dela. Uma gestão eficaz não ignora o medo ou a incompreensão. Ao contrário, enfrenta esses sentimentos com escuta ativa, empatia e disposição para explicar, negociar e ajustar.
A teoria da relatividade da percepção nos ensina que a verdade absoluta é uma ilusão perigosa. O gestor que desconsidera os diferentes olhares da sociedade corre o risco de fracassar, mesmo que tecnicamente esteja certo. Já aquele que escuta, inclusive o que parece irracional, amplia sua capacidade de governar com justiça e eficácia.
Como disse Bertrand Russell, “o problema da humanidade é que os estúpidos são excessivamente confiantes e os inteligentes cheios de dúvidas”. Talvez a dúvida, quando acompanhada da escuta sincera, seja uma das maiores virtudes na vida pública. Afinal, toda minhoca tem seus predadores. E toda política eficaz nasce do reconhecimento sincero das diferenças.
Portal JOTA: Quarenta anos de democracia: uma conquista a ser defendida todos os dias
Por Floriano Pesaro
Em 15 de março de 1985, o Brasil deu início à sua mais longa travessia democrática. Com a posse de José Sarney na Presidência da República, após a eleição de Tancredo Neves, impedido de assumir por motivos de saúde, encerrava-se o ciclo autoritário iniciado em 1964. A redemocratização não foi um presente concedido por generais benevolentes, mas uma conquista do povo brasileiro, mobilizado nas ruas por meio do movimento Diretas Já, que uniu diferentes forças políticas em torno de um objetivo comum: o direito de escolher seus governantes.
Aquela luta, que teve como protagonistas nomes como Tancredo Neves, Ulysses Guimarães, Mário Covas, Fernando Henrique Cardoso, Luiz Inácio Lula da Silva, Geraldo Alckmin e Franco Montoro, entre outros, e muitos artistas, mostrou que a democracia nasce do diálogo, da convivência entre diferentes e da crença no futuro compartilhado.
Grandes nomes da cultura brasileira, como Chico Buarque, Fernanda Montenegro, Fafá de Belém, Milton Nascimento e Osmar Santos usaram suas vozes, palcos e canções para mobilizar consciências e fortalecer o espírito democrático. Como disse Montoro, então governador de São Paulo: “A democracia não é o direito de ser igual, mas o dever de ser diferente.” Uma frase que, ainda hoje, ecoa como antídoto necessário contra os ventos da intolerância.
Ulysses Guimarães, ao promulgar a Constituição de 1988, foi categórico: “Temos ódio e nojo da ditadura. Amaldiçoamos a tirania onde quer que ela desgrace homens e nações.” Não há espaço para relativizações. A ditadura foi um período de arbítrio, censura, tortura e negação das liberdades fundamentais. E é preciso afirmar isso com todas as letras, especialmente em tempos de revisionismo histórico e discursos negacionistas que buscam reescrever o passado e atacar os alicerces da vida democrática.
Aos quarenta anos, a democracia brasileira está viva e, por isso mesmo, desafiada. Enfrenta uma era de polarização radical, desinformação, ataques às instituições e banalização da mentira. As fake news, muitas vezes propagadas por agentes públicos, solapam a confiança da sociedade e corroem o espírito democrático. Em um ambiente onde o contraditório é visto como ameaça, o debate vira confronto, e a política se transforma em guerra cultural.
Mas a democracia não é unanimidade, é divergência. Como bem lembrava Mário Covas, “a democracia é, antes de tudo, uma convivência de contrários”. É na diferença que reside sua força, e no respeito às instituições, sua garantia de continuidade. Por isso, é preciso reafirmar que instituições como o Supremo Tribunal Federal, o Congresso Nacional, o Ministério Público e a imprensa livre não são obstáculos ao povo, são pilares da República.
Fernando Henrique Cardoso, presidente eleito em 1994, dizia que “a democracia não é o caminho mais fácil, mas é o mais seguro”. É verdade. Ela exige paciência, escuta, compromisso com a verdade e abertura ao outro. Tancredo Neves já dizia: “A esperança venceu o medo.” Mas essa esperança precisa ser cultivada diariamente, não apenas com palavras, mas com gestos, políticas e educação para a cidadania.
Os quarenta anos da redemocratização brasileira não devem ser apenas motivo de celebração, mas também de vigilância e compromisso. Que essa memória não se perca, e que os líderes de ontem, tão diferentes entre si, mas unidos por um ideal comum, sirvam de exemplo para os desafios de hoje. Que saibamos preservar o que conquistamos e construir, com responsabilidade e coragem, uma democracia cada vez mais sólida, justa e inclusiva.
Porque, como já aprendemos, quando o autoritarismo cresce, é sempre a democracia que paga o preço e o povo que sofre as consequências.
Exemplo recente e simbólico dessa capacidade de união foi a aliança entre Luiz Inácio Lula da Silva e Geraldo Alckmin na eleição presidencial de 2022. Antigos adversários, colocaram de lado suas diferenças em nome da defesa da democracia, diante de ameaças reais e evidentes de retrocessos institucionais que poderiam levar o país novamente a um regime autoritário. Essa escolha reafirmou a maturidade política de quem compreende que, quando a democracia está em risco, o que nos une deve ser sempre mais forte do que aquilo que nos separa.
Revista Consultor Jurídico: Gestão por resultados na era da inovação: Experiências à frente da Gestão Corporativa da ApexBrasil.
Por Floriano Pesaro
Nos últimos dois anos, à frente da diretoria de Gestão Corporativa da ApexBrasil, sob a liderança do presidente Jorge Viana, venho trabalhando na consolidação de uma cultura organizacional centrada em resultados concretos, inovação, transparência e participação. Em um mundo em constante transformação, marcado por mudanças tecnológicas aceleradas, pressões sociais legítimas e um ambiente institucional desafiador, reafirmamos diariamente o compromisso com uma gestão pública eficiente, moderna e conectada com as necessidades reais do país.
Adotar uma gestão por resultados significa estabelecer metas claras, mensurar avanços, corrigir rumos e, principalmente, garantir que os esforços institucionais estejam sempre voltados à geração de valor público. Como ensinou Peter Drucker, o pai da administração moderna, “o que não pode ser medido, não pode ser gerenciado”. Essa abordagem nos levou a rever rotinas, alinhar indicadores, fortalecer a governança e ampliar o protagonismo das equipes.
Uma das referências que tem me inspirado nesse processo é o livro The Toyota Way, de Jeffrey Liker, que descreve os 14 princípios de gestão que transformaram a Toyota em um símbolo mundial de excelência e inovação. O primeiro deles, que trata da base filosófica de longo prazo, mesmo em detrimento de resultados financeiros imediatos, reforça a importância de um propósito institucional sólido e duradouro. A Agência Brasileira de Promoção de Exportações e Investimentos tem como missão promover as exportações brasileiras e atrair investimentos, mas esse trabalho precisa ser sustentado por fundamentos organizacionais consistentes.
No campo da inovação, a incorporação de soluções baseadas em inteligência artificial tem sido um diferencial. Temos explorado o potencial da IA para automatizar processos, melhorar a análise de dados, apoiar a tomada de decisão e aprimorar o relacionamento com nossos públicos. A inovação não é mais um luxo ou um experimento isolado, mas uma diretriz transversal que orienta a forma como planejamos, executamos e avaliamos nossas ações. Essa visão dialoga com o segundo princípio da Toyota, que prega a criação de fluxos de processos contínuos para levar os problemas à tona, e com o sexto, que recomenda padronizar tarefas como base para melhoria e capacitação.
A tecnologia da informação tem sido outro pilar dessa transformação. Investimos na modernização da infraestrutura digital, na segurança da informação e na integração de sistemas, garantindo maior agilidade e confiabilidade às operações. Seguimos, assim, o oitavo princípio do Toyota Way: usar apenas tecnologia confiável e testada que atenda às necessidades das pessoas e agregue valor ao processo.
Mas nenhuma transformação organizacional é possível sem a valorização das pessoas. Estruturamos programas de capacitação, aprimoramos a comunicação interna e investimos no fortalecimento das lideranças, promovendo um ambiente de trabalho colaborativo, criativo e comprometido. Também conduzimos um processo robusto de revisão das carreiras e de elaboração de um novo plano de desenvolvimento profissional, com o objetivo de alinhar expectativas, reconhecer competências e criar caminhos claros de crescimento dentro da organização.
O nono princípio da Toyota, que enfatiza o desenvolvimento de líderes que compreendam profundamente o trabalho e incorporem a filosofia da empresa, é um norte nesse sentido. Do mesmo modo, o décimo princípio — desenvolver pessoas e equipes excepcionais que sigam a filosofia da organização — tem guiado nossos esforços em gestão de pessoas.
Outro campo em que avançamos de forma expressiva foi na revisão de processos e de normativos internos. Mapeamos fluxos, identificamos gargalos e simplificamos procedimentos, com foco na eliminação de desperdícios e na geração de valor. Isso está totalmente alinhado ao quinto princípio da Toyota, que recomenda construir uma cultura de parar para resolver os problemas, com o objetivo de obter qualidade desde o início do processo. Revisar normas não é apenas atualizar regras: é garantir coerência, aplicabilidade e legitimidade institucional.
A gestão participativa e a transparência também são valores que orientam nosso dia a dia. Criamos canais de escuta, estimulamos a corresponsabilidade e ampliamos a prestação de contas, promovendo uma cultura de diálogo e confiança. O 11º princípio do Toyota Way, que fala sobre respeito à rede de parceiros e fornecedores, valorizando a confiança mútua, é um lembrete constante de que uma organização não existe isoladamente — ela é parte de um ecossistema.
Por fim, reforçamos o compromisso com a melhoria contínua e a tomada de decisões com base no consenso e na experiência prática, como propõem os últimos três princípios da Toyota. Melhorar constantemente, com base na observação direta da realidade, é um exercício diário de humildade, escuta e aprendizado. E isso só é possível quando temos um time comprometido, lideranças engajadas e uma direção institucional clara e alinhada com o interesse público.
A experiência na diretoria de Gestão Corporativa da ApexBrasil tem sido desafiadora e profundamente transformadora. Temos buscado implementar um modelo de gestão pública que combina estratégia, inovação, disciplina operacional e sensibilidade humana. A tecnologia é um meio; as pessoas, o fim. E a boa gestão é o caminho que une esses dois pontos com propósito, responsabilidade e resultados.
OrbisNews: Propósito em Movimento: Navegando a Vida com uma Constelação em vez de uma Estrela Solitária
Por Floriano Pesaro
Vivemos em uma era em que a busca pelo propósito se tornou quase uma obsessão. Em um mundo de incertezas, muitos se apegam à ideia de uma estrela do norte, como dizem os americanos, um único propósito fixo que deveria guiar todas as nossas decisões. No entanto, essa visão linear e rígida pode ser mais limitadora do que libertadora.
Tive a oportunidade de explorar profundamente essa questão com meu mentor Michael Ventura, autor e estrategista, que propõe uma abordagem diferente: em vez de uma única estrela do norte, nosso propósito é mais parecido com uma constelação, um conjunto de referências que nos ajudam a navegar pelas mudanças da vida. Esse conceito ressoa profundamente comigo e tem influenciado minha forma de pensar sobre desenvolvimento pessoal e profissional.
A ideia de um único propósito tem raízes em um passado onde carreiras e vidas eram mais previsíveis. Era comum passar décadas em um único emprego, construir uma família dentro de padrões bem estabelecidos e seguir um roteiro de vida relativamente estável. Mas o mundo mudou. Hoje, mudamos de emprego com frequência, nossos interesses evoluem e eventos inesperados como uma pandemia global reconfiguram completamente nossas prioridades. O que parecia ser um propósito sólido há cinco anos pode já não fazer sentido hoje. Ventura argumenta que nos apegamos à ideia de uma única estrela do norte porque fomos condicionados a acreditar que existe uma resposta definitiva para a pergunta “qual é o meu propósito?”, no entanto, essa busca muitas vezes leva à frustração, pois raramente encontramos um único caminho que satisfaça todas as dimensões da nossa identidade.
A alternativa a essa visão linear é pensar no propósito como uma constelação. Em vez de buscar um único ponto fixo no horizonte, podemos mapear diferentes aspectos da nossa vida que, juntos, formam um guia mais completo e adaptável. Michael Ventura propõe que, para construir nossa própria constelação, devemos considerar treze elementos que influenciam nosso senso de propósito. Entre eles estão a origem e como nossas experiências iniciais moldaram quem somos, a identidade e os valores essenciais que nos definem, os relacionamentos e quem nos apoia ou quem nós apoiamos, a expressão e a forma como compartilhamos nossas ideias e talentos com o mundo, o bem-estar e o cuidado com nossa saúde física e mental, e o legado que queremos deixar. Ao olharmos para essas dimensões, percebemos que propósito não é um destino fixo, mas um equilíbrio dinâmico entre diferentes áreas da vida. E, assim como uma constelação, nossa trajetória pode ser ajustada conforme crescemos e evoluímos.
Para aplicar essa abordagem no dia a dia, Ventura sugere algumas perguntas que podem ajudar a esclarecer nossas direções. Quem são seus heróis e por quê? As qualidades que admiramos nos outros muitas vezes refletem o que buscamos em nós mesmos. Quais são suas aspirações atuais? Não o que você queria há dez anos, mas o que realmente importa para você agora. O que te preenche e o que te esgota? Avaliar se há equilíbrio entre o que você dá e o que recebe nas suas relações. Quais são os sinais de que você precisa mudar? Muitas vezes ignoramos sinais de desconforto e estagnação. Como uma lagosta que precisa abandonar sua casca para crescer, precisamos nos permitir momentos de vulnerabilidade para expandir nosso potencial.
Uma das reflexões mais impactantes que aprendi com Ventura é a noção do “dead date”, um exercício de imaginar sua expectativa de vida e calcular quantas oportunidades ainda restam para fazer as coisas que realmente importam. Quantas vezes mais você verá seus pais? Quantos livros ainda lerá? Quantas viagens ainda fará? Esse tipo de pensamento nos ajuda a entender que o tempo é um recurso finito e que devemos usá-lo com intenção. Se não há uma única estrela do norte para guiar nossa vida, cabe a nós escolher conscientemente quais pontos da constelação queremos seguir em cada fase da jornada.
O conceito de propósito muitas vezes nos leva a uma busca exaustiva por respostas definitivas. Mas talvez a resposta não esteja em uma única direção, e sim na construção de um caminho que faça sentido a partir daquilo que valorizamos. Em um mundo em constante transformação, nossa melhor bússola pode ser a capacidade de adaptação, combinada com uma visão clara dos elementos que compõem a nossa constelação pessoal.
OrbisNews: O Fluxo Global de Talentos em Inteligência Artificial: Tendências e Implicações
Por Floriano Pesaro
A Inteligência Artificial (IA) tornou-se um dos pilares da revolução tecnológica global, impulsionando inovação em diversas áreas, desde a saúde até a segurança cibernética.
No centro dessa transformação estão os talentos de elite que lideram a pesquisa e o desenvolvimento na área. O Global AI Talent Tracker 2.0, produzido pela MacroPolo em parceria com o Paulson Institute um “think and do tank” independente e apartidário dedicado a promover relacionamentos globais que promovam a prosperidade econômica e o crescimento sustentáve, apresenta uma análise detalhada sobre a distribuição e fluxo desses talentos, com base nos pesquisadores que publicaram na prestigiada conferência Neural Information Processing Systems (NeurIPS). O estudo revela tendências significativas que impactam diretamente a capacidade dos países de inovar e liderar na corrida pela supremacia em IA.
Os Estados Unidos continuam sendo o maior polo de atração de talentos em IA. O estudo aponta que 64% dos pesquisadores de elite atuam nos EUA, mesmo que tenham se formado em outros países. Esse domínio se deve a fatores como a presença de grandes empresas de tecnologia, universidades de ponta e um ambiente favorável à inovação. Contudo, observa-se uma leve queda na taxa de retenção: enquanto em 2019 os EUA absorviam 70% dos talentos globais, esse número caiu para 64% em 2023. Isso se deve a políticas imigratórias mais restritivas e à ascensão de outros centros de pesquisa globais, como a China e a Europa.
No passado, uma parcela significativa dos talentos chineses e indianos migrava para os EUA sem perspectivas de retorno. No entanto, o estudo indica que esses países estão conseguindo reter mais pesquisadores em suas próprias instituições e empresas de tecnologia. A China, por exemplo, investiu cerca de US$ 150 bilhões na última década para fortalecer sua infraestrutura de pesquisa em IA, resultando em um aumento de 18% na retenção de seus talentos. Atualmente, 45% dos pesquisadores chineses formados no exterior retornam ao país, em comparação com apenas 20% em 2015.
A Índia também vem se consolidando como um hub tecnológico, com incentivos a startups e inovação. Em 2023, 35% dos pesquisadores indianos em IA decidiram permanecer no país, um aumento considerável em relação aos 18% registrados em 2017. Esse avanço reflete a criação de programas como o India AI Mission, que destina US$ 1,2 bilhão a projetos de pesquisa em IA e machine learning.
Desde 2019, a mobilidade global de talentos em IA tem diminuído. O estudo aponta que essa queda pode ser atribuída a diversos fatores, incluindo políticas governamentais mais protecionistas, a pandemia da COVID-19 e um maior investimento doméstico em pesquisa por parte de países que antes dependiam da migração de seus talentos. Entre 2019 e 2023, a taxa de mobilidade global de pesquisadores em IA caiu 15%, com mais talentos optando por permanecer em seus países de origem ou migrar para centros alternativos, como Singapura e Canadá.
Esse fenômeno pode alterar a dinâmica de colaboração internacional e concentrar ainda mais o conhecimento em alguns poucos centros, limitando o intercâmbio científico. Singapura, por exemplo, viu um crescimento de 25% na sua capacidade de atrair talentos de IA entre 2020 e 2023, tornando-se um destino alternativo a EUA e China.
O Brasil vem tentando fortalecer sua presença no cenário global de IA, embora ainda enfrente desafios significativos. De acordo com o estudo, cerca de 75% dos pesquisadores brasileiros formados nas melhores universidades do país acabam migrando para centros internacionais, especialmente os EUA e a Europa. A falta de financiamento contínuo e infraestrutura de ponta são os principais fatores que impulsionam essa fuga de talentos.
Para tentar reverter esse quadro, o Brasil lançou recentemente o programa AI for Innovation, com um investimento de R$ 2 bilhões para fortalecer o setor e atrair pesquisadores brasileiros que atuam no exterior. Além disso, o governo federal anunciou parcerias com universidades e empresas privadas para criar hubs de inovação focados em IA em cidades como São Paulo, Belo Horizonte e Recife. Iniciativas como essas buscam não apenas reter talentos nacionais, mas também posicionar o Brasil como um player competitivo no cenário internacional de IA.
O avanço de setores como agronegócio e biotecnologia no país também tem impulsionado o investimento em IA, com startups desenvolvendo soluções inovadoras para problemas locais. No entanto, especialistas alertam que ainda é necessário um esforço maior para garantir um ambiente regulatório mais favorável à pesquisa e ao desenvolvimento na área.
A distribuição de talentos impacta diretamente o avanço da IA no mundo. Os EUA seguem na dianteira, mas o avanço da China e de outros países desafia essa supremacia. Para manter sua posição, os EUA precisarão continuar investindo em políticas de atração e retenção de talentos, além de fortalecer parcerias acadêmicas e empresariais. Atualmente, o país destina US$ 4 bilhões anuais para bolsas de pesquisa e programas de incentivo a pesquisadores estrangeiros.
Ao mesmo tempo, países emergentes têm uma oportunidade única de consolidar seus ecossistemas de IA ao oferecer melhores condições para seus pesquisadores. No caso do Brasil, apesar dos desafios, iniciativas recentes indicam um caminho promissor para reduzir a fuga de talentos e fortalecer a inovação local.
O relatório “Global AI Talent” nos mostra que o futuro da IA será definido não apenas pelo avanço tecnológico, mas também pelas estratégias adotadas pelos países para atrair, reter e desenvolver seus talentos. A competição por esses profissionais está apenas começando e, no longo prazo, determinará quais nações liderarão a próxima revolução tecnológica.
OrbisNews: A Nova Fronteira da Inteligência de Dados e IA: O Futuro das Organizações
Floriano Pesaro
“A inteligência artificial não substituirá os humanos, mas aqueles que souberem utilizá-la substituirão aqueles que não souberem.”
Kai-Fu Lee, especialista em IA e ex-presidente do Google China.
A inteligência artificial generativa (GenAI) está promovendo uma revolução sem precedentes em inovação, criatividade e produtividade. Em pouco mais de um ano, essa tecnologia passou de um conceito experimental para uma ferramenta estratégica essencial nas organizações. Empresas de todos os setores agora reconhecem que seus dados são o ativo central para proporcionar uma experiência de IA de qualidade. Diante disso, a grande questão que desafia os líderes empresariais é: como transformar dados em valor estratégico de maneira eficiente e ágil?
O mais recente relatório State of Data + AI Report evidencia que as organizações estão se tornando cada vez mais eficazes na implantação de modelos de aprendizado de máquina (machine learning – ML). A eficiência nesse processo aumentou três vezes, enquanto o número de modelos de IA em produção deu um salto de 11 vezes em um único ano. O mercado está deixando para trás a fase experimental e avançando para um cenário de adoção massiva e produtiva da IA.
Empresas enfrentavam desafios significativos para operacionalizar seus modelos de IA devido à fragmentação de dados e plataformas. O avanço das plataformas de inteligência de dados está mudando esse cenário, facilitando a segurança, o monitoramento e a governança dos modelos. Setores altamente regulados, como serviços financeiros e saúde, vêm se destacando na adoção de IA, contrariando a ideia de que seriam mais conservadores na implementação de novas tecnologias.
O relatório aponta que 76% das empresas que utilizam modelos de linguagem (LLMs) preferem soluções de código aberto, muitas vezes combinadas com modelos proprietários. A crescente adoção da IA generativa tem levado muitas organizações a priorizar a personalização desses modelos com seus próprios dados, utilizando abordagens como a retrieval augmented generation (RAG). Esse modelo, que se apoia em bancos de dados vetoriais, cresceu 377% em um ano, refletindo a necessidade crescente de garantir respostas mais precisas e reduzir os riscos de alucinações nos modelos de IA.
O Impacto da IA nos Diferentes Setores da Economia
Cada setor enfrenta desafios e oportunidades distintas na adoção da inteligência artificial. O varejo e bens de consumo são os mais avançados, com 25% de seus modelos de aprendizado de máquina sendo efetivamente implantados. Isso se deve à forte concorrência e às demandas dos consumidores por personalização e eficiência.
No setor financeiro, historicamente mais cauteloso, houve uma grande evolução. O número de experimentos necessários antes da implementação caiu de 29 para 10, tornando o setor quase três vezes mais eficiente na transição da experimentação para a produção. Esse avanço tem sido impulsionado pelo uso crescente de GPUs (unidades de processamento gráfico), cuja adoção cresceu 88% em seis meses. As GPUs desempenham um papel crucial na IA, pois permitem o processamento simultâneo de grandes volumes de dados, acelerando a análise de riscos, a detecção de fraudes e a otimização de portfólios.
No setor de saúde, a IA tem se mostrado uma ferramenta essencial para análise de dados clínicos, descoberta de novos medicamentos e melhoria da gestão hospitalar. Com 69% da infraestrutura de IA voltada para processamento de linguagem natural (NLP), essa tecnologia vem transformando registros médicos em insights acionáveis. Além disso, o uso de séries temporais para previsões médicas cresceu 115% no último ano, permitindo a detecção antecipada de surtos epidemiológicos e a otimização de estoques de insumos hospitalares.
Na ApexBrasil, estamos comprometidos em transformar a inteligência artificial em uma ferramenta estratégica para impulsionar a internacionalização das empresas brasileiras. Sob a liderança determinada do presidente Jorge Viana, a agência vem avançando na digitalização de seus processos e na adoção de IA para melhorar a eficiência operacional e ampliar o impacto das exportações brasileiras.
Como diretor de gestão corporativa, tenho coordenado um esforço técnico e estratégico contínuo para integrar inteligência artificial e ciência de dados às operações da ApexBrasil. Isso envolve desafios como unificação e análise de dados, desenvolvimento de modelos preditivos e personalização de soluções para os exportadores brasileiros. A IA tem permitido a criação de ferramentas mais inteligentes para apoiar empresas na tomada de decisões e na busca por novos mercados, garantindo que o Brasil esteja à frente na corrida da transformação digital.
A experiência internacional mostra que as organizações que lideram essa revolução são aquelas que adotam uma abordagem baseada em dados, governança eficiente e integração inteligente da IA aos seus processos. Não se trata apenas de utilizar IA como um diferencial competitivo, mas de incorporá-la como um pilar fundamental para a transformação digital e o crescimento sustentável.
Os avanços na inteligência artificial e ciência de dados não apenas ampliam a eficiência das empresas, como também permitem maior automação e personalização dos serviços. A IA generativa está redefinindo a maneira como interagimos com a tecnologia, e aqueles que souberem explorá-la estrategicamente estarão na vanguarda da inovação.
Na ApexBrasil, estamos trilhando esse caminho com determinação, estudo técnico e inovação, consolidando a inteligência artificial como um motor de crescimento e oportunidades para o Brasil no cenário global.
CorreioBraziliense: Prioridades e desafios tecnológicos em 2025
Floriano Pesaro
O chief information officer (CIO), ou diretor de informações, ocupa uma posição estratégica na gestão de tecnologia da informação (TI) e na transformação digital das organizações. No setor público, seu papel é ainda mais relevante, pois suas decisões afetam diretamente a eficiência dos serviços governamentais e a qualidade de vida dos cidadãos. O relatório 2025 CIO Agenda: Top Priorities and Technology Plans for Governments, da Gartner, apresenta um panorama claro das prioridades e dos desafios dos líderes de TI para o próximo ano.
De acordo com o estudo, os orçamentos de TI no setor público deverão crescer, em média, 3,2% em 2025. Entre as áreas prioritárias para investimento, estão a cibersegurança, que será ampliada por 89% dos entrevistados, inteligência artificial (IA), priorizada por 82%, e inteligência de dados, com 84% dos CIOs indicando aumento nos recursos destinados. Em contraste, tecnologias legadas, como data centers tradicionais, sofrerão cortes significativos, com 34% dos gestores planejando reduzir aportes nessas áreas. Essa redistribuição reflete a busca por modernização e eficiência.
A aplicação de novas tecnologias também é destaque, com plataformas de desenvolvimento low-code/no-code, inteligência artificial generativa e inteligência artificial convencional previstas para serem implementadas em 95% das organizações até 2027. Essas soluções têm o objetivo de agilizar processos e oferecer maior personalização nos serviços públicos, acompanhando as demandas dos cidadãos e melhorando a entrega de valor.
Quando se trata da escolha de fornecedores, os CIOs consideram critérios como o custo total de propriedade, apontado por 60% dos entrevistados como prioritário, inovação, citada por 55%, e o roadmap do produto, com 54%. Já os principais objetivos esperados com os investimentos em tecnologia incluem a melhoria da experiência do cidadão ou cliente e a conformidade regulatória, ambos citados por 93% dos líderes, além do aumento das margens operacionais, apontado por 89% dos participantes.
No contexto brasileiro, a ApexBrasil tem se destacado como um exemplo de instituição pública que utiliza a tecnologia para modernizar sua atuação. Sob a liderança do presidente Jorge Viana, a agência vem consolidando sua posição como referência em transformação digital. O programa Agência Digital, que prevê investimentos relevantes em 2025, exemplifica essa evolução. Com ações que vão desde a integração de sistemas até a automação de processos, a iniciativa busca aumentar a eficiência operacional, melhorar a experiência dos clientes e garantir um atendimento mais ágil e personalizado.
Entre os avanços promovidos pela ApexBrasil, destaca-se o piloto da Jornada Exportadora, que utiliza inteligência artificial para mapear e otimizar as etapas percorridas pelas empresas no processo de exportação. Essa iniciativa vai além da simples oferta de produtos digitais, propondo um acompanhamento contínuo e customizado para responder às necessidades específicas de cada cliente. Outro marco importante é a governança de dados, que está sendo fortalecida por meio de contratos com empresas especializadas, como Microsoft e Hyti, para aprimorar a qualidade das informações e permitir análises mais profundas e assertivas.
Sob minha responsabilidade como diretor de Gestão Corporativa e COO (Chief Operating Officer), a ApexBrasil tem trabalhado para implementar tecnologias emergentes que facilitem a tomada de decisão e aumentem a eficiência administrativa. Soluções como robôs de acessibilidade, automação de processos e inteligência artificial generativa têm transformado a forma como interagimos com nossos públicos-alvo, garantindo respostas mais rápidas e relevantes às demandas do mercado.
A aplicação de inteligência artificial na ApexBrasil também está transformando a maneira como as empresas acessam informações e tomam decisões sobre exportação. Ferramentas avançadas têm possibilitado a criação de algoritmos para prever tendências de mercado e oferecer recomendações personalizadas em tempo real, acompanhando as necessidades específicas dos exportadores. Além disso, a integração de dados internos e externos permite uma visão mais completa e confiável para apoiar as estratégias de internacionalização das empresas brasileiras.
A experiência da ApexBrasil demonstra que a transformação digital vai além da adoção de tecnologias avançadas. Trata-se de uma mudança de mentalidade, que exige o fortalecimento da governança, a integração de processos e o foco em resultados concretos para os cidadãos. Sob o comando de Jorge Viana, a agência tem mostrado que é possível inovar, modernizar e ampliar o impacto das políticas públicas, posicionando o Brasil como protagonista no mercado global.
O cenário traçado pela Gartner evidencia que os CIOs, assim como as lideranças de organizações como a ApexBrasil, têm um papel fundamental na construção de um futuro mais eficiente, inclusivo e orientado para resultados. A transformação digital não é apenas uma necessidade técnica, mas um compromisso estratégico com a inovação e o desenvolvimento sustentável.
Os 10 Riscos Globais de 2025 e Suas Implicações para o Brasil
Floriano Pesaro
O cenário global de 2025 apresenta desafios de grande complexidade, identificados pelo Eurasia Group, em sua análise anual. Os 10 principais riscos globais desse ano refletem uma realidade marcada por tensões geopolíticas, avanços tecnológicos descontrolados e incertezas econômicas. Esses fatores, embora impactem o mundo de maneira geral, possuem consequências específicas para o Brasil, que vive um momento delicado em sua economia e política. Este artigo explora esses riscos e como eles podem influenciar o Brasil em 2025.
O primeiro risco identificado é o “G-Zero”, um mundo sem liderança global definida. A ausência de cooperação entre as grandes potências enfraquece instituições multilaterais e dificulta a resolução de crises globais, como mudanças climáticas e segurança alimentar. Para o Brasil, essa fragmentação global reduz sua capacidade de influenciar decisões internacionais e aumenta sua vulnerabilidade em acordos comerciais e ambientais. Por outro lado, a busca por segurança alimentar e energética por parte de outros países pode gerar novas oportunidades para o Brasil se posicionar como fornecedor estratégico.
O segundo risco é o retorno de Donald Trump ao poder nos Estados Unidos, consolidando o que o Eurasia Group chama de “O Retorno do Rei”. A concentração de poder nas mãos de Trump e de aliados republicanos pode levar a políticas unilaterais que afetam diretamente economias emergentes. Para o Brasil, essa situação é preocupante, já que políticas protecionistas norte-americanas podem prejudicar exportações e investimentos. Além disso, a polarização interna brasileira pode ser intensificada caso Trump manifeste apoio ao ex-presidente Jair Bolsonaro, ampliando tensões políticas e sociais no país.
As tensões entre Estados Unidos e China, terceiro risco da lista, também possuem impactos diretos para o Brasil. A competição entre essas potências afeta o comércio global, pressionando economias emergentes. No Brasil, o aumento das importações de produtos chineses, especialmente em setores como petroquímicos e vestuário, ameaça a competitividade da indústria nacional. Entretanto, o agronegócio brasileiro se beneficia dessa disputa, especialmente na exportação de soja e outras commodities, fortalecendo sua posição como fornecedor estratégico para a China.
As políticas econômicas de Trump, conhecidas como “Trumponomics”, representam o quarto risco global e são especialmente desafiadoras para o Brasil. A elevação das taxas de juros nos Estados Unidos, combinada com um dólar forte, dificulta o financiamento da dívida pública brasileira e alimenta a inflação interna. O Brasil, que já enfrenta um déficit fiscal elevado e juros altos, precisa implementar reformas econômicas para estabilizar sua economia sem comprometer o crescimento. Além disso, a volatilidade nos preços de commodities, como o petróleo, aumenta a incerteza econômica.
Outro risco relevante é o isolamento da Rússia, que continua marginalizada devido à guerra na Ucrânia. Embora o Brasil não esteja diretamente envolvido no conflito, o impacto global da crise energética e alimentar afeta o país. Como um dos maiores produtores agrícolas do mundo, o Brasil tem a oportunidade de se consolidar como fornecedor estratégico em mercados internacionais. Contudo, isso exige investimentos em infraestrutura e políticas que aumentem a eficiência do setor.
A crise no Irã, marcada por uma possível implosão do regime, é outro fator de instabilidade global. Para o Brasil, os impactos diretos são limitados, mas a instabilidade na região contribui para a volatilidade nos preços do petróleo, afetando a economia nacional. Além disso, o aumento da fragmentação geopolítica pode dificultar as negociações comerciais brasileiras em mercados estratégicos.
A falta de regulamentação no uso de inteligência artificial é outro risco significativo para 2025. A aplicação descontrolada de IA, especialmente para fins bélicos, pode criar novas formas de conflito global. Para o Brasil, isso representa um desafio em termos de competitividade tecnológica e segurança cibernética. Investir em inovação e regulamentação é essencial para evitar que o país fique para trás nesse cenário.
Os chamados “espaços não governados”, como regiões sem jurisdição clara no espaço sideral ou marítimo, também representam uma ameaça crescente. Essas áreas são cada vez mais propensas a abusos, desde terrorismo até exploração comercial desregulada. Para o Brasil, com sua extensa costa marítima e ambições no setor aeroespacial, é fundamental adotar medidas de segurança e governança para proteger seus interesses.
O penúltimo risco é o impasse entre México e Estados Unidos, que pode abrir oportunidades para o Brasil. A instabilidade institucional no México e as incertezas sobre o Acordo EUA-México-Canadá podem levar multinacionais a redirecionar seus investimentos para o Brasil. No entanto, aproveitar essas oportunidades exige superar desafios internos, como altas taxas de juros e déficits fiscais.
Por fim, o acordo comercial entre União Europeia e Mercosul surge como uma perspectiva positiva para o Brasil em meio aos riscos globais. Com reduções tarifárias previstas para os próximos anos, o Brasil pode aumentar sua integração nas cadeias globais de valor e atrair investimentos estratégicos. No entanto, os benefícios desse acordo serão sentidos a longo prazo, exigindo paciência e planejamento.
Diante desse panorama de riscos globais, o Brasil precisa adotar uma abordagem estratégica para mitigar impactos negativos e explorar oportunidades. Reformas econômicas, investimentos em inovação e infraestrutura, e maior integração às cadeias produtivas globais serão essenciais para garantir a resiliência do país. Embora os desafios de 2025 sejam consideráveis, eles também oferecem ao Brasil uma chance de se reposicionar como líder regional e parceiro estratégico no cenário internacional.