12/04/2011 – Perfil dos ciclistas, bikeboys e frente da Mobilidade Humana

O SR. FLORIANO PESARO (PSDB) – Sr. Presidente, Srs. Vereadores, amigos que nos acompanham pela TV Câmara São Paulo. Vereador Salomão, quero cumprimentá-lo por seu discurso. Pergunto a todos se têm ideia de quantas pessoas usam a bicicleta como meio de transporte, para trabalhar na cidade de São Paulo? São, pelo menos, 214 mil pessoas, moradoras da cidade que utilizam a bike todo santo dia, para ir de casa para ao trabalho e vice-versa.

O levantamento foi feito pela Companhia do Metropolitano de São Paulo, Sr. Presidente José Police Neto, V.Exa. que é um grande incentivador do transporte coletivo e do alternativo, neste caso já não é alternativo, uma vez que para 214 mil pessoas é o transporte diário.

A pesquisa “O Uso de Bicicleta na Região Metropolitana de São Paulo”, feita em agosto de 2010, mostra que mais de 70% das viagens feitas diariamente de bicicleta na capital são para trabalhar. Se forem levadas em conta outras atividades diárias como ir à escola, fazer compras e ir ao médico, o índice sobre para 96%. Recreação mesmo, como pedalar pelos parques e pelas ciclovias da cidade, correspondem apenas a 4% das viagens, ou seja, para recreação. Na realidade, 96% das pessoas que usam a bicicleta é para trabalhar.

Os seres comuns dizem que andar de bicicleta é mais hobby do que meio de transporte, exercício nos finais de semana, perfeito para um passeio num belo parque mais próximo. Pura ilusão. O número mais expressivo são os bikers que vão ao trabalho. A mesma pesquisa apontou que a capital tem quatro polos de bikes.

Ao analisar os distritos com mais de 2 mil viagens por dia, observa-se que 70% delas estão reunidas em Grajaú (e Socorro), Vila Maria (Vila Medeiros, Tremembé e Jaçanã), Jardim Helena (Itaim Paulista, São Rafael, Itaquera e São Miguel Paulista) e Ipiranga (Cursino e Sacomã), os que andam de bicicleta.

O campeão de uso de bicicletas é o Grajaú, no extremo sul, onde são realizadas 9,4 mil viagens diárias, a trabalho. O pessoal vai trabalhar de bicicleta. Essa é a única localidade em que o motivo principal não é só o trabalho, mas assuntos pessoais como ir ao banco ou ao médico, enfim, pequenas ações que se faz no próprio bairro.

Quadro parecido ocorre na zona leste da capital. Muitos ciclistas ali, no entanto, fazem uso conjugado da bicicleta com outro meio de transporte. Prova disso é que os bicicletários, instalados na gestão do ex-Governador José Serra, nas estações da CPTM (Companhia Paulista de Trens Metropolitanos), como Itaim Paulista e Jardim Helena, ficam abarrotados durante quase todo o dia, esvaziando-se apenas no final da tarde, quando estudantes e trabalhadores descem dos trens e seguem pedalando para casa. Ou seja, é um modal complementar ao modal principal. É a bicicleta mais o trem, a bicicleta mais o ônibus, a bicicleta mais, eventualmente, o táxi.

É unânime que precisa haver mais incentivos para as pessoas começarem a perceber que a bicicleta pode virar um meio de transporte de fato na cidade de São Paulo.

Falo agora dos bikeboys. Além de ser um transporte do trabalhador de casa para o serviço, a bicicleta também virou uma opção ao uso de motos para serviços de entrega. São Paulo está vendo crescer o número dos chamados bikeboys. Aliás, hoje, esse assunto é matéria em jornal de grande circulação na cidade de São Paulo, a ampliação do número de bikeboys em detrimento dos motoboys. Inclusive, traz um apelo de sustentabilidade para essa tarefa. Para pequenas distâncias, o bikeboy ou o motoboy exerce sua função praticamente no mesmo tempo. Fica muito interessante, é mais econômico, não polui, é mais saudável e ainda do ponto de vista de marketing das empresas, tem a vantagem de ser um transporte sustentável.

Hoje, o número é impressionante. Há na cidade 2 mil bikeboys, número relativamente pequeno perto dos 200 mil motoboys. Mas são 2 mil! São 2 mil pessoas que trabalham diariamente com bicicleta a serviço de outros, contratados como terceirizados. A bicicleta oferece mais mobilidade. O ciclista por andar pelo meio-fio, se há muito trânsito, tem como descer e caminhar com a bike pela calçada, sem contar a facilidade de estacionamento. Por esses motivos, os bikeboys conseguem ser tão rápidos quanto os motoboys nas regiões de maior tráfego.

Numa cidade com 7 milhões de carros, 15 mil ônibus urbanos, 34 mil táxis e mais de um milhão de motos, precisamos encontrar alternativas para a mobilidade humana, pensando numa cidade que ofereça melhores condições de segurança para motoristas, motociclistas, ciclistas e pedestres e mais qualidade de vida para todos, evidentemente. São números que saltam da pesquisa feita pelo Metropolitano, que podem nos ajudar a refletir sobre o assunto.

No final do ano passado, eu e mais os Srs. Vereadores: Chico Macena, Ricardo Teixeira, Marco Aurélio Cunha, Netinho de Paula e Abou Anni, entre outros, criamos a Frente Parlamentar em Defesa da Mobilidade Humana, que precisamos instaurar o mais rápido possível. Trata-se de um espaço de debates para questões relacionadas à mobilidade dos cidadãos paulistanos, com destaque a pontos que afetam os cidadãos que se deslocam sem utilização de veículos motorizados, em especial, ciclistas, pessoas com cadeiras de rodas e pedestres.

O objetivo da frente é ampliar os espaços de discussão sobre o tema, que, por vezes, aparece escondido dentro da política pública de mobilidade urbana ou ainda restrito ao debate sobre movimentos migratórios. A frente busca também abordar a mobilidade, sob a ótica do planejamento urbano, da educação, da cidadania e da segurança no trânsito, ampliando a importância do conceito e da sua integração com as políticas correlatas e efetivação no município.

Historicamente, tentamos resolver os problemas de transporte metropolitano pela vertente da infraestrutura viária e não pela adoção de um modelo focado nos cidadãos e em suas necessidades. Desse modo, já é passada a hora de iniciarmos esse debate, e esta Casa tem uma grande responsabilidade no debate. A mobilidade deve se inserir num novo modelo e modo de pensar a política urbana, pautada no tripé mobilidade humana, desenvolvimento local e sustentabilidade ambiental; e as bicicletas, seus ciclistas e nossas ciclovias são peças fundamentais nesse diálogo.

Muito obrigado.