O presidente do Instituto Lula, Paulo Okamoto, e o diretor da instituição, Paulo Vannuchi, estiveram nesta terça-feira (14) na Câmara Municipal de São Paulo para explicar aos líderes dos partidos o projeto de construção do Memorial da Democracia em uma área de 4,3 mil metros a ser cedida pela Prefeitura de São Paulo na Rua dos Protestantes, na Cracolândia, região central de São Paulo. A doação precisa da aprovação da maioria dos 55 vereadores.
No dia 1º de fevereiro, o prefeito Gilberto Kassab (PSD) levou pessoalmente o projeto à Câmara Municipal de São Paulo. Okamoto disse que a construção do museu não empregará dinheiro público. "Vamos captar recursos privados para construir", afirmou o dirigente. Ele afirmou que após a construção podem ser estabelecidos convênios com universidades e museus.
Ainda não há previsão de custo do projeto. Os idealizadores pretendem lançar um concurso para selecionar propostas arquitetônicas. O museu deverá abrigar cerca de 14 contêineres de material de interesse histórico acumulado pelo então presidente Lula ao longo de oito anos de mandato (2003-2010), entre eles cerca de 250 cartas diárias, centenas de bíblias e até três tornos mecânicos que o ex-presidente recebeu de presente.
Vannuchi afirmou que o imóvel não será sede do Instituto Lula, mas de um museu interativo nos moldes do Museu do Futebol, aberto gratuitamente ao público e dedicado a resguardar a memória da luta no país pela democracia. O Instituto Lula, hoje com sede no Ipiranga, deverá se mudar para outro imóvel, ainda em estudo, mas não funcionará no mesmo endereço do Memorial da Democracia.
O pedido de cessão do terreno partiu do instituto. Lula teve uma reunião com Kassab dias antes de o projeto ser levado à Câmara Municipal. "Nós queríamos fazer o pedido em nome do Instituto Lula, e não do Instituto Cidadania. Então houve todo um trabalho de montar o instituto, registrar, depois entrar em contato com o prefeito e fazer o pedido oficial", disse Okamoto.
Segundo Vannuchi, ex-ministro da Secretaria de Direitos Humanos, o museu também fará referência a momentos históricos na luta pela democracia, como a abolição da escravatura e a campanha pelas Diretas sempre colocando a população como personagem central.
O termo prevê concessão do terreno municipal por 99 anos. Em contrapartida, o Instituto Lula deve ser aberto ao público e ter acesso gratuito a estudantes de escolas e universidades públicas, além de garantir que os documentos estejam acessíveis a instituições e órgãos públicos. O projeto é inspirado em outras experiências, como o Washington Monument, do Lincoln Memorial, nos Estados Unidos, o Instituto Fernando Henrique Cardoso e o Memorial JK.
O líder do PSDB na Câmara Municipal, Floriano Pesaro, questionou o projeto e disse que ele precisa ser melhor analisado. Ele disse que ficou surpreso quando viu o prefeito Kassab ir pessoalmente à Câmara entregar o texto aos vereadores.
"O momento político é inoportuno. Queremos discutir o mérito da cessão de um terreno público ao Instituto Lula. Outra preocupação é com relação ao valor e com relação às contrapartidas. Tenho de destacar a posição de meu partido. Há visões particulares sobre as quais divergimos em relação à democracia", afirmou Pesaro. "Quero deixar claro que o PSDB tem receio da instrumentalização politica e em relação ao interesse público", afirmou Pesaro.
Agnaldo Timóteo (PR) saiu em defesa do projeto. "Lula não é PT. É personagem político à parte, acima do PT e do PSDB." Wadih Mutran (PP) fez coro. "Ele merece essa homenagem", afirmou.