Crianças no mundo das drogas

Sr. Presidente, muito obrigado. Nobres Vereadores, amigos da TV Câmara São Paulo.

Quero trazer hoje aqui uma notícia estarrecedora que saiu publicada na edição de hoje, terça-feira, do jornal O Estado de São Paulo. Cada vez mais, cresce o número de crianças que entram no mundo das drogas, na mesma proporção que diminui a faixa etária destas crianças.

De acordo com a reportagem, o crack e a cocaína são as portas de entradas destas crianças neste mundo de degradação, tráfico e violência. Antes, a iniciação pelo crack estava restrito aos usuários mais pobres, enquanto a cocaína era usada pela classe média. Hoje, não existe mais lógica: o início nas drogas pode ser dar tanto pelo crack quando pela cocaína. Tanto faz.

Pela lógica de mercado do tráfico de drogas, era preciso ampliar o consumo. E o crack não poderia ficar restrito a esta parcela da população. Nem a cocaína aos mais endinheirados.

A cocaína é hoje a droga preferida de estréia da criança nas drogas. Profissionais da clínica Jovem Samaritano, em Cotia, constataram isso: a cocaína foi citada pelos jovens como o motivo que os levaram para lá. E cada vez mais cedo. A entrada nas drogas se dá hoje com crianças de 13 anos, em média.

O número de atendimentos também aumentou. Em dois anos, dobrou o número de crianças em tratamento intensivo nos centros estaduais de atendimento. De 2006 para cá, houve um aumento de 107%.

O poder público – estadual e municipal – ainda engatinha em políticas públicas para tratar da dependência química juvenil. Não existia nada há alguns anos.

Há pouco mais de dois meses, o governador Serra inaugurou, em Cotia, a primeira clínica pública para a internação de jovens dependentes de álcool e drogas.

A saída encontrada pelo governo do Estado – unir poder público e iniciativa privada – pode ser o grande diferencial. Secretaria Estadual de Saúde e Hospital Samaritano cuidam, juntos, destes jovens.

Nesta terça, o Governo do Estado inaugura uma nova unidade, desta vez em São Bernardo e voltada para adultos. Na semana, foi inaugurado o Catavento, onde existe um espaço lúdico de orientação na prevenção ao consumo de drogas.

E para crianças? Não tem quase nada. As primeiras iniciativas foram as parcerias que firmamos com o Projeto Quixote e o Projeto Equilíbrio, que atendem crianças que vivem nas ruas e estão comprometidas com alto grau de drogadição.

As crianças que estão nas ruas são os casos mais crônicos, os mais graves. São crianças que perderam totalmente seus vínculos familiares e comunitários e estão seriamente comprometidas pelas drogas. Portanto, o resgate dessas crianças é muito mais complexo, mas não impossível.

O poder público precisa traçar diretrizes para políticas antidrogas, pensando em três eixos fundamentais: prevenção, tratamento e repressão.

A Prefeitura tem também uma rede de CAPS Álcool e Drogas e o CAPS Infantil, integrados a outros serviços, como a AMA e a práticas alternativas de prevenção à saúde.

Participei da concepção e do desenvolvimento do projeto dos CAPS e de Repúblicas Terapêuticas. Era uma das pautas de conversas da equipe da Assistência Social com a Saúde.

Esta rede é importantíssima, pois as pessoas que vivem nas ruas da cidade – sejam elas crianças, adolescentes, jovens e adultos – têm envolvimento com álcool e drogas e, a maioria, transtornos mentais severos e permanentes.

Os transtornos mentais perfazem cerca de 14% da sobrecarga das doenças que afetam a humanidade, mas recebem apenas 2% do que é direcionado para o financiamento da saúde.

Apesar de termos avançado de maneira inédita, na oferta de atenção especializada para esta parcela, ainda falta avançar. Nas minhas propostas como vereador, me comprometi a defender e acompanhar a ampliação da rede de atenção em saúde mental para crianças e adolescentes, principalmente onde a escassez de serviços é alarmante.

Muito obrigado.