14/12 – Dia Municipal em Memória às Vítimas do Holocausto

O calendário judaico é uma lição de História: Pessach conta sobre o Êxodo do Egito; Purim conta sobre os judeus na Diáspora (sob jugo do Império Persa); Sucot relembra sobre os 40 anos no deserto; Iom Haatzmaut comemora a história da criação do Estado de Israel. Se o povo judeu é denominado o Povo do Livro, pode também ser considerado o povo da História. A memória é parte integrante da sua identidade e elemento fundamental de sua continuidade.

Elie Wiesel sempre  admirou a  resiliência do povo judaico. Wiesel, o “mensageiro para a humanidade”, considera que a persistência multimilenar deste povo deve-se ao seu desejo característico de lembrança. A Hagadá de Pessach frisa a necessidade de recordar e manter viva a memória coletiva: “ve higadetá le binchá“ e contarás a teu filho”. Na mesma narrativa, adiante, o texto recomenda de forma veemente: “Em toda geração deve o homem considerar a si mesmo como se tivesse saído do Egito”.

Pois bem, a tradição nos ensina a contar e sentir a história da escravidão, para que não sejamos mais escravos. Consequentemente, só poderemos evitar outro Holocausto se nos dedicarmos a propagar a lembrança daqueles que sofreram com a atrocidade nazista.

Minha família também foi vítima dos horrores da Guerra. Em abril de 1939, meus avós judeus (Humberto Pesaro e Gabriela Cohen Pesaro) tiveram que partir às pressas da Itália e embarcaram no primeiro navio, com meu pai, Giorgio, na época com 3 anos de idade, nos braços. Outras famílias Camerine, Muscati e Bolafi também vieram para o Brasil. Todos já sofriam com as leis raciais na Itália, como mostrou em seu livro “1938 – um raio de céu azul. As leis raciais na Itália” a escritora Edda Bergman, que por sinal veio no navio com o meu pai. A perseguição aos judeus foi implacável. Não é possível esquecer.

Hoje, aqui, eu, a comunidade judaica e políticos de bem como o Prefeito Gilberto Kassab viemos para fazer valer a História, para mais uma vez exaltar a necessidade de recordar, estamos aqui para que nossos pequenos, nossos jovens e nossos adultos tenham dias demarcatórios que os façam lembrar até onde a loucura de uns e a indiferença de muitos podem levar a Humanidade.

Hoje viemos comemorar o caráter cosmopolita de nossa cidade São Paulo, que se insere nos propósitos das Nações Unidas, determinando oficialmente uma data, o 27 de Janeiro, como Dia em Memória às Vitimas do Holocausto.

Nada mais pertinente do que escolher o dia 27 de janeiro como o Dia em Memória às Vítimas do Holocausto. Foi  nesse  dia, há quase 65 anos, que ocorreu a libertação de Auschwitz e foi, a partir da libertação dos campos de concentração, que o mundo começou a  ter noção da enormidade da barbárie cometida.

É no aniversário desta libertação que nós devemos lembrar especialmente das vítimas deste período de exceção e de loucura humana, em que a razão deixou de existir. É a recordação da bestialidade, através de suas imagens, testemunhos e eventos comemorativos como este que sancionamos hoje, que será o veículo para evitar que as pessoas esqueçam.

Quando o Supremo Comandante das Forças aliadas, General Eisenhower, encontrou as vítimas dos campos de concentração, ficou absolutamente estupefato pelas cenas inimagináveis de desumanidade e então determinou como fundamental o registro da tragédia, para que a memória se eternizasse.

Ele disse:
“Que se tenha o máximo de documentação – façam filmes – gravem testemunhos – porque, em algum momento ao longo da história, algum idiota  vai se erguer e dizer que isto nunca aconteceu”.

A comunidade judaica, vítima primordial deste episódio da erosão da humanidade, tem sido incansável em fazer lembrar ao mundo o desastre do Holocausto. Quando teve que conciliar a enormidade da barbárie para tentar explicar a inexplicável morte de 6 milhões de judeus no período da nacional-socialista, o amargo sentido dessa verdade impulsionou esta valente comunidade a buscar um caminho.

Foi então que o compromisso bíblico para com a lembrança ganhou ainda mais significado. A lembrança do Holocausto, os relatos e depoimentos dos sobreviventes, o registro de todas as vítimas, este é o caminho para que honremos os sacrifícios acontecidos.

Hoje, reafirmamos que SIM, vamos fazer o possível e o impossível para que TODOS lembrem e conscientizem o mundo. Só assim poderemos prevenir uma próxima tragédia de proporções outrora inimagináveis.

Pelos  milhões assassinados nos guetos e nos campos de concentração. Pelos que vagaram pelos bosques e pelos que se esconderam em sótãos e em porões.

Pelos que buscaram refúgio no seio de outra religião ou pelos que esqueceram seu Deus. Pelos que perderam sua casa, sua dignidade e sua esperança.

Pelos que foram enforcados publicamente para que todos vissem e temessem.  Pelos que foram sujeitos a experimentos nas mãos de bestas selvagens chamadas de médicos ou cientistas.

Pelos que morreram de fome e de sede, sufocados até a morte em vagões de carga ou nas câmaras de gás, mortos a tiros, enterrados vivos, ou cremados.

Pelos que santificaram o nome de Deus e do povo de Israel, recusando-se a se render, lutando até a morte. Pelos que permaneceram vivos para reviver os horrores, dia a dia, momento a momento.

Hoje, viemos dizer NIZCOR! Nós nos lembraremos das vítimas de ontem para que não existam mais infames genocídios no amanhã.