03/05/2011 – Discurso José Renato Pécora

O SR. FLORIANO PESARO (PSDB) – (Sem revisão do orador) – Sr. Presidente, Srs. Vereadores, hoje é um dia de luto na cidade de São Paulo. No ano passado, esta Câmara ofereceu uma Salva de Prata ao Teatro Arena, mediante Projeto de Decreto Legislativo aprovado por todos os Srs. Vereadores da Casa. Ofereceu também ao Sr. Roger Levy, um dos fundadores e principais articuladores do Teatro Arena, um Título de Cidadão Paulistano assim como fez ao Sr. José Renato Pécora.
Foram três Projetos de Decreto Legislativo, homenageando duas das mais importantes figuras da classe artística paulista e brasileira, um dos mais importantes teatros do País, um teatro que fez história, um teatro que fez política, como já não se faz mais nos dias de hoje.
Nesta manhã, foi enterrado no Cemitério do Morumbi o diretor e ator teatral José Renato Pécora, que faleceu na madrugada de ontem devido a um enfarte, aos 85 anos, pouco depois de deixar o palco, onde estava com a peça Doze Homens e Uma Sentença.
Ciente da importância da perda para a Cidade, o Sr. Prefeito Gilberto Kassab decretou luto oficial de um dia. O velório, como não poderia deixar de ser, ocorreu no Teatro Arena.
O Teatro Arena foi fundado por José Renato e Roger Levy em 1953.
Em maio do ano passado, em uma cerimônia, entreguei a eles – José Renato e Roger Levy – a Medalha Anchieta e o Diploma de Gratidão da Cidade de São Paulo e uma Salva de Prata ao Teatro Arena. Foi um privilégio. Fizemos, nesta Casa, uma sessão solene maravilhosa em homenagem aos 55 anos do Teatro Arena. Foi um momento emocionante, a classe artística de São Paulo estava presente em peso em um franco reconhecimento a esse paulistano que inovou na arte de representar em plenos anos 50. Não testemunhei os primórdios do Teatro Arena, mas sua nova forma de conceber o teatro nacional, valorizando a cultura da terra e aproximando o público dos grandes clássicos, conquistou o meu respeito e a minha admiração.
Nobres Vereadores, ano passado, quando aqui estiveram Roger Levy e José Renato, um com 85 e outro com 84 anos, combinamos de homenagear os 55 anos do Teatro Arena – seria uma homenagem de todos nós, da Casa inteira. Mantivemos um contato rápido, mas bastante intenso. Estive com Zé Renato sete, oito vezes nesta Casa, e por duas vezes no Teatro Arena. Roger Levy passou a ser meu amigo na rede social Facebook. Aos 85 anos, está lá no Facebook. Um dia me escreveu pela rede social que não imaginava que pudesse fazer novos amigos, novas amizade aos 85 anos. Mais feliz estou eu por poder me tornar amigo dessas duas personalidades, de duas figuras emblemáticas que fizeram a história da cultura, do teatro e da política na cidade de São Paulo.
O Teatro Arena foi revolucionário no sentido de trazer grandes novidades, como a aproximação física entre atores e plateia. Os atores representavam em um palco em forma de arena, daí o nome, quase sem cenários, em meio ao público. O que importava era a interpretação do ator, não o cenário. Essas e outras inovações se devem especificamente a José Renato Pécora. O grande crítico teatral Décio de Almeida Prado foi professor de Pécora na Escola de Arte Dramática, reconhecendo nele um revolucionário do teatro cuja semente está no cerne do atual teatro brasileiro.
Não há diretor ou ator contemporâneo que não tenha bebido da rica fonte que é o Teatro Arena, que não tenha se inspirado nesse espaço no qual os atores podiam arriscar na própria pele uma dramaturgia autenticamente brasileira, como foi a encenação de Eles não Usam Black Tie, em 1958, de Gianfrancesco Guarnieri.
Notem sua atualidade. Nobre Vereador José Américo, homem da cultura, sabe a que me refiro.

– O Sr. Presidente faz soar a campainha.

O SR. PRESIDENTE (José Police Neto – PSDB) – Acabo de ser informado de que o nobre Vereador Gilberto Natalini abre mão de seu tempo, de modo que V.Exa., nobre Vereador Floriano Pesaro, poderá cumprir os 15 minutos regimentais.

O SR. FLORIANO PESARO (PSDB) – Muito obrigado, Presidente Police Neto. Aproveito para agradecer ao Vereador da minha bancada, PSDB, Vereador Claudinho de Souza, e ao nobre Vereador Natalini, pela cessão de tempo. O nobre Vereador Natalini seguramente entende a importância desse discurso para todos nós, especialmente para a cultura paulistana.
Conforme dizia, nobre Vereador José Américo, o conteúdo das produções teatrais do Arena é um retrato histórico do contexto social e político do País, em especial nos anos 60. V.Exa. acompanhou a época de perto. Viveu os anos 60, e, provavelmente, deve ter vivido intensamente o momento político brasileiro à época. O Arena, naquele período conturbado da história do Brasil, teve grande atuação no cenário político. Reuniu artistas comprometidos com o teatro político e social, nos anos mais sombrios da nossa história, os da ditadura militar.
No dia da sessão solene em homenagem ao Teatro Arena, realizada ano passado, contamos com a prestigiosa presença da atriz Eva Wilma. V.Exa., Presidente Police Neto, lembra-se disso.
Eva Wilma veio a esta Casa, acompanhada de outros artistas, e disse-me: “Vereador Floriano, possivelmente esta seja a mais importante homenagem que o Teatro Arena já recebeu nos seus 55 anos de história”.
A Câmara de São Paulo, nobre Vereador Atílio, transformou-se no palco do Arena, com a diferença de que, naquele momento, onde V.Exas. estão acomodados no momento, ficaria o público; mas aqui, conosco, estiveram os artistas. Essa era a proximidade que o Teatro Arena proporcionava.
O caráter irradiador de cultura para São Paulo e para o País atribuído ao Teatro Arena repercute até hoje nas produções teatrais. Com esse mesmo espírito de inovação, Pécora, em 2002, assumiu o espaço cedido pela Federação dos Trabalhadores Cristãos do Estado de São Paulo e criou o Teatro dos Arcos, na Bela Vista. Lá, dirigia o grupo Casa da Comédia, que buscava um teatro engajado na discussão de problemas atuais, principalmente por meio de comédia. Também promovia cursos de teatros para jovens, adultos e idosos. Proferia palestras, participava de debate e realizava um repertório de peças focadas em histórias não oficiais do País, dando constante contribuição para a cultura nacional. E era o próprio José Pécora que coordenava o Teatro do Arcos, onde tive a oportunidade de estar diversas vezes. Em relação a esse teatro, localizado no Bexiga, bairro próximo à Câmara, e onde tenho forte atuação política, o que sempre me impressionou foi o envolvimento da própria comunidade. Trata-se de um teatro aparentemente regional, mas que dissemina ideias, propostas e ações na área de cultura e de política cultural para todo o País.
Sr. Presidente, com a Salva de Prata concedida ao Sr. José Renato Pécora em maio do ano passado, a Cidade de São Paulo reverenciou quem muito fez pela cultura paulistana e brasileira. Agora, devemos todos nos render a outra homenagem a este pioneiro da arte dramática, requerendo, neste momento, o voto de pesar por seu falecimento, uma perda inestimável para a família, os amigos, a cultura paulistana e para o Brasil.
Solicito a V.Exa., Sr. Presidente, um minuto de silêncio em homenagem a José Renato Pécora.
O SR. PRESIDENTE (José Police Neto – PSDB) – É regimental o pedido de V.Exa. Peço aos Srs. Vereadores que, em pé, prestem homenagem a José Renato Pécora, homenageado nesta Casa com a Salva de Prata e também reconhecido como Cidadão Paulistano.

– Minuto de silêncio.