28/05 – Deslize da diplomacia brasileira

O SR. FLORIANO PESARO (PSDB) – Sr. Presidente, Sras. e Srs. Vereadores, telespectadores da TV Câmara São Paulo e público presente. Trago a esta Casa – o quinto maior parlamento do mundo, tudo o que falamos se espalha pelo Brasil e em alguns casos, pelo mundo. Por isso a importância, em alguns momentos, trazermos para o público um debate nacional. São Paulo é uma cidade internacional, de imensa influência nos destinos do Brasil e o Brasil possui influência econômica e cultural no mundo.
Mas, pergunto para que possamos juntos – especialmente com os nobres vereadores do PT – responder: o que é será que acontece com a diplomacia brasileira? Há muito pouco tempo passamos pelo quase vexame de receber um déspota belicista, o Presidente do Irã, Mahmoud Ahmadinejad. Foi um susto para o povo democrático do Brasil, mas o juízo fez-se valer e conseguimos impedir que o Presidente do Irã visitasse o Brasil.
Nesta semana, o Itamaraty numa aposta errada sofreu mais uma derrota diplomática com o fracasso da candidatura da ministra Ellen Gracie, do Supremo Tribunal Federal, a um posto no Órgão de Apelação da Organização Mundial do Comércio.
E agora o Brasil prefere preterir a nomeação de seu representante legítimo, o engenheiro Márcio Barbosa, para apoiar outro candidato estrangeiro – o egípcio Farouk Hosny – para dirigir um órgão da importância da Unesco – organização da ONU para a colaboração internacional no setor de educação, ciência e cultura, e que o Brasil sempre teve uma forte atuação. Agora, o Governo Lula abre mão desta forte atuação para um egípcio. E, pior, com todo o respeito aos egípcios – e tenho muitos amigos desta nacionalidade – mas, lamentavelmente, este candidato apoiado pela diplomacia brasileira tem um histórico confirmado de antissemitismo. Citando carta aberta de três dos intelectuais mais respeitados da França, o senhor Farouk Hosny afirma que “Israel nunca contribuiu para a civilização, em qualquer era, pois sempre se apropriou de contribuições de outros.”
O mesmo senhor, ao responder a um deputado do Parlamento Egípcio que estava preocupado que livros israelenses pudessem fazer parte do acervo da Biblioteca de Alexandria, declarou: “Queime estes livros; se ainda houver algum por lá, eu mesmo os queimarei diante do senhor”. Não esqueçamos que pessoas com afã de incendiar livros, evoluem em sua loucura e acabam gostando de queimar, às vezes, até pessoas. Como confiar um dos mais importantes cargos de responsabilidade cultural do planeta para alguém que disse que Israel era “auxiliado” em suas intrigas obscuras pela infiltração de judeus na mídia internacional e por sua diabólica habilidade de “espalhar mentiras.”
Este é o cidadão que o Governo Brasileiro está indicando e apoiando para fazer parte como representante da Unesco. Nesta empreitada de protesto contra a candidatura de Hosny Farouk, cerramos frente com pessoas do calibre do presidente francês Nicolas Sarkozy, da secretária de Estado Hillary Clinton e de vários governos asiáticos, europeus e da África.
O Brasil certamente não quer a nomeação de uma pessoa perigosa, um incitador de idéias racistas, contumaz apologista do ódio e terror. E tampouco concorda em menosprezar um cidadão seu, legítimo postulante ao cargo. Este homem é o engenheiro Márcio Barbosa, que já é o diretor-adjunto da Unesco e foi diretor do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (lNPE). Segundo funcionários do governo e parlamentares que acompanham sua trajetória, um dos méritos de Márcio Barbosa, junto com o atual diretor-geral do organismo – o japonês Koïchiro Matsuura, foi trazer de volta à Unesco os Estados Unidos, que estavam afastados desde os anos 80. O caminho natural para a direção-geral da Unesco deveria favorecer o Brasil, pois criamos expertise em várias áreas, como o programa Bolsa-Escola e a pesquisa e o uso bem sucedido de alternativas energéticas – caso do etanol.
Como bem disse o presidente da Comissão de Relações Exteriores do Senado, Eduardo Azeredo: “Lamento o Itamaraty ter tomado essa decisão. Havia chances reais de o Brasil dirigir um órgão da importância da Unesco. O Governo deveria apoiar um dos brasileiros.”
O tempo urge, e o tom dos protestos deve acentuar-se para evitar tal descalabro de nossa diplomacia. Por que estamos preterindo um brasileiro? Não é possível? É impressionante a falta de articulação do Governo Brasileiro em ocupar espaços que vão trazer benefícios para o Brasil. A Unesco financia projetos sociais, culturais e de desenvolvimento sócio-econômico. É por isso que tenho preocupação. Mesmo assim, estamos preterindo um brasileiro da envergadura do engenheiro Márcio Barbosa, que já era diretor-adjunto da Unesco e tinha o apoio de vários países aliados do Brasil. Esta é a política externa do Brasil uma política contra os interesses nacionais.
Muito obrigado.